"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Seja bem vindo 2011!

"Devemos viver, e não simplesmente existir"
(Plutarco)

Que saibamos, portanto, VIVER em 2011. É apenas isto que desejo a mim e a você... que vivamos cada dia da melhor maneira possível e intensamente.

Happy New Year to all... 

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Lembranças para Esquecer...

Estou cansado. Enquanto jovem não me cansava da loucura, euforia das noites banhadas pelo doce sabor das bebidas. Um uísque a mais, com ou sem gelo, tanto fazia, a mágica estava em ir além antes do amanhecer.
Passou o tempo. Despedi-me da noite, cumprimentei o dia. Sinto-me inútil, estático. A vida escapa entre os dedos qual água ligeira entre margens. E o que faço? Fico aqui, quieto, cheirando a mofo, morrendo aos poucos. Se por alguns instantes permito que o pensamento voe, logo o peso do corpo sofrido o traz ao chão.
Sou resto daquilo que fui, lembrança do que tive, saudade do que era. Tenho uma janela diante da solidão e é só.
Vejo tudo, ouço alguma coisa e não digo nada. Recolhi-me no silêncio dos pensamentos e abracei a dor que está em mim.
No colo da saudade é impossível conter as lágrimas. Sou ancião na pele enrugada, não aprendi a envelhecer. Já fui rosa exuberante no jardim, agora sou galho seco recoberto por espinhos. Sei que a morte é destino certo, não a enfrento, aguardo que venha e me leve.

Rogo para que o tempo seja benevolente fazendo-me esquecer da vida. Que a tarde eu não lembre daquilo que vi pela manhã, para assim dopar a tristeza e enganar-me até o fim.



Valquiria Rigon Volpato

2008

domingo, 26 de dezembro de 2010

Deixe

Deixe que eu chore,
Espere ali na porta.
Não olhe para mim.

Deixe que eu sofra,
Pode me esquecer aqui.
Vai, vai logo.

Deixe que eu ame,
E, ainda que eu me engane,
Deixa assim.

Deixe que eu sonhe,
Porque nos sonhos não há dor.
Apenas ilusão de um sonhador.

Deixe que eu fuja,
Fique em casa, não me procure.
Decidi: não vou voltar.

Valquiria Rigon Volpato
29 de junho de 2010.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Homem: Prisioneiro de si

Estar encarcerado não significa que haja paredes ou grades ao redor. O cárcere é proveniente, também, das prisões que o próprio homem cria para si, seja em jaulas ou mesmo em sentimentos. Nem todo cárcere é forçoso; há aqueles que preferem as trancas de um “seguro” cárcere, às asas de uma “temida” liberdade.
Ser livre também não significa estar fora das grades, longe de paredes, imune às prisões. Ser livre, e mais, ter liberdade, é sentir a alma fresca, como sentir entre os cabelos o passar dos dedos da brisa suave. Liberdade, assim como o cárcere, é um estado de espírito, onde a autoridade de tirá-la ou concede-la cabe a si.
Cárcere e liberdade são paradoxos, como o são amor e ódio. Há quem diga que os sentimentos paradoxais se atraem, se complementam numa órbita de possibilidades. Um prisioneiro só almeja liberdade quando julga não tê-la, quando ao longe vê o sol pequeno esconder-se no horizonte, através de uma estreita janela, de sua cela ou de sua alma.
Na agitação da contemporaneidade, os homens vivem numa grande prisão, e não importa para onde vão, sempre estão presos à materialidade que julgam ser indispensável à sobrevivência. Desaprenderam a conviver com a natureza, fazendo dela sua mais ilustre prisioneira, entretanto, se esqueceram que não podem caminhar além de suas pernas, e aos poucos ela recupera sua liberdade. 
Se toda canção de liberdade vem do cárcere, é certo que, neste momento, muitos estão cantando, enquanto outros jamais aprenderam a cantar. Engraçado é que nessa vã filosofia humana, há tentativas frustradas de se determinar o indeterminável, decifrar o indecifrável e tudo isso porque o homem busca liberdade, pois sabe que aí está o seu pior cárcere: o medo. Medo do desconhecido, por só saber lidar com aquilo que conhece.
Não haveria liberdade se não fosse o cárcere e vice-versa. A dependência é do ser humano, assim como as amarras também é ele quem cria. O homem, nada mais é, do que prisioneiro de si.

Valquiria Rigon Volpato
Texto vencedor do  Concurso de Textos - FDCI
Ano 2007

Inocência...

Tac! Estalei os dedos! Todos quietos olhando para o teto sem se mover.
Trim! Trim! Toca o telefone! Não se sabe o nome de quem vai atender.
Psiu! Psiu! Psiu! O que é isso? Que som mais esquisito! Quem está aí?
Xiu! Xiu! Alguém está voltando, saindo do encanto! É preciso correr.
Aha! Aha! Aha! É um riso! Parece um menino, deve ser um moço, não se sabe.
Crac! Caiu no chão, de cima do fogão a panela de barro. Quem é o dono?
Trec! Vão abrir a maçaneta! Será uma surpresa? Nem vão deixar gorjeta.
Ei! Ei! Ei! Esses são gritos, vêm do infinito ou de outro lugar qualquer.
Ploft! Uma gota d’água que escorre pela escada e não se sabe para onde vai.
Xuá! É chuva! Vai molhar a todos! Aos inteligentes e também aos bobos.
... E isso agora? Não se ouve nada... A armadilha está armada.
... ... Pufff! Foi pego, tão indefeso o pobre animal.
Tac! Os dedos estalados, o telefone tocando e não tem ninguém para atender. Parece que alguém vem vindo, mas é só um ruído, é melhor esperar. Está se ouvindo um riso lindo, um jovem riso! É o riso sincero de um menino que vê a mãe cozinhando em seu fogão a lenha com suas panelas de barro. Esperem! Quebraram-se as panelas! Vieram correndo para ver. Estão abrindo a porta, querem socorrer. Gritavam lá de dentro, que o menino desatento ficou perto do fogão. A mãe está desesperada, sentada na escada, suas lágrimas vão ao chão. Um gemido de dor é mãe em agonia. Está chovendo, estão correndo... Tudo acabou. O menino pequeno está caído. Tapem o ouvido! A criança morreu. Indefeso foi morto o pequeno moço, que aguardava o almoço ao lado do fogão.

Valquiria Rigon Volpato
28 de julho de 2007

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Cadê você coração?

Cadê você coração?
Faz um tempo que não te ouço...
Fala comigo coração,
Por que estás tão quieto assim?

Cadê você coração?
Parece até estar num calabouço...
Mexa-se coração,
Por que estás tão imóvel assim?

Cadê você coração?
Aquele som reboando em meu peito...
Acorda coração,
Por que estás dormindo assim?

Cadê você coração?
Parou de repente de bater...
Volta coração,
Por que estás tão perdido assim?

Cadê você coração?
Esquece esse sofrimento...
Refaça-se coração,
Por que estás desmontando assim?

Cadê você coração?
É só silêncio...
Sorria coração,
Por que estás chorando assim?

Cadê você coração?
... ... ...está bem, eu me calo.
            ... ... ...recupere-se coração.
... ... ...apenas me avise quando quiser voltar.

Valquiria Rigon Volpato
28 de junho de 2010.

Moça

Moça não me olhe assim, não faça isso comigo,
Porque não sabes o amor em brasa que trago em meu peito,
E quão pulsante é o sangue que corre em minhas veias cada vez que a vejo.

O que tenho a dizer é apenas isso, do amor que sinto,
Do sentimento que já não posso esconder.
Só peço, moça, que não o desdenhe,
Pois não serei capaz de compreender.

Se escolhi dizer,
É porque não quero o sofrer em silêncio (em silêncio).
Sou feito de impulsos e agora o que quero,
É aventurar-me em teus cabelos.

Quero para sempre esse teu riso longo,
Ainda que brevemente (pela vida inteira).
Quero aquecê-la em meus braços (em meus abraços),
Deitada em meu peito, adormecê-la com um beijo.

Ah, bela moça, não me olhe assim.
Não faça isso comigo.
Porque no teu olhar me perco,
Mas em teus braços... me encontro (para sempre).

Valquiria Rigon Volpato

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Coisinhas do cotidiano

Graças a Deus o cotidiano nos dá a oportunidade de nos corrigir percebendo o detalhe no erro do outro. E quando se está disposto a aprender, melhor escola não há. Importante, também, identificar “certo” e “errado”. Coisa simples: aconteceu que um homem estava em seu carro, parado sobre a ponte (sinal fechado), as 08h, fumando um cigarro. Sinal abriu; homem abriu o vidro do carro; meio cigarro ainda fumegando foi caindo e depois ficou rolando pelo chão. Homem foi embora, assim como todos os outros por ali, só o cigarro ficou...

Avenida movimentada, centro da cidade, quase meio dia, sol quente e gente faminta. Pedestre apressado. Sinal aberto (para os carros) e faixa a uns três metros. Pedestre ignora o sinal vermelho (para ele) e também a faixa. Corre de um lado para o outro, passa veloz o pedestre. Minutos depois (apenas dois), sinal fechado (agora para os carros), trânsito parado (assim como a faixa). Cadê o pedestre? Já se foi... “Bom dia!”. “Bom dia?”. Sem resposta. Cara feia e um monte de ordens. Nada de bom, apenas um início ruim. Boa intenção veio, mas educação (que é bom) ficou em casa. Que pena... Caminhando pelas calçadas uma mulher seguia a minha frente. Com sede, ela conseguiu um copinho d’água, e aos poucos se refrescava. Acabou a água. Não deve ter acabado a sede. Lixeira logo à frente, mas espere! Leve o copinho! Não o deixe aqui no chão...
Coisinhas simples, coisinhas do cotidiano, mas que são tão difíceis de reparar, tão difíceis de acertar.

Esses dias estive no Rio de Janeiro, cidade grande. Parei no ponto para esperar o ônibus: “Tão levando muita coisa lá na praia. Arrastão. Era fácil resolver o problema, só precisava ter um armário com uma chabinha e aí o povo guardaria as coisas lá dentro”. Sabedoria popular de aparentemente 70 anos, pele morena e lenço no cabelo. Aprendizado in natura... Viva o cotidiano!

Faltam duas semanas para terminar 2009. Isso significa que para muita gente restam duas semanas para cumprirem as promessas feitas para este ano. Não é bom prometer aquilo que não se pode cumprir, ainda mais quando as promessas querem dar passos maiores que as pernas. Ainda mais quando nem sempre conseguimos as coisinhas fáceis do cotidiano. Para 2010, bom mesmo é prometer nada; assim, cada realização será uma conquista. Preocupo-me com algumas promessas ainda não cumpridas (alguém sabe do que estou falando?), mas isso é assunto para depois. Para hoje bastam às simplicidades do dia a dia. Coisas que devemos aprender para ensinar.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Se política fosse igual ao futebol...

As semifinais da Taça Guanabara surpreenderam alguns torcedores. Primeiro foi a vitória angustiante do Vasco contra o Fluminense; o jogo terminou quando o batedor do Flu, de tão boa vontade, acertou o travessão: Era o Vasco na final. Depois, na última quarta, Botafogo e Flamengo queriam uma vaga contra o Vasco. Jogo bom, muita participação da torcida e... deu Botafogo. Finalzinho do segundo tempo, um desvio, um gol e já não dava mais para o Mengão. Também na quarta, teve rodada complicada do Paulistão (principalmente para o técnico Muricy Ramalho, ex Palmeiras, porque a demissão foi o que lhe deram de recompensa pela derrota do time: Palmeiras 1 x 4 São Caetano).

Mas futebol é assim mesmo, cheio de surpresas e, favoritismo, definitivamente não existe. O troca-troca de técnicos é uma prática normal entre os clubes: treinador que vai mal não ganha jogo, não agrada a torcida, não agrada aos dirigentes e, sem dó, é demitido / substituído. Ninguém quer ver seu time perder e, ainda que a culpa não seja diretamente do técnico, ele se torna o maior responsável. Diz o velho ditado que: “Em time que está ganhando não se mexe”. Contudo, em time que está perdendo, as mudanças são prioridades.

Outro ditado diz que: “Política, futebol e religião não se discutem”. Está certo. Por isso (hoje) não vou discutir. Basta-me traçar um paralelo. Se política fosse igual ao futebol, imagine quantos administradores teríamos em um mandato?! Em pouco mais de um ano o Palmeiras teve três técnicos. Isso quer dizer que, em quatro anos de mandato, teríamos doze novos representantes (sem contar com o time do legislativo). O problemazinho chato da política é que, ao contrário do que acontece no futebol, a torcida costuma não se manifestar, e aí, parece que o “time do executivo” está agradando (mesmo que não ganhe uma partida há muito tempo ou sequer empate um jogo). Segue, assim, o jejum de títulos; o time fica apático, e quando aparece na mídia, certamente, é porque lá vem notícia ruim (os jornais agradecem).

Manter-se na liderança não é tarefa fácil. É preciso muita concentração, colaboração e sintonia entre os jogadores e seu treinador. Um passo em falso pode ser fatal e o time pode passar de um extremo da tabela ao outro em apenas algumas rodadas. Se o legislativo e o executivo não estiverem em sintonia (passou da hora de resolver alguns problemas: ponte caindo daqui, rachid dali, cargos comissionados que não existem acolá... qual é?), trabalhando em conjunto, empenhados para que o time Sociedade Cidadã Cachoeirense vença, o que se verá é muita decepção e pouco aproveitamento. O clube não pode viver com medo do rebaixamento, porque se acontecer, infelizmente não adianta chorar...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Rapidinho, hoje... Bem diferente do trânsito de Cachoeiro

Como diz o título deste artigo, nada de muitas palavras por hoje. Apenas algumas considerações sobre o trânsito de Cachoeiro, que, pelo amor de Deus, está cada dia mais lento. Nos horários de pico é impossível trafegar pelo Centro, nas imediações da Unimed e em ruas que captam este volume de carros e o distribui para os bairros periféricos. Mas isto deixou de ser novidade há algum tempo. Muitos já expuseram suas opiniões a este respeito, com o mesmo ou superior grau de insatisfação que hoje exponho. Decidi trazer este assunto à tona novamente para enfatizar algo que, infelizmente, também não é novo: o tráfego de caminhões pelas ruas centrais da cidade, apesar dos gastos com a (ainda não concluída, porque faltam ajustes e reparos) Rodovia do Contorno, permanece e atravanca ainda mais o trânsito, que ultimamente está insuportável. Algumas perguntas nascem estéreis, pois jamais saberemos quais serão suas respostas. 

Entretanto, outras perguntas, essas férteis, acabam se perdendo nas dúvidas e nas más explicações, ficando, assim, também sem respostas. É o caso da Rodovia do Contorno. Para que gastar dinheiro proveniente dos cofres públicos com a construção de um anel rodoviário, se boa parte dos caminhões continua a trafegar pelo centro da cidade? A resposta para essa questão poderia ser simples (talvez seja), mas o problema está em encontrá-la, até porque a solução para este caso, irá desencadear outros tantos, que ficarão igualmente sem respostas. Por isso que a cada novo artigo de domingo, insisto para que fiquemos atentos; para que saibamos analisar e cobrar de nossos administradores explicações, soluções ou ao menos indicativos daquilo que será feito, desfeito, projetado, seja o que for. Nós somos merecedores por direito de respostas. Nossas dúvidas não podem morrer no nascedouro.

Um alerta: Conversando com um amigo, eu dizia a ele que pensava em escrever sobre o trânsito de Cachoeiro neste domingo e ele me pediu que não esquecesse de mencionar os estacionamentos irregulares que estão acontecendo nas calçadas do Shopping Sul. Calçada não é para carros e sim para pedestres... Ainda sobre problemas com estacionamentos na cidade, é bom lembrar que, em algumas ruas, a fila de carros estacionados impede o trânsito nas duas mãos de direção, causando uma série de transtornos. Senhoras e senhores motoristas, convenhamos: As vezes é preciso bom senso ao parar o carro (e sobre o rotativo, que agora custa R$ 2,00, prometo escrever em breve). Para terminar: Não diga que a vitória está perdida se é de batalhas que se vive a vida. (Raul Seixas).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Orçamento Participativo e outras “coisinhas” indispensáveis

Reuniões do Orçamento Participativo visando a determinação de obras que deverão ser executadas em 2011, aconteceram na última semana. A ideia de envolver a população na escolha da “melhor” obra para seu bairro é, de fato, importante, até porque uma administração não é feita apenas de representantes do executivo; o povo deve estar envolvido, não apenas quando a questão é o voto. E sob a ótica que quer, o O.P. rende alguns pontos ao Prefeito. Afinal, a teoria costuma encantar, e assim, in casu, não é diferente... Atender a todos os pedidos é evidentemente impossível. Todos os bairros de Cachoeiro, de alguma forma necessitam de obras (são ruas não asfaltadas, muros não construídos (ou que construídos caíram), além das mesmas pequenas obras de sempre, onde estão incluídas aquelas necessárias à manutenção, para evitar que as chuvas, por exemplo, causem pequenos pontos de calamidade pelas ruas da cidade (como ocorreu, também, durante a semana). De qualquer forma, ainda mais importante do que determinar e direcionar o investimento do próximo ano, está o dever de cumprir o prometido. É aí que, novamente, deve aparecer a participação do povo: para fiscalizar e exigir. Dizem que “o que é combinado não sai caro” e é bem esta a verdade.

A Administração do Sr. Carlos Casteglione, com a implantação do O.P., está, claramente, abrindo espaço para futuros elogios e/ou críticas. Ressalte-se: O direito (a obrigação) do acompanhamento passo a passo daquilo que se planeja no reservado do gabinete ou das secretarias, pertence, indiscutivelmente, à população, ainda que não houvesse Orçamento Participativo. Não se deve esquivar-se das responsabilidades, aumentá-las ou diminuí-las levando em consideração esse ou aquele plano de governo. Portanto, cidadão cachoeirense, olhos abertos e mãos à obra (literalmente).

Mudando de assunto para falar sobre outras “coisinhas” indispensáveis... A Câmara também teve sua vez nos temas mais comentados nos jornais da cidade. A história do Rachid (que realmente teria dado um bom samba para o Carnaval 2010 na Linha Vermelha (que foi quase todo certinho... quase mesmo)) rendeu uma carta de renúncia ao cargo (que não era de vereador), que voltou a ser vereador, que tentou se explicar, que não convenceu, que teve conselho eleito para investigar (que teve também de ser investigado, pelas mesmas razões, diga-se de passagem... ai ai ai meu Deus) e que, por enquanto, foi afastado, até que se concluam as investigações do conselho que teve de ser investigado.

E como já dizia um bom vizinho: “Ora, ora seu cumpadi, é aí que a porca torça o rabo”. Depois de tudo isso, sinceramente, acho que por hoje é só.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Melhor sair da gaveta

De uns tempos para cá, a crise financeira mundial é o assunto que está em voga. Problemas nos setores da economia causam instabilidade e insegurança, até mesmo para empresas consideradas “sólidas” no mercado. Fato é que, apesar dos abalos, para aqueles que, de alguma forma já estão introduzidos no cenário econômico, os ventos fortes trazidos pela tensão podem causar avariações estruturais, porém não a perda ou extinção do negócio. Inicialmente, quem soube preparar o terreno e erguer suas paredes sobre bases firmes e profundas, entende que é possível dar a volta por cima; que usando das ferramentas adequadas, as chances de superação ganham reais motivações, quiçá alcançando novas fronteiras. Válido tecer considerações do tipo, disseminar esta forma de encarar o problema, porque é assim, com positivismo e boas ideias, que se constroem novas perspectivas, consequentemente, tornando o mercado de trabalho e área de atuação, mais sadios.

A máxima aplicada até aqui, evidentemente, não deve ser direcionada apenas para grandes empresas, grandes negócios. Para quem ainda tem dúvidas sobre como enfrentar a crise (que não deve ser vista com Bicho Papão) ou necessita de boas ideias para dar os primeiros passos rumo ao sucesso, a receita é tende a ser bem simples e, a princípio, composta por um único item: DETERMINAÇÃO. Quando há determinação, vontade e disposição embutem no pacote, ou seja, uma “senhora” economia de ingredientes que só fará crescer o bolo.

Ainda no mesmo seguimento, próximo à problemática financeira, está o desemprego. No Brasil, o índice de desempregados é alto. Tem muita gente precisando descobrir caminhos que levem a (sem exageros) sobrevivência. E quando a questão é esta, uma coisa é certa: não se pode ficar em casa esperando o tempo passar ou pior, achando que irá cair do céu. Analisemos o seguinte: um livro que conta uma bela história está guardado em uma antiga gaveta, cheio de páginas amareladas e algumas corroídas por traças. Infelizmente e para piorar a situação, a capa em nada chama atenção do leitor; está velha e empoeirada. Não importa quão bela é a história, porque ninguém irá se interessar por um livro disforme deixado numa gaveta, ainda que o encontre... Contudo, se o livro for retirado de seu esconderijo, reeditado e ganhar uma nova e cativante capa, certamente àquela bela história será lida e quem a ler fará questão de contá-la a outros. A pergunta é: Vale a pena ser um livro velho numa gaveta, sem ninguém que o queira ler? Quem quer e precisa de uma vaga no disputadíssimo mercado de trabalho, deve, urgentemente, se mostrar, arregaçar as mangas e por mãos-a-obra. A propaganda é, sem dúvidas, a chance que você tem de ser descoberto.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Dai a César o que é de César

Você tem medo de exigir o que é seu? Sabe quais são e quando fazer valer seus direitos? Perguntas do cotidiano muitas vezes sem resposta. Iniciativas que não são tomadas por medo ou desconhecimento e acabam prejudicando o possuidor de direitos. Normalmente, quando se fala em exigência de direitos, o judiciário aparece em primeiro plano. Os Juizados Especiais Cíveis, também conhecidos como “Juizados de Pequenas Causas”, são os mais procurados, vez que oferecem à população a oportunidade de acionar a justiça sem o acompanhamento necessário de advogado, ao menos antes da fase recursal, e desde que o valor pleiteado seja igual ou inferior a vinte salários mínimos, como determina a Lei 9.099/95. Esta acessibilidade (simplificada) à justiça, vem para proporcionar ao cidadão caminho menos árduo rumo a reparação de direito lesado. Contudo, há que se atentar, também, para o seguinte: Nos últimos tempos, os Juizados Especiais Cíveis têm recebido grande demanda de ações, principalmente de cunho indenizatório / reparatório, o que, infelizmente, faz crescer a indústria do dano moral, chegando a extremos de descaracterizá-lo. Dano moral deve ser entendido como a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor imprescindível na vida do homem, como a paz, a tranquilidade de espírito, a liberdade individual, a integridade individual, a integridade física, a honra... Ou seja, é preciso mais que um mero aborrecimento para que o dano seja caracterizado e, portanto, indenizável.
Numa outra vertente, ainda no campo de direitos cerceados, está o trabalhador. Há casos e casos, entretanto ouve-se muito a respeito de ex-empregados, demitidos (com ou sem justa causa), que, não pagos, deixam de cobrar valores indiscutivelmente devidos, por medo de repressões ou preconceito; medo de serem julgados “encrenqueiros” e assim não alcançarem nova oportunidade de emprego. Ora, aqui se observa a impraticabilidade da justiça. Ideal seria o trabalhador não ter de acionar a justiça para receber suas verbas rescisórias ou o que lhe é devido e não pago, até porque, empregado e empregador estão subjugados às leis trabalhistas, que asseguram direitos e deveres para ambos. Mas, se necessário for requerer a tutela jurisdicional para o caso, esta atitude não pode ser vista como agressiva ou de má índole, vez que o que é seu, não excede ao que é do outro, e, portanto, não ofende quando pleiteado. Importante é estar atento, conhecer e, se devido, não ter medo de “brigar” pelo direito que é seu. Calar nem sempre é a melhor opção e quase sempre incentiva novas incorreções do tipo. É injusto querer o que não lhe pertence, mas dar a César o que é de César, passa a ser obrigação.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Chegou o carnaval

Chegou o carnaval! Aquele último feriado prolongado antes do ano efetivamente começar. Até o carnaval todo mundo ainda está meio “molengão”, em ritmo de férias. Calor insuportável em Cachoeiro... Marataízes é logo ali. Cidade quase vazia, porque existem aqueles que, ao contrário do pessoal que arrumou as malas e foi para praia curtir o carnaval na “pipoca do trio elétrico”, ficam por aqui e fazem sua própria festa, com samba enredo e tudo mais. Na última semana, por exemplo, teve gente que saiu na frente, mostrando-se preparado para um carnaval bastante regional. O pessoal do legislativo municipal (talvez melhor dizer vereador em outro exercício (?!)) divulgou um novíssimo (será?) samba enredo: O “Racha de tíquete”, também carinhosamente apelidado de Rachid. A letra é fácil e quem tiver um pouquinho de jogo de cintura vai se divertir muito com essa obra prima carnavalesca. A história desse samba é recente, começou em outubro de 2008 no pavilhão-eleição. Muita gente foi às ruas para dar uma conferida nos ensaios, ver quem compunha a bateria, quem seria o casal mestre-sala e porta-bandeira... E de lá pra cá o que se viu foi uma galera “castigando o tamborim”. Para o carnaval deste ano, os preparativos foram intensos. Foi preciso chamar mais gente para ajudar na composição da escola, afinal, quem queria desfilar sem assessoria? Mais integrantes chegando, é claro que só podia acabar em samba... A propósito, lembrei-me do Auto da Lusitânia, de Gil Vicente, que li dia desses em “A Palavra Mágica”, livro que reúne algumas das composições de Carlos Drummond de Andrade, sob o título de “Todo Mundo e Ninguém”. Diz assim: Ninguém: Me diz teu nome primeiro. Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo e passo o dia e o ano inteiro correndo atrás de dinheiro, seja limpo ou seja imundo. Belzebu: Vale a pena dar ciência e anotar isto bem, por ser fato verdadeiro: Que Ninguém tem consciência, e Todo Mundo, dinheiro [...]. Ninguém: E que mais procuras, hem?Todo Mundo: Procuro poder e glória. Ninguém: Eu cá não vou nessa história. Só quero virtude... Amém. Belzebu: Mas o papai não se ilude e traça: Livro Segundo: Busca o poder Todo Mundo e Ninguém busca virtude [...]. Ninguém: Que mais, bicho? Todo Mundo:Bajular. Ninguém: Eu cá não jogo confete. Belzebu: Três mais quatro igual a sete. O programa sai do ar. Lero lero lero lero, curro paco paco paco. Tudo Mundo é puxa-saco e Ninguém quer ser sincero. Importante é que o carnaval tem dias contados. Na quarta-feira de cinzas tudo volta ao normal. Uns vão pedir perdão (outros não). A letra do samba já começa a ser esquecida: já é hora de começar uma nova composição, ainda que para alguns seja carnaval o ano inteiro... Curioso, mas outra vez Carlos Drummond povoa o pensamento. Depois de Todo Mundo e Ninguém serem avaliados por Belzebu (depois do furdunço, será que ainda vão lembrar do samba do Rachid?). Eu pergunto: E agora, José?

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Cachoeiro que se cuide, pois as pontes estão caindo

Após alguns domingos sem publicações, cá estou para, finalmente, dar início ao ano de 2010. Fiquei feliz por ter encontrado alguns amigos que estranharam a ausência dos artigos dominicais e fizeram questão de incentivar-me a continuar escrevendo (sinal de que tenho fortes laços de amizade!...). Aproveito o ensejo e, de público, os agradeço.

Primeiro texto para 2010: Cachoeiro que se cuide, porque as pontes estão caindo (e daqui uns dias será difícil atravessar o Itapemirim, afinal, quando todas elas estiverem interditadas e não concertadas, o cachoeirense terá bons motivos para investir em canoas... ).

A ponte de pedestres, na Beira Rio, interditada há algum tempo continua servindo de passagem para quem se arrisca a saltar o muro que a interrompe. Aquela reforma, necessária (que ainda não veio), torna-se cada dia mais urgente, até mesmo porque tem sido mais perigoso pular o muro e cair no rio Itapemirim (ou seja, a causa mortis será mesmo afogamento, não porque a ponte caiu, mas porque houve desequilíbrio na hora de pular o muro). Paciência. Outra ponte que está na mesma situação de cai e não cai, é a João Pereira dos Santos Filho, próxima a antiga fábrica de cimento. Desde as últimas fortes chuvas a ponte está interditada. Para o trânsito de nossa cidade, uma ponte a menos justificaria o princípio do caos (e não é exagero não). Solução a vista? Talvez. Ao menos a notícia no site da Prefeitura dá conta de dois projetos, um de recuperação da viga defeituosa, avaliado em R$ 650 mil, e outro de reforma total, no valor de R$ 2,5 milhões.

Os recursos estão sendo pleiteados junto ao governo do Estado (oportunidade boa e “perdida” foi a visita do vice-governador à cidade na manhã da última quinta-feira: vieram recursos (não para as pontes) visando a construção de unidades de saúde... Há médicos para mais vagas? Que tal preencher as já existentes? É algo a se pensar)). Infelizmente, no que diz respeito a OBRAS em Cachoeiro, sabe-se que nunca foram o ‘forte’ das administrações (até naquelas lembradas apenas por tal motivo e relembradas depois, quando alguns pilares começam a ruir). Mas, ainda falando das pontes, temo que em breve todas estejam interditadas. O tráfego pesado de caminhões nas ruas do centro continua; não adianta tapar o sol com a peneira (e do jeito que tem feito sol e calor por aqui, não adianta mesmo). Alguns milhões já foram gastos com um anel rodoviário justamente para aliviar o trânsito da cidade; acho mais negócio fazer uso efetivo dele. (Rodovia do Contorno que irá fazer várias participações em artigos futuros). E pensar que 2010 está só começando... hora de agir e agir pra valer. Como diriam os meninos jogadores de boleba: “agora é a vera”.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aprecie com "moderação"

Depois dessa história de globalização, o mundo se tornou uma grande aldeia, onde vizinhos não são apenas aqueles que dividem janelas em prédios; os que se encontram todos os dias na padaria para comprar leite e pão; as comadres que “tricotam” sobre a vida alheia (a real e as da novela)... A palavra “vizinho”, agora, aplica-se, também, àqueles que estão virtualmente conectados através da internet. Estados Unidos, Brasil e Japão, desde que numa mesma sala de bate papo, podem cumprimentar-se, e ali mesmo, comprar leite e pão pelo site da padaria; saber sobre a novela clicando uma ou duas vezes e, do mesmo modo, “tricotarem” sobre a vida alheia sem sequer levantar-se de sua cadeira.

Homens e mulheres mundo afora tem se resguardado do contato direto, transferindo suas vidas para dentro de seus computadores. E quais são as conseqüências de se ter uma vida tão próxima e ao mesmo tempo tão distante? Para as relações atuais, enquanto o homem não se transmuta em “equipamento virtual estático”, presencia-se o mundo virtualizado crescendo paralelamente ao mundo real, no entanto, ambos comunicam-se e em determinados momentos, confundem-se. A facilidade implantada pela internet possibilita uma vida eletrônica, cômoda para quem assim aprecia. Mas qual é o limite da “facilidade”? Se a internet tenta imitar a vida, deve imitá-la também no que diz respeito à responsabilidade por atos praticados; crimes cometidos na internet são plenamente passíveis de punição.

No âmbito jurídico o número de ações propostas face aos administradores / proprietários de sites, páginas desenvolvidas em sites de relacionamento, blogs (que virou verdadeira febre) e tantos outros espaços sustentados e disponibilizados, onde é possível escrever textos, emitir opiniões, postar fotos... Cresce a cada ano. Isto porque o mau uso da internet tem sido uma constante. Quem cria espaços virtuais e os coloca à disposição do público, deve estar ciente de que é de sua responsabilidade o que ali for publicado, ainda que a autoria do texto seja de terceiro e que este seja identificável. É o que ocorre com os chamados blogueiros. Os conhecidos blogs estão acessíveis, amplamente, para qualquer um que possuir computador e internet. Conteúdos agressivos, ofensivos, caluniosos, difamadores e injuriosos, devem ser punidos, conforme tipificação penal e, ainda, incorrem nas penas pecuniárias; casos de indenizações oriundas de sentenças cíveis.

Evidentemente, existem meios para que as penas da lei não recaiam sobre aqueles que desejam construir páginas na internet. No exemplo dos blogueiros, estes possuem ferramenta conhecida como “moderação”, que os permite avaliar todo o conteúdo que lhes é submetido, antes da publicação. Uns usam... Outros não. É preciso ter sensatez para administrar a grande rede e fazê-la uma aliada. Conteúdos ofensivos, falaciosos, depois de publicados, podem ser acessados por incontável número de pessoas, dilatando a extensão e a gravidade do dano.


Se o mundo virtual deseja imitar o mundo real, deve imitá-lo plenamente, inclusive e principalmente no que se refere à responsabilidade por cada ato praticado. Em se tratando de internet, apreciar com “moderação”, é questão de cuidado quase obrigatório.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

E se...

...os carros desaparecessem, se as motos parassem de trafegar, se as sirenes parassem de tocar, se os sinais parassem de bater? Se as campanhinhas silenciassem, se os telefones não chamassem, se as músicas emudecessem, se as palavras se calassem, se peruinhas de som não mais andassem, se as buzinas desligassem? Se os liquidificadores estragassem, se as televisões queimassem, se os computadores pifassem, se tudo o que emite som parasse de funcionar, assim, de repente? Se até a respiração diminuísse, e os passos ficassem mais lentos, as piscadelas de olho em câmera lenta, e tudo ficasse mais quieto, mais brando, mais tímido, mais inocente...?

E se o que apenas se ouvisse fosse o canto dos pássaros, os estalarem das folhas sendo cortadas pelas formigas, as cigarras no canto pré-noturno, o sapo boi coordenando a sinfonia na lagoa, o bacurau repetindo “amanhã eu vou”, os cachorros do mato uivando para reunir o bando, um cavalo solto relinchando, um bem-te-vi desavisado cantarolando e as águas do rio balbuciando aquele xuá que rima com vida?

Ah, se assim fosse, no final do dia, um amarelo dourado nos contagiaria; aquele sol bonito partindo de mansinho, dando tchau ao dia, cumprimentando a noite e tudo quase emudecido, sem ruído...  Caminhando sobre a Ponte Municipal, uma brisa leve nos atingiria a face e pensaríamos de imediato: é chuva que vem vindo! “Não senhor”! Alguém diria (baixinho, que é para não incomodar o vizinho). “Esse sopro é o sopro das asas... das asas das garças”, esse alguém diria num sussurro. E elas (as garças) cheias de graça se lançariam sobre o Itapemirim. Escolhendo os melhores galhos, aos poucos fazendo das árvores seu particular condomínio, pitando de branco o marrom do rio, brincando de casinha até o dia amanhecer.

E se assim fosse, nos olharíamos nos olhos, pois teríamos parado de correr. Nosso olhar duraria e diria coisas tão sérias que não mais poderíamos esquecer. Então iríamos para casa, sem pressa, quase sem perceber; de banho tomado, dente escovado, hora de adormecer. Fim do dia... Olhos fechados... Silêncio redobrado... Sim, foi um prazer.
Se assim pudesse ser, gostaria que, novamente, sobre a ponte nos encontrássemos: você e eu...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

O povo tem o governo que merece?

Ouvi muitas vezes a frase: “O povo tem o governo que merece”. Acho injusta e permito-me discordar. Por que culpar o eleitor, sempre que políticos “ruins” assumem o poder? Voto consciente é arma de porte legalizado que todo cidadão possui. Infelizmente, sabe-se que, por vezes, o tiro sai pela culatra, acerta o pé do eleitor, rouba-lhe a dignidade com a sutileza de um furacão e o deixa a ver navios. Ou, em outras oportunidades, a mira está correta, o alvo foi atingido, porém mais tarde se descobre que o tiro foi em vão. Não importa o número de disparos, nem a quantidade de cajadadas: nem um coelho morto... Quem dirá dois.

Mas não, o povo não tem o governo que merece. Porque julgo merecer, o povo, um governo justo, limpo, livre de corrupção, desta infernal corrupção que soterra ideais. Acho que mais se enquadra à situação outra frase da sabedoria empírica: “quem se mistura aos porcos, farelos come”. Perdoem-me a sinceridade brutal a que me dispus neste artigo, mas é assim que tenho notado o cenário político do país. Os porcos estão no chiqueiro, comendo farelo, embrenhando-se de lama, enquanto alguns almejam lá também estarem. Não se preza mais pela brancura do caráter; dá-se atenção ao espaço, por menor que seja, junto ao cocho, onde o farelo poderá ser dividido, onde ninguém se importa em sujar-se de lama, onde tanto faz misturar-se aos porcos.

Fizeram piada durante a semana que sucedeu o primeiro turno das Eleições 2010, após apurarem que Tiririca fora o Deputado Federal eleito com maior número de votos no país. Alegam que o candidato eleito é analfabeto, que desconhece as funções de seu mais novo cargo. Inclusive, em entrevista a um programa de humor, quando o perguntaram se ele sabia o que deveria fazer como Deputado Federal, Tiririca respondeu que não sabia, mas assim que descobrisse contaria ao humorista. Seja sincero: você julga ser ruim ter um “palhaço” na Câmara dos Deputados? Porque eu não. O povo votou, protestou e entendeu que, já que os governantes normalmente fazem os cidadãos de palhaços, nada melhor do que colocar um no poder.

“PROJETO DE LEI 607/09 – Parecer pela inconstitucionalidade. EMENTA: Dispõe sobre a obrigatoriedade dos supermercados, hipermercados e todos os estabelecimentos comerciais que utilizam carrinhos de compras e cestas que disponibilizem aos seus clientes uma capa de proteção descartável para ser utilizada em seu interior”. Quem você acha que sugeriu este Projeto de Lei? A boa notícia: Não foi o Tiririca...

O povo não tem o governo que merece, porque o povo NÃO merece ser feito de bobo, ser passado para trás e muito menos ser mal interpretado por tomar a atitude de protestar. Se assim permitido for, vida longa ao mandato de Tiririca! E parafraseando o recordista de votos no país: “pior do que está não fica...”.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Quem é você?

Bom mesmo é que, atualmente, o status social está substituindo o ser. Deixamos de ter identificação própria e passamos a ser resultado de “indicações”. Uma espécie de interminável linha de referência, onde até a posse do eu está ameaçada.

A concepção no útero materno já nos torna alvos do que chamo “identificação referencial”. É simples. Imaginemos que, ao nascer, pudéssemos ser comparados a um grande pinheiro aguardando a decoração de Natal. Pouco a pouco os verdes galhos são recobertos por enfeites... Tantos e tantos que, ao final, nem se nota o pinheiro, mas apenas os adereços que a ele estão presos. Engraçado é que, se entrarmos numa casa e nos depararmos com um pinheiro decorado para o Natal, brilhante e imponente no canto sala, e alguém nos perguntar: “O que é isso?” (apontando para o pinheiro), nossa resposta, certamente será: “trata-se de uma Árvore de Natal!”. Pois bem, o pinheiro decorado, deixa sua essência e passa a fazer alusão ao Natal, quando, in verdade, aquele pinheiro sempre foi e sempre será “apenas”, uma árvore.

Somos assim: árvore por natureza e Árvore de Natal por atribuição. Nascemos (somente) EU e com o passar do tempo, os muitos adereços que ganhamos nos fazem apenas referências, camuflando quem realmente somos. Veja se não é assim. Responda à pergunta: Quem é você? Você é filho, neto, tio, sobrinho, avô, pai... Você tem profissão, então passa a ser o mecânico, o médico, o advogado, o dentista, o motorista, o vendedor... Você é solteiro, namorado, casado, divorciado... Você é vizinho, condômino, inquilino... É amigo, parente, conhecido... E fica assim: “A Jurema é aquela menina, filha de Dona Mocinha e de Seu Tião, neta do falecido João das Couves. Ela mora na Rua 23, é vizinha de Dona Carmem, amiga da Maria. Jurema é aquela que se divorciou tem pouco tempo, que todos os dias, cedinho, vai à Padaria, que só anda de sandálias Havaianas... que tem um carro preto e uma blusa com estampas cor de rosa... E quem é a Jurema mesmo?... Ah, é aquela, filha de Dona Mocinha...”.

Definir o ser é bem difícil quando, aparentemente, só há espaço para uma série de referências que busca nos identificar, mas sem realmente o fazê-lo. É quase como escreveu Carlos Drummond de Andrade no poema “Eu Etiqueta”, onde perde-se o cerne do ser e passa-se a ser propaganda. “Com que inocência demito-me de ser. Eu que antes era e me sabia. Tão diverso de outros, tão mim mesmo. Ser pensante sentinte e solitário, com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação”. Afinal, então, quem sou eu?... Quem é você?

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Passe Livre... Para quem?

Atualmente e como já ocorre há alguns anos, o transporte coletivo em Cachoeiro de Itapemirim é operado por uma única empresa. Não há concorrência. Muito se debate sobre o assunto, vez que a situação é atípica, e não oportuniza escolha aos milhares de usuários deste meio de transporte, que não possuem opção diversa da que lhes é apresentada. Uma das insatisfações fica por conta dos altos valores pagos a título de passagem: O preço é o mesmo para quem percorre um, cinco ou vinte quilômetros no perímetro assistido pelos ônibus desta empresa.

No intuito de reduzir os gatos do trabalhador com transporte, a Prefeitura contratou há aproximadamente 17 anos (com a mesma empresa que hoje opera o transporte coletivo da cidade), serviço antes conhecido como “Transpop” e que após nova administração, denominou-se “Passe Livre”. A intenção era oferecer transporte gratuito aos mais carentes, aos que não possuíam renda fixa e aos estudantes. Obviamente, apesar do benefício trazido pelo transporte gratuito, este passou a ser usado indevidamente por alguns indivíduos. É que, sem qualquer tipo de controle, os ônibus locados (atualmente são 14 ônibus) e pagos (valor estimado em R$ 150.000,00 mensais) pela Prefeitura podem ser utilizados por quem quer que seja independentemente de comprovação de sua real necessidade. Esta prática sobrecarrega o veículo, reduz espaço e exclui possibilidades de se ter o mínimo de conforto e segurança na utilização do serviço (são comuns os casos de quem passa, literalmente, apertos no interior do Passe Livre. Ônibus superlotados que põe em risco o bem estar dos usuários).

A atual Administração está executando projeto de ampliação do Passe Livre. A idéia é estender o serviço a todos os ônibus da rede municipal, através de cadastramento dos usuários, a fim de que apenas quem realmente necessite faça uso (apresentando seu Cartão Melhor Passe Livre). Aparentemente a iniciativa é boa, pois limitaria a gratuidade do transporte. No entanto, nem tudo o que parece bom o é realmente. A mudança tem gerado reclamações pela população e é preciso compreender seus motivos. Os requisitos para ser cadastrado e ter direito ao Passe Livre, não parece levar em consideração algumas realidades específicas. Os que possuem carteira assinada em um salário mínimo, e dele têm de extrair o sustento de toda a família, têm razão ao sentirem-se insatisfeitos, pois o benefício não mais os assistirá. Assim, a tendência é que as reclamações continuem mesmo após a implantação do novo sistema.

O controle, sem dúvidas, deve ser feito, porém, os critérios para concessão do cartão devem, também, serem reapreciados, levando em consideração as verdadeiras necessidades do trabalhador (que não é apenas trabalhador, mas que é pai ou mãe de família, mantenedor de sua casa, que utiliza o transporte coletivo mais de duas ou três vezes por dia). Se a intenção é melhorar o serviço oferecido, estendendo-o à totalidade dos cidadãos e não diminuir gastos da Prefeitura, conforme esclareceu a Secretária de Desenvolvimento Social Nilcéia Maria Pizza (entrevista cedida ao ES TV 1ª Edição em 10.12.2010) é justo que a avaliação dos merecedores seja feita por triagem que verdadeiramente identifique sua situação familiar de necessidade. A mudança é em prol do cidadão... Ou não?


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)