"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Então é Natal!


A chegada do Natal é a primeira fase de conscientização de que o ano está chegando ao fim. Cachoeiro literalmente ferve, borbulha em dias de sol e calor. As férias, somadas ao desejo pelas compras de presentes, inunda as ruas e fica difícil andar pelas calçadas (não apenas por estarem transbordando pedestres, mas por estarem insuportavelmente esburacadas e apertadas, nada condizentes com o Plano Diretor Municipal ou com qualquer outra diretriz regulamentadora de calçadas (?). Certa vez quis escrever um artigo cujo título seria “Inimigas do salto alto” e, lógico, faria menção às calçadas, entretanto não o fiz... Providencialmente não o fiz, porque pensando melhor, o título seria quase que inadequado, restrito demais, se comprado ao tamanho da “inimizade” que as calçadas cachoeirenses têm em relação a qualquer tipo de pé e calçado, sem falar nas rodas das cadeiras de rodas. Cadeirante que precisar sair à rua vai encontrar muitos obstáculos). Mas é Natal! E as compras não podem parar, ainda que alguns “obstáculos” tenham de ser superados.

Estive com um amigo esta semana, amigo que há um tempo não o via e nesta oportunidade falamos sobre algo que também está aquecendo o cachoeirense, assunto que “pipocou” lá pelas bandas da Câmara Municipal. Prometi a ele que não falaria a este respeito (como de fato não farei), no entanto, ainda que num comentário raso demais para a profundidade do assunto, tenho a dizer que não é o “mais” que me desanima e sim o “menos”: Mais dinheiro para uns e menos dinheiro para outros. Justiça seja dita (porque feita ela já não é há algum tempo)... “De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se de justiça e ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa). É o bastante. Encerro minha participação sobre o assunto.

Preparemos nossos corações, pois 2012 é ano político... E a gente pensou que não ia chegar nunca! A rotina dos finais de ano é, invariavelmente, a mesma e antes que fique para trás, aquilo que viveremos em outubro próximo, de certo que foi “degustado” na ceia de Natal (alguma surpresa? Nenhuma.). Todavia, a sabedoria popular sempre diz algo oportuno em momento oportuno, e havemos de saber que “a mudança que queremos deve iniciar em nós”, portanto, se tantas vezes repetimos, é porque nenhuma vez tentamos mudar. No próximo ano teremos a chance de fazer e ter algo novo, basta saber é se almejamos a mudança.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

domingo, 11 de dezembro de 2011

De tempos em tempos, novas estações...

Nascemos. Tudo o que vem depois do nascer é conseqüência de se estar vivo, inclusive a morte. A miudeza do ser em seu primeiro sopro de ar, o choro estridente que significa vida, a sensação de tudo e nada apartadas apenas pela linha tênue que divide o abrir e fechar dos olhos, não para o adormecer momentâneo, mas para o adormecer eterno. Tão natural e tão absurdamente insuportável. Resiste-se, é verdade, porém nada mais que isso. 

As cenas da imprevisível novela chamada “Vida” se subdividem em capítulos, como outra novela qualquer; os resumos semanais ficam à disposição do público, uns mais secretos, para que se mantenha o suspense, outros tão evidentes, provocantes, tão e tão que, talvez por isso, tornem-se desinteressantes. 

Uma novela como outra qualquer. Há amor, paixão, perda, dor, traição, voltas por cima e, claro, decepção. Em “Vida”, há dias em que nada acontece e outros que acontecem coisas demais; uns dias de calmaria, sorrisos plenos, outros camuflados. Dias de tristeza explícita e dias de disfarce. Conflitos, problemas, frustrações, dúvidas, angústias... Tudo isso a “Vida” também tem. É como dito: uma novela, como outra qualquer... 

...até que se vejam as primeiras diferenças. 

“Vida” tem exibição em tempo integral e não dá simplesmente para mudar de canal quando fica “chata”; ninguém sabe quando será o fim. Hoje, amanhã, depois, não importa o tamanho da audiência que a sua “vida novela” tem: quem decide quando termina não é você... E por mais que se esteja preparado para o último capítulo, não é o suficiente. O último ato da trama (chamado “morte”), cunha de imprevisibilidade todas as personagens. É o fechar das cortinas, o desligar da TV. É o fim da “Vida”; encerram-se as gravações. Valeria, sim, a pena ver de novo, contudo, diferente de uma novela qualquer, a “Vida” não permite reprises... 

Homenagem: No sábado, 03 de dezembro, a Família Rigon sofreu uma perda imensurável. Deixou de estar conosco a vovó Zelinda. Ausência sem reposição em nossos corações. Desnecessário dizer que, para sempre, sentiremos saudades. 

Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade”. (Para Sempre in A Palavra Mágica de Carlos Drummond de Andrade). E “vó”, o que é? Mãe uma, duas, três vezes... Eternidade.




(Valquiria Rigon Volpato - Advogada, porém desta vez, especialmente, neta...)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O que você anda compartilhando por aí?


Rede Social não é mais novidade para ninguém, isso porque a globalização nos “forçou” a uma inclusão digital como nunca se viu e o acesso à internet se tornou obrigatório. Creio que, há poucos anos, alguém ainda teria coragem para dizer que poderia viver sem navegar na grande rede (teria), porém atualmente, a realidade virtual é fato inegável, irrevogável. É coisa que, daqui um tempo, virá na cesta básica...

O mundo virtual abriga uma nova vida extremamente agitada, cheia de lances repentinos “curtidos”, “comentados” e, especialmente, “compartilhados”. A bola da vez, sem medo de errar, é o Facebook. Lançado no ano de 2004, sua intenção era reunir estudantes de universidades e criar um novo ambiente estudantil na internet, entretanto, logo no ano de 2006 o Facebook foi aberto ao público, permitindo, assim, que uma enxurrada de novos participantes começasse a fazer parte deste novo mundo. Até as “febres” do relacionamento sócio-virtual como Orkut e MSN estão perdendo a liderança na preferência dos usuários.

As possibilidades que o “FB” disponibiliza são inúmeras; ferramentas que instigam a exposição do usuário, começando pela pergunta simples, mas objetiva: “no que você está pensando?”... Assim nenhuma intimidade é secreta. Os compartilhamentos são enxurradas de retransmissão e propagação daquilo que, a princípio, você está pensando. Imagens para falar de amor, amizade, para fazer rir, para falar de sexo, para ofender... Ao alcance de todos, ao “clique” de todos.

Os relacionamentos nascidos da internet, há muito questionado, oferecem riscos aos usuários de chats livres, vez que o fornecimento da informação desregrada associado ao desconhecimento de quem está por trás da tela de um computador qualquer, incentivam ainda mais a violência franca que se estabeleceu no seio social.

Milhares de frases, imagens e informações pessoais são despejados dia-a-dia nos murais virtuais do Facebook e você não é capaz de saber quem leu e compartilhou aquela informação. A internet é fascinante, especialmente em sua capacidade de encurtar distâncias, entretanto, pode ser comparada a uma faca que parte o pão, mas que também pode matar... Depende de quem a manuseia.

Em que estou pensando agora?... Felizmente (ou infelizmente) Facebook, meus pensamentos não cabem em 420 caracteres”. (Valquiria Rigon Volpato).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Missões de Paz


Na última semana o que não faltou foi assunto, contudo não seria proveitoso fazer deste espaço uma “salada mista” e tentar “picar” um pouquinho de cada um. Assim, decidi escrever algo paralelo, considerando as notícias sobre a Missão Pacificadora que começou a operar nos últimos dias na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

Acho sempre muito interessante quando, revendo meus arquivos, descubro algo do passado que se correlaciona com o presente. Faz-me lembrar das aulas de História que tive ao longo da vida acadêmica; sempre debatíamos em sala de aula sobre a reincidência de fatos pretéritos no futuro, em nosso futuro, até então distante daquele passado impresso nos livros... Passada a sessão “nostalgia”, a ponte entre meus guardados e o assunto atual está erguida sobre as considerações que àquela época fiz sobre a “redução da maioridade penal”, numa busca por entender se esta medida realmente traria a diminuição da criminalidade. Disse assim: “O problema da criminalidade reside na falta de educação e aqui não se trata apenas de educação vista como ensino das ciências, trata-se da educação vista como regra para o convívio, onde os indivíduos aprendem a serem cidadãos; aprendem que é preciso construir justiça para se obter paz. Educação que, também, não tem nada a ver com poder aquisitivo, até porque, um lar de poucos recursos pode ter “riquezas” no proceder; um jovem rico pode ser paupérrimo em caráter e virtudes... São situações e condições distintas que não servem de base para o caso. A condição de mero expectador é que faz o homem exibir seu lado bestial”.

E o que isso tem a ver com as missões de paz na Rocinha? Explico: toda problemática social é derivação de algo que fugiu do controle; do controle tal qual o conhecemos e, também, do controle de si. As razões de se ter uma comunidade de absurda extensão fincada num dos morros do Rio de Janeiro e até a pouco tempo dominada pela força do tráfico de drogas (que anda muito bem armada por sinal) é consequência da desordem e da falta (de educação, oportunidade, controle, vontade...). “É evidente que a simples redução da maioridade penal para dezesseis anos não será suficiente para coibir a criminalidade, que é um problema político, social, educacional. As medidas que urgem serem tomadas dizem respeito muito mais ao comportamento e a mudança deste, mudança essa que deve passar, não só pela população, mas principalmente pelos representantes do poder público e as instituições mantidas por eles. Necessita-se, não de uma reforma de leis, mas de uma reforma de pensamentos e métodos”.


O Governo do Rio tem mostrado projetos que serão implantados e implementados naquela comunidade e que, à primeira vista, são excelentes. Que a Rocinha merece ser descoberta e descobrir novos horizontes não há a menor dúvida. Torço para que este seja o sinal da reforma de pensamentos e métodos que no passado escrevi. E mesmo que a pacificação tenha um objetivo em longo prazo, lá para 2014 (!!!), por exemplo, já dizia Maquiavel que “os fins justificam os meios” e, neste caso, ao menos para mim, os “meios” já são uma espécie de “fins”.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Enquanto isso você acha que está tudo certo...


Quantos direitos seus são violados diariamente, sem que você sequer saiba? Não é simples responder a esta pergunta, mas sabe-se que, diariamente, muitos de nossos direitos são ignorados e aviltados, algumas vezes por imposição de quem nos cerceia, outras vezes por conseqüência de nossa ignorância. Mas já estivemos piores... Atualmente, apesar de ainda ser escancarada esta “violação” de nós mesmos a que somos submetidos, estamos aprendendo que é possível exercer nosso poder de invocação da lei (e para que isso se torne corriqueiro é preciso conhece – lá).

Os princípios norteadores da vida em sociedade estão descritos, mormente, na Constituição da República, que lança sobre todo o território nacional seu manto (quase) instransponível. Todas as demais leis são ramificações, como numa árvore: existe um tronco que a sustenta e a partir do tronco, galhos vão surgindo, e dos galhos, novos e pequenos filamentos, até que se percebam as folhas, flores e frutos.

O esquema jurídico-legislativo brasileiro pode ser visualizado como uma árvore frutífera. No entanto, há que se considerar que, assim como na natureza, nem todos os frutos dessa árvore são doces; uns sequer chegam a madurar, pois são atacados por pragas, perdem seu vigor, adoecem e verdes acabam caindo. Outros, escapam dos “predadores”, crescem, amadurecem, ficam bonitos por fora, chamam atenção, mas quando estamos prontos para saboreá-los, toda aquela primeira impressão cai por terra, e descobrimos um fruto amargo, defeituoso por dentro.

A justiça se faz, primeiramente, a partir do que conhecemos. Não apenas enquanto consumidores, porque é sobre esta perspectiva que muito se fala sobre “conhecer a lei”, mas em todos os âmbitos deve-se estar atento. Como na Física, ao Direito também se pode aplicar a Terceira Lei de Newton, que trata da Ação e Reação; para uma ofensa moral, o Direito reage na forma do Código Civil, imputando ao ofensor a responsabilidade pelo ato e sua conseqüente punição. Para os que têm o dever de fazer (a obrigação) e não fazem, o Direito se opõe determinando que façam. Ação e reação, fenômeno físico (e de Direito) do qual não estamos isentos, bastando saber apenas de que lados nos posicionaremos... em nossas atitudes, no dia a dia ou à mesa de audiências.

Para nossa reflexão:O número daqueles que, nas coisas difíceis, raciocinam bem é muito menor do que aqueles que raciocinam mal. Se raciocinar sobre um problema difícil fosse a mesma coisa que carregar pesos, então muitos cavalos carregariam mais sacos de trigo que um cavalo só, e eu concordaria mesmo que a opinião de muitos valesse mais que a de poucos; mas raciocinar é como correr, e não como carregar. Assim, um cavalo de corrida sozinho correrá sempre mais do que cem cavalos frisões” (Galileu Galilei em O Ensaiador).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Isto aqui ô ô (também) é um pouquinho de Brasil iá iá


E pensando bem, muitas dessas coisas que julgo serem simples de resolver, não são. Frutos de ingenuidade, as soluções que costumo encontrar para resolver problemas, aparentemente simples, in verdade, são ineficazes, ou melhor, impraticáveis. Não as vejo sendo executadas, portanto, resta-me crer que só podem ser “sonholuções”!

Acabei por concluir, de maneira forçada, que a sociedade politicamente e sócio-ambientalmente correta é utópica, coisa que seria vista apenas em filmes de Steven Spielberg... Ingenuidade, sem dúvidas!

Durante a semana acompanhei o caso do lixo hospitalar que tem sido utilizado na indústria têxtil brasileira... Vamos pensar um pouco sobre isso: Estados Unidos e Portugal não tinham para onde enviar seus restos hospitalares e aí surgiu a grande ideia! Por que não enviar para o Brasil?! Preço acessível, colaboradores tupis inteiramente à disposição e pronto! Lixo pra cá, porque aqui, com o famoso jeitinho brasileiro, lençol contaminado vira “bermuda de praia”... Verão está chegando, não é?!

Historicamente o desdém dos EUA pelo mundo poderia explicar esse mal entendido aqui no Brasil, esse mal entendido de achar que aqui é uma espécie de “lixão mundial”. Para os portugueses, talvez, tenha sobrado resquício de quando o Brasilzinho era colônia. É pode ser... Mas o que explica, ou como se explica que nós, brasileiros, atentemos contra nosso patrimônio permitindo este tipo de prática? Em solo brasileiro “parece” ser comum confeccionar roupas com retalhos, sobras de lençóis hospitalares nunca utilizados... Bolso com a inscrição Barra D’Or, São Lucas... Será? Volto ao pensamento ingênuo, porque a esta altura é só o que me resta.

Em 2009 a “finíssima majestade européia” teve problemas para descartar seu lixo, então empacotou tudo e mandou para o “plebeu Brasil”. E na época escrevi a respeito: Só esqueceram de avisar que aqui não há lixeiras para abrigar toneladas de entulho alheio e que, o Brasil não está interessado nas dores de cabeça da nobreza... Aproveitei aquele ensejo para tratar sobre reciclagem e, atualmente, pensando na barbárie do lixo hospitalar estrangeiro, penso que é necessário esclarecer: RECICLAR NÃO SIGNIFICA TRANSFORMAR LENÇOL ENSANGÜENTADO EM ROUPA!

Brasil, meu Brasil brasileiro da “Aquarela” de João Gilberto, Brasil que canta e é feliz. Diga-me: “Isto aqui, o que é?” Caetano Veloso?

Utopia, sonho... Ingenuidade... Não importa. Lá vou eu: É preciso fiscalizar constantemente, atentar para abusividades do tipo e impedir que reincidam. Fiscalização portuária rígida quanto à “pacotes” vindos de outros países sob encomenda ou sob pressão. Isto aqui é um pouquinho de Brasil iá iá e não a casa da mãe Joana, onde se faz o que bem entende! Cidadãos, integrantes desta sociedade, nós temos voz ativa e imperativa sobre questões que versam sobre o bem comum. Isto aqui é nosso! Bastam de omissões, acomodações e egoísmos. “[...] é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”. (Ariano Suassuna). Mas não é impossível; não enquanto houver disposição e esperança.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada, Articulista e principalmente, cidadã!)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Patrimônio Público


Nunca será excessivo falar sobre o Itabira, ainda mais se as questões a serem abordadas forem, como são, pertinentes, atuais e de domínio público (ou ao menos deveriam ser). Na última sexta-feira, 07, o Conselho Municipal do Monumento Natural do Itabira se reuniu para, finalmente, aprovar seu regimento interno e por assim dizer, dar o “pontapé inicial” nas realizações práticas e efetivas do conselho a respeito do Monumento Natural.

A criação de conselhos para gerir áreas importantes no município torna-se, cada vez mais, registro da Administração Casteglione. A delegação de poder aos conselhos permite que haja maior participação na tomada de decisões, fazendo com que, teoricamente, comandos despóticos inexistam. Sobre a questão Itabira, mais especificamente, não tenho medo de tornar-me repetitiva, pois é tema que vale (e muito) a pena.

A cadeia de montanhas que compõe o quadro Itabira é referência para Cachoeiro de Itapemirim e isso significa dizer que, o privilégio de estar sob o “olhar atento das montanhas” não é exclusivo de quem reside na região próxima ao Itabira, mas é, de fato, agraciamento a todos os cachoeirenses, tornando-a assim patrimônio público. E aquilo que é de todos, sabe-se, primariamente, que deve ser zelado por todos.

A realidade da região do Itabira sofreu abruptas mudanças em pouco tempo, especialmente no que se refere à redução da área de “preservação” (digamos assim, grosseiramente). Alguns “investimentos” no local, por exemplo, não condizem com as características e tão pouco se amoldam àquele meio; foram responsáveis por abrir uma ferida na paisagem. Muito se diz sobre investir, ampliar e gerar renda, mas em casos como o do Itabira (que mereceu até conselho próprio) deve-se avaliar, cuidadosamente, que tipo de investimento fazer.

A área, que é tão próxima ao centro da cidade, não pode tornar-se uma extensão deste. O Itabira possui identidade e personalidade que não podem, de maneira alguma, serem usurpadas. Para os que defendem a expansão comercial, vale dizer que, em momento algum há repulsa quanto a novos investimentos na localidade. Existe, tão somente, a preocupação de que tais investimentos sejam absorvidos pelo meio a tal ponto de confundirem-se com ele. As incompatibilidades não podem vingar, porque estariam perseguindo a mesma linha de raciocínio que transformou, desconfigurou e desmatou quilômetros de mata virgem em busca 
do “crescimento”, conforme se banalizou em nossa história.

Há tempos convoco a população para abraçar a causa Itabira, reconhecendo que nela há interesse público. Assim como há (ou deveria) interesse público em outras questões tão pertinentes que acabam sendo deixadas à margem de nosso poder fiscalizador-zelador. Nos atuais dias, não nos basta sermos povo, devemos participar! E só tem direito de exigir, aquele que se sente no dever de fazer parte. Portanto, ainda que repetidamente, abandonemos nossa zona de conforto e passemos a ser escoteiros de uma nova sociedade: SEMPRE ALERTAS!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Por acaso


A vida deveria ter mais daqueles acasos não premeditados, não estabelecidos, não agendados. Acaso é acaso e pronto! Simplesmente acontece, sem previsões, sem acordos... São, por natureza, os planos mais bem sucedidos!

O homem é do tipo que quer estabelecer e possui forte tendência a padronizar o dia-a-dia: acorda, pula da cama (quase sempre atrasado), vai ao banheiro, se veste, toma café (quando dá tempo), chega ao trabalho, se cansa, reclama, torce pelo final do expediente (até que ele efetivamente chega), sai do trabalho, encara o trânsito, volta para casa, liga a TV, come e... Dorme! No dia seguinte repete-se a rotina e a rotina de segunda a sexta interrompe-se no sábado, para que a rotina do final de semana tenha, também, a sua vez.

E quantas coisas se repetem uma, duas, três, quatro, cinco, infinitas vezes e nós, acostumados ao “repeteco”, pouco nos importamos? Ou talvez sintamos vontade, necessidade de mudar, mas os (maus?) hábitos são tão fortes que acabam por nos incapacitar, criando barreiras aparentemente intransponíveis; as mesmas barreiras que nos impedem de viver o acaso.
Se eu pudesse viveria de acasos! Essa mesma espécie de ocasião imprevista produtora de fatos que dá significado ao “Epitáfio” melodioso dos Titãs: “O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”.

A não necessidade de se estabelecer regras é que faz do acaso algo muito bom. Quando não se planeja, quando simplesmente acontece, dá-se a surpresa e certamente ocorrerão grandes chances de ser inesquecível. As melhores saídas, os melhores encontros, os melhores sorrisos, os grandes amores... Frutos do inesperado, do imprevisível que torna a vida mais leve e “desfrutável”.

Não, não é de se pregar uma vida sem limites, com fronteiras inatingíveis; é de se pregar a auto-permissão, o direito individual e intransferível de ser autêntico, aleatório e responsável, muitíssimo responsável por si e pelo outro, de modo que a liberdade de um não interfira na liberdade do outro.

Numa sexta-feira, após o expediente, se você decidir parar num bar com um amigo e, enquanto conversam, observa que na mesa ao lado há alguém que, sozinho, dedilha um violão. Você canta, silenciosamente, as músicas que o “cara da mesa ao lado” toca, você gostaria de juntar-se a ele... Neste mesmo contexto, a grande diferença entre “observar e sorrir”, está na conjunção que será empregada na frase: Usando uma conjunção adversativa, quase sempre exemplificada pelo “mas”, você continuará sendo um observador.  Já usando uma conjunção aditiva, quase sempre expressa pelo “e”, você será alguém que passará ótimos momentos sorrindo e cantando (ainda que não seja afinado, que não saiba o ritmo da canção, que pouco entenda de música), porque foi justamente no “E”, que você mostrou-se suficientemente capaz de permitir que o acaso fizesse parte de sua vida! O acaso é aquele de repente que quase sempre termina em sorrisos.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ela é assim


(para minha amiga Suelen)














Ela é assim:

Meio louca e um pouco santa
As vezes séria e outras vezes...
...outras vezes não sabe parar de rir.

É meio bruxa, meio fada.
Mostra-se forte, intocada,
Mas tudo se transforma
Como num passe de mágica.

Tem seus encantos, suas malícias,
Tem seus mistérios, seus segredos,
Mas com suas palavras faz tudo perecer um “brinquedo”.

Parece um pássaro,
Voa alto em seus sonhos.
Nada para ela é enfadonho.
Ela é assim...

Com seu jeito de criança,
Ela sabe conquistar, viver e amar...
...amar muito.
Mesmo que o amor que sente
Esteja longe dos olhos da gente...

Por amar demais
Ela já sorriu, sofreu, chorou...

Do verde de seus olhos
Ao vermelho das lágrimas.
Ela é assim...

Não é pobre, não é rica,
Mas tem um grande tesouro:
Tem seu coração e seu sorriso
Que valem mais do que ouro...

Eu gosto dela assim,
Sem conter o sorriso,
Transbordando alegria,
Espalhando sua magia a todos os seus.

Ela... Ela é assim,
Uma mistura,
E tem sua doçura...
Um pouco de tudo.

Pensativa ou risonha
Lúcida ou insana
Nada importa,
Porque ela... Ela pode ser assim!

Amiga, irmã, conselheira,
Ela entende e quer ser entendida
Ela ama e quer ser amada...

A história dela é assim
Intensa, mágica, triste...
...feliz.
Um sonho sem limites... Um sonho sem fim.


Valquiria Rigon Volpato
10 de abril de 2003.

sábado, 24 de setembro de 2011

De olhos bem fechados


Fechei os olhos,
Apertei-os bem,
Esforcei-me para mantê-los assim...

Lembrei-me da felicidade,
Dos risos que faziam das tardes as mais belas.
O sol sobre a pele branca, o calor da juventude...
...tudo aquilo poderia ser instantâneo,
Mas para mim significava a eternidade.

De olhos bem fechados,
Embarquei na mais linda viagem.
Ali, de olhos fechados,
A vida chamou-me pelo nome e sorriu faceira.

Entre o fechar das pálpebras,
Até o instante de enxergar a alegria que veloz se aproximava,
Mal percebi a escuridão...


De olhos fechados,
Vivi outra vez; ressurgi do pó e alcei vôo.
Mas uma lágrima interrompeu meu riso.
Trouxe outra vez a solidão e a dor.

Numa velha cadeira, imóvel, empoeirada...
...sozinha. Tive de abrir os olhos.
Findou-se a vida;
Calou-se em meu pranto;
Fugiu deixando-me para trás.

Valquiria Rigon Volpato
03 de março de 2010
(24 de setembro de 2011)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os ACOMODADOS que se mudem

Acho que todo o problema se resume nisso: há muitos acomodados por aí. Foi esta a conclusão a que cheguei. Tudo tem funcionado meio assim, meio parado, meio sem funcionar, é um típico “mais ou menos” que só pode ser atribuído ao acomodado, que tem característica própria, é cheio de manias e sempre, sempre mesmo, fica observando ao invés de agir.

Tem acomodado para todos os gostos, tamanhos, dá para escolher. Tem aquele acomodado que se sente mais seguro em sua cadeira (onde costuma pensar que é rei) e sua frio quando vê alguém se aproximando. A situação é mais ou menos assim: “Ei, boa tarde! Você pode ver isso aqui para mim?”. Frase mortal para o acomodado-rei (vamos chamá-lo desta forma); o danado começa a ter calafrios e costuma fingir que não ouve (é uma defesa natural do tipo). Contudo, se o indivíduo que está pedindo ajuda não se intimida com essa reação e insisti em seu propósito, pode estar correndo sério risco: quanto mais acuado, mais agressivo. A resposta pela insistência é automática: “O senhor está no setor errado” (Ah sim, esqueci de dizer. Os acomodados-rei também têm o dom de saber o que você quer sem sequer levantar-se da cadeira ou mesmo olhar o papel que você, indivíduo, tem nas mãos). Normalmente o desfecho mais comum para o caso é a desistência... a sua desistência, porque não pense que um acomodado-rei será menos inflexível ou que após horas de espera ele irá se solidarizar com sua “cara” de desespero. Nada disso. Outra característica dessa espécie é a capacidade de ficarem longos períodos imóveis. Haja paciência!

Temos, ainda, os acomodados mestres em disfarce (e para estes é preciso tirar o chapéu). São treinados e disciplinados na arte da embromação. Fisicamente são parecidos com os acomodados-rei, mas a expressão os difere. É possível notar a face apreensiva, concentrada na atividade diante de seus olhos. Sempre rodeados por inúmeros papéis (quase sempre eles não sabem do que se tratam) são facilmente absorvidos pelo meio. Enquanto os acomodados-rei fingem não ouvir, os que disfarçam realmente não ouvem. Sua principal atividade é o jogo de Paciência, parte integrante do Windows, disponibilizado em quase cem por cento das repartições, empresas, Brasília...  (habitat natural dos acomodados-mestres-do-disfarce).

Por último, porém em maior número, está o acomodado-reclamão. Espécie facilmente encontrada e se destaca. Impossível não reconhecê-lo, pois sua principal atividade é reclamar e cruzar os braços... Levar a mão ao queixo, em alguns casos, e coçar a cabeça em outros. Preocupa-se muito com a vida alheia e nada é capaz de agradá-lo; tem forte tendência ao mau-humor e assim como os seus semelhantes, fica doente só de ouvir falar em se mover... Nossa sorte é que esta espécie, apesar de numerosa, não é absoluta. Por exemplo, a raça dos incomodados, que não se dão por vencidos, que não param, que brigam, que as vezes exageram (querem abraçar o mundo). Podem até não serem otimistas demais, mas preferem dar a cara a tapa a se esconderem em seus artifícios. Invejosos (acomodados) costumam dizer: “Os incomodados que se mudem”. Ora, que se mudem vocês, acomodados, e comecem, também, a se incomodarem. Quanto mais gente se incomodar, mais atitude se terá. Isso de cruzar os braços e observar é coisa de quem não está nem aí. O negócio é fazer a diferença.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Agroecologia: sinônimo de qualidade de vida


Na última semana Cachoeiro abriu suas portas para sediar o II Seminário Estadual de Agroecologia, que ocorreu nos dias 13 e 14. A iniciativa do Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca – SEAG, em parceria com outros órgãos que visam desenvolver e criar políticas de sustentabilidade para a vida agrícola, foi amplamente encampado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural – SEMDER, coordenada pelo Secretário José Arcanjo Nunes, e também pelo INCAPER.
Com público que superou expectativas atingindo número de aproximadamente quatrocentos participantes, o Seminário Estadual, que é itinerante, foi marcado pelo sucesso, graças à realização de um bom trabalho. Produtores rurais, jovens de Escolas da Família Agrícola – EFA de Cachoeiro, Castelo, Mimoso e Iconha, autoridades estaduais e municipais, dentre outros, puderam interagir e aprender um pouco mais sobre a Agroecologia que, basicamente, consiste em uma proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável; uma ciência integradora que agrega conhecimentos de outras ciências, levando em consideração a prática empírica proveniente das experiências de agricultores familiares que vivenciam outra cultura, em outras regiões.

O primeiro dia de trabalhos foi encerrado com apresentações culturais. Merecem aplausos o “Boi Pintadinho” de Muqui, a viola dos seresteiros de Jerônimo Monteiro, o sertanejo universitário de Gabriel & Edivando (meninos de Vargem Alta) e a surpresa da noite que ficou por conta da participação internacional do cantor e compositor Reinier Valdés e da artista plástica Adela Figueroa, cubanos, que estiveram no sul do Estado a fim de participarem do circuito cultural “Arte entre povos”, realizado pelo IFF de Itaperuna em parceria com a Associação José Martí de Aré – RJ.

Para que não passe em branco, vale dizer que Cachoeiro não faz parte do circuito cultural “Arte entre povos”, entretanto nada impede que no próximo ano integre os municípios que recepcionam as tão diversificadas apresentações culturais. O Prefeito, que também prestigiou o Seminário, pôde observar a qualidade artística de todos que fizeram seu show, porém, cito especialmente Reinier e Adela, porque não estavam incluídos na programação e Cachoeiro os “ganhou de brinde”. Havendo interesse, no próximo ano, a cultura local poderá ser acrescida por mais este adjetivo, com apresentações, quem sabe, em praça pública, onde todos terão a chance de conhecer e interagir com a musicalidade e a arte de nossos irmãos cubanos. Fica a dica!

A busca por sustentabilidade há muito deixou de ser utópica. Pequenas ações cotidianas fazem toda a diferença. Exemplo de ação que fez a diferença foi dado durante o Seminário com a preocupação de substituir os famosos copos descartáveis por canecas de louça. Cada participante recebeu sua caneca e a missão de zelar por ela, evitando-se, assim, que centenas de copinhos plásticos fossem, literalmente, descartados.

O saldo (positivo) do II Seminário Estadual de Agroecologia pôde ser notado com satisfação nas palavras da Subsecretária de Agrodesenvolvimento Municipal, Edlene Barros. Enfatizando a importância da Agroecologia como contexto de qualidade de vida, Edlene mostrou preocupação em criar e expandir políticas para o homem do campo; incentivos para a produção de alimentos livres de agrotóxicos, além de maior geração de renda que aqueça e impulsione a “vida agrícola”.

É gratificante saber que Cachoeiro está entre municípios que incentivam a agroecologia como estilo de vida, como sinônimo de qualidade que começa no campo e que, em seu percurso, tem o objetivo de tornar o cotidiano mais saudável e, principalmente, sustentável. Que assim permaneça; que assim continue!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A busca de sentido nas coisas que se faz


Ao folhear um livro técnico jurídico, me surpreendo, em suas primeiras páginas, com uma inusitada particularidade: um trecho no qual o autor descreve sua busca de sentido em suas ações, relembrando, deste modo, alguns de seus momentos vividos. A noite veio, o frio nada convencional nesta cidade, em um inverno que já enrijece o corpo, demandando que fechemos janelas, para que assim consigamos dele escapar. Esse simples ato de “fechar janelas” na tentativa de manter afastado de nós esse já rigoroso frio noturno, revolve, em minha mente, a imagem e ideia de pessoas – que assim como nós, também seres humanos - que não possuem janelas e portas a serem fechadas, ou quiçá paredes e teto. Tudo isso me fez pensar em qual seria o sentido de ser “mais um” dos eleitores a votar nas próximas eleições, em face à atual distorção da ideia de política, que se altera no limiar dos anos pelas campanhas eleitorais - que mais se parecem com tramas de novelas.

A política, em suas diversas manifestações, que deveria então organizar a vida e o convívio social, atendendo a princípios da legalidade, moralidade, ou eticidade, promovendo, deste modo, a igualdade fática, conseguida, como o dito por Rui Barbosa, pela análise e balanceamento das igualdades e desigualdades, possui atualmente função apenas mantenedora do status quo de determinadas “castas”, ou, mais adequadamente, famílias. Parece que se esquecem, nossos governantes, durante o exercício – para mim considerado um tanto quanto arbitrário – de seus mandatos, o compromisso, não somente eleitoral, assumido perante o depósito do voto na urna, mas também moral, assumido pela simples condição de serem eles também humanos, de que, em situação semelhante, desprovidos das paredes e portas de seus luxuosos palacetes, comprados pelo duro suor de nosso trabalho, sentiriam, assim como os menos favorecidos, esse frio cortante.

Não! Nós, povo, não temos o governo que merecemos! “É chegado o momento de dar um basta na corrupção que se alastra”, diz a frase que ouvimos, bombardeados pela mídia televisiva, e assim, iludidos pelas promessas, aceitas não mais pela ingenuidade ou esperança de modificação, mas já pela completa falha de um sistema político administrativo, em si já corrompido por extensos jogos de interesses ou outras práticas um tanto quanto duvidosas. Praticas essas, apodrecidas já em sua essência, que vêm prejudicar, ainda mais, o nosso já falido sistema.

Às vezes me pergunto se seria isso uma deturpação da condição humana, ou uma questão já absorvida pelo meio social, como o fez Elisa Lucinda em seu poema “Só de sacanagem”, mas, ao me deparar com relatos comovidos, como o feito por Ariete Moulin em seu “A colcha de Piquet”, percebo que não seria essa a questão. Falta sim a humanização da política, que as ações de nossos governantes, sejam por eles vistas não como a mera manutenção ou favorecimento de seus próprios interesses, mas como uma ação que vincula e influi na vida de milhares, milhões e até bilhões de pessoas, e, portanto, responsável pelo destino de grandes cifras de seres humanos.

Que bom seria, - quase que uma bela utopia - se administradores públicos tomassem consciência desse frio, e em uma alusão ao grande filósofo alemão Immanuel Kant, vissem suas ações como um imperativo categórico, onde somente se deve agir de tal maneira, se se pode aceitar que tal modo de agir se torne universal, sem prejuízo à ninguém. Que eles não precisem sentir este frio para sabê-lo.

(Vinícius Stanzani Longo)

Daqui e Dali


Um alerta: Não julgo ser crendice boba aquela velha história de fazer segredo sobre novas realizações ou pretensões, porque o que tem de “olho gordo” por aí, não é brincadeira! E isto é somente um alerta aos menos precavidos, aos mais inocentes e àqueles que pensam estar imunes às maldades alheias (Seria isso magia negra? Algum tipo de força sobrenatural? De maneira alguma. Trata-se do mais cristalino oportunismo). Que a vida em sociedade transformou-se numa espécie de “mata-mata”, ninguém duvida. As ambições cresceram mais do que à (quase extinta) solidariedade; não se recebem mais presentes: uma mão dá e a outra tira. Isso porque, como já dizia Carlos Drummond de Andrade: “Todos os partidos políticos, são iguais. Todas as mulheres que andam na moda são iguais. [...] Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. [...] Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho ímpar”.

Fiquei sabendo: Lá pela segunda ou terça da semana passada, fiquei sabendo que tem obra novíssima do governo já sendo devastada. O tom de rima é proposital, era sim a intenção, porque tal obra deveria favorecer a educação... Reforma do Liceu: quem mais tem ouvido falar sobre isto? Alguém que não seja eu?! O que me disseram é que tem gente “relaxada” destruindo partes reformadas e isso, definitivamente, não está certo.
Prefeitura: Olhar atento! Averiguar, identificar o problema e seus causadores; aplicar penalidades para reprimir a prática do vandalismo.
Pais, alunos, professores: Vocês também possuem poder fiscalizador. Não permitam que uma obra inacabada tenha de ser refeita. Os pais devem orientar os filhos e estes, por sua vez, zelarem pelo patrimônio que também lhes pertence. Professores, ainda que a carga sobre seus ombros seja excessiva, não se privem de exercer, neste caso, o papel de educadores para a vida... doa a quem doer.

E vai ficar assim?: Cadê a faixa de pedestres que ficava na Avenida Bernardo Horta, em frente ao Supermercado Casagrande, hein? O trânsito sofreu alterações e algumas faixas “evaporações”... O pedestre acostumado a cruzar a avenida para fazer compras, agora, se quiser, deve caminhar até próximo ao sinal, em frente ao Perim (o “Perinzinho” como se costuma dizer) para realizar a travessia.
Como estou sempre na situação de quem sugere alguma coisa, sugiro que seja repensada a localização da faixa de pedestres... E deixemos o “duelo das compras” para quem entende!

Citação: “Na realidade, o príncipe natural tem menos razões e menos necessidade de ofender, por isso se conclui que deva ser mais amado. E, se não se faz odiar por vícios demasiado grandes, é razoável que seja naturalmente benquisto de todos os seus”. (In “O Príncipe” de Maquiavel).

(Valquiria Rigon Volpato)

...


Feri-me.
O rubro sangue tinge aos poucos a alva pele.
Por sulcos imperfeitos espalha-se.
Inventa caminhos pré-traçados...

Feri-me.
A dor do corte percorreu-me o corpo.
Calafrios. Tensão. Dor.
Ferida aberta, uma fenda de carne e sangue...

Feri-me.
I closed my eyes.
Desejei não estar ferida (e não sentir-me ferida).
I hoped to see different things… but… was late.

Feri-me.
And I really don’t know how I could do this.
Encharcou-me o sangue ainda aquecido…
O mesmo que, pouco antes, garantia-me vida.

Feri-me.
Dor física. Superável.
Pele. Sangue. Carne. Cicatriz.
Sarada a ferida, esquecida a dor. Fim.

Feri-me.
Não vi o sangue inventar caminhos.
Pele e carne mantiveram-se intactas.
Dor? Sim.

Feri-me.
Não o corpo.
Machucou-me a alma.
Arrebentou-me o coração...

...não sangrei; consumi-me em dor.

E fim.

Valquiria Rigon Volpato, 11 de setembro de 2011.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mais um conselho ao Conselho do Itabira


A QUESTÃO AMBIENTAL, INDUBITAVELMENTE, É PONTO CENTRAL A SER DISCUTIDO PELO CONSELHO DO ITABIRA. Esta é uma frase afirmativa, na voz passiva, mas que precisa ser transformada em voz ativa, em favor da sociedade cachoeirense; em favor da conservação e exploração sustentável da região do Itabira.

Segue narrativa sobre episódio ocorrido na última semana:

Na manhã do dia 15 de agosto, percorrendo caminho que normalmente traço para chegar ao trabalho, no trecho compreendido entre a Rodovia do Contorno e o Bairro São Luiz Gonzaga (na “matinha”) havia, numa extensão aproximada de 30 metros, líquido de cor escura e espesso derramado no solo. A impressão do momento era de água misturada a óleo diesel e graxa. Exemplo de degradação causada pela falta brutal de educação e consciência sócio-ambiental. No intento de atuar, de alguma forma, na preservação e prevenção de novos casos, dirigi-me à Pasta de Meio Ambiente, conversei com fiscal de postura ambiental e a orientação que obtive foi a de buscar a Ouvidoria (número para contato 156). Em contato com a Ouvidoria, repeti os fatos e para tal atendimento recebi o número de protocolo 7815.

Ocorre que, o encaminhamento feito pela Ouvidoria retornou à Pasta anterior, que novamente recomendou contato com a Ouvidoria, agora, para que fosse designada secretaria para a remoção do resíduo. Aparentemente a Secretaria mais indicada para a feitura da limpeza seria a SEMSUR, porém não voltei a manter contato com a Ouvidoria.

Estes foram, em síntese, os fatos. Claramente nota-se que o problema não foi resolvido e o grande impasse encontrado para sua não resolução foi o de que: “sem conhecimento do agente causador do dano, ficaria quase impossível tomar providências cabíveis, restando, apenas, a limpeza do local”. Concordo em parte. Com a licença de quem está disposto a “brigar” por melhores e maiores ações, não só na ceara municipal, mas, neste caso, especialmente nesta “lavoura”, não posso, de maneira alguma privar-me de, ao menos, sugestionar.

Há poucos dias tomou posse o Conselho do Itabira e, em artigo específico, atrevi-me a opinar sobre as futuras ações deste Conselho. É sabido que não houve tempo para atuação além das procedimentais, internas, entretanto, acredito que é no início mesmo que devemos expor opiniões, pela simples questão de que, é mais fácil dar ensinamentos a uma “criança” do que mudar pensamentos (pré-formados) de um “adulto”.

Assim, sobre os fatos anteriormente narrados, vejo que é possível haver atuação do Conselho. O trecho mencionado é, há muito, alvo de vandalismo, sendo que o despejo do resíduo aparentemente misturado com óleo e graxa foi apenas mais uma atitude de desrespeito. Neste momento, para quem quiser conferir, basta transitar naquela região e atestar o que está aqui escrito.

A “providência” que sugiro ao Conselho é que, estude a hipótese de instituir fiscalização mais acirrada para a região. Flagrar os infratores sabe-se que não é tarefa fácil, contudo, intensificando a fiscalização, certamente, haverá um pouco mais de receio daqueles que preferem degradar o meio ao invés de preservá-lo. Sim, é, no momento, sugestão, mas que poderá se tornar realidade. Dependerá de estudos e, principalmente, de vontade de fazer acontecer.

Enquanto houver possibilidade para, neste espaço, opinar, reclamar e, principalmente, sugestionar, certamente será feito. Em prol do Itabira, em prol de Cachoeiro, em prol da sociedade, em prol do coletivo, que merece ser respeitado e ver aquilo que paga ser retornado em seu favor.

“Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu” (Nicolau Maquiavel).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Homem: Prisioneiro de si


Organizando algumas pastas, reencontrei este “velho amigo”. Senti saudades, convidei-o para entrar e tomar um café, enquanto juntos relembrávamos antigas histórias. Disse-me ele assim, em um de seus curtos monólogos entre nosso diálogo:

Estar encarcerado não significa que haja paredes ou grades ao redor. O cárcere é proveniente, também, das prisões que o próprio homem cria para si, seja em jaulas ou mesmo em sentimentos. Nem todo cárcere é forçoso; há aqueles que preferem as trancas de um “seguro” cárcere, às asas de uma “temida” liberdade.
Ser livre também não significa estar fora das grades, longe de paredes, imune às prisões. Ser livre, e mais, ter liberdade, é sentir a alma fresca, como sentir entre os cabelos o passar dos dedos da brisa suave. Liberdade, assim como o cárcere, é um estado de espírito, onde a autoridade de tirá-la ou concede-la cabe a si.

Cárcere e liberdade são paradoxos, como o são amor e ódio. Há quem diga que os sentimentos paradoxais se atraem, se complementam numa órbita de possibilidades. Um prisioneiro só almeja liberdade quando julga não tê-la, quando ao longe vê o sol pequeno esconder-se no horizonte, através de uma estreita janela, de sua cela ou de sua alma.

Na agitação da contemporaneidade, os homens vivem numa grande prisão, e não importa para onde vão, sempre estão presos à materialidade que julgam ser indispensável à sobrevivência. Desaprenderam a conviver com a natureza, fazendo dela sua mais ilustre prisioneira, entretanto, se esqueceram que não podem caminhar além de suas pernas, e aos poucos ela recupera sua liberdade.

Se toda canção de liberdade vem do cárcere, é certo que, neste momento, muitos estão cantando, enquanto outros jamais aprenderam a cantar. Engraçado é que nessa vã filosofia humana, há tentativas frustradas de se determinar o indeterminável, decifrar o indecifrável e tudo isso porque o homem busca liberdade, pois sabe que aí está o seu pior cárcere: o medo. Medo do desconhecido, por só saber lidar com aquilo que conhece.

Não haveria liberdade se não fosse o cárcere e vice-versa. A dependência é do ser humano, assim como as amarras também é ele quem cria. O homem, nada mais é, do que prisioneiro de si”.

Homenagem: Pai! Você foi (é) meu herói, meu bandido (porque todo o dia me rouba sorrisos). Hoje é mais, muito mais que um amigo (e por isso) nem você (nem eu) nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse (meu) caminho, que hoje eu sigo em paz... Pai!
Feliz dia, Papai!

(Valquiria Rigon Volpato)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Orgulho de ser cachoeirense

Pretensão das pretensões: comparar-se e encontrar semelhanças! Explico. No próximo dia 11 Cachoeiro comemora o Centenário de Newton Braga que, só neste espaço, tantas vezes foi citado, lembrado, mencionado, homenageado e com justo merecimento, não somente por sua construção literária, mas por tantas outras qualidades; por ser filho de Cachoeiro e por ter orgulho de ser cachoeirense.

E, igualmente, no próximo dia 11, comemora-se o Dia do Advogado. Newton Braga foi advogado, não muito amante dos ternos e gravatas, mas sinto que apenas por tê-lo como “colega de profissão”, temos mais um motivo para nos orgulhar, mesmo sabendo das inúmeras e injustas piadinhas sobre a classe (!).

Contudo, ainda não cheguei à explicação que fiquei devendo. Quando mencionei a “pretensão das pretensões”, expunha-me, nada modestamente, (mas creio tratar-se de fato inerente aos nascidos em Cachoeiro...).

Enquanto escrevia, entre pensamentos, fez-me feliz pensar que, assim como Newton, também sou advogada; que ousadamente (e neste tocante não nos parecemos, porque Newton detinha maestria na escrita) rascunho poemas e algumas crônicas; que me permitem publicar meus ensaios no jornal; que tenho apreço pelo jornalismo; que principalmente, assim como ele, orgulho-me de ser cachoeirense!

Quando crianças é mania que nos perguntem: “o que você vai ser quando crescer?”. Sei que dei várias respostas a esta pergunta, mas de duas não esqueço: queria ser jornalista e escritora... Naquela época ainda não conhecia Newton, mas se o conhecesse, certamente, diria qualquer coisa assim: “quando crescer quero ser um pouco Newton Braga”. Porque um pouco de tudo que queria (e quero) se resume nele.

Peço desculpas ao aniversariante pela “boba” comparação, mas por estatura e nascimento, ganhei a ousadia e aí a pretensão. “Poeta, que eu seja sempre poeta, pela glória simples de ser poeta e de saber cantar; que me dês segredo da suprema ironia e da profunda piedade, e a soberba humildade de ser só e de saber sonhar”. (Oração – Newton Braga).

Parabéns Cachoeiro, por ter sido “mãe” e embalado em teus braços Newton Braga! No ano do Centenário fato é que ele faz mais um aniversário, entretanto, o presente já ganhamos desde 1911, quando Newton nasceu. “...e então, certo dia, por acaso, nós nos veremos, de novo, frente a frente. Cada qual  estará algemado a outros destinos e parecer-nos–á que andamos às tontas, muito tempo,e que as estradas que julgávamos familiares e imutáveis eram mundos estranhos em que vivêramos sonâmbulos. Um pequenino detalhe qualquer, vago, impreciso - o meu modo de olhar, teu jeito de sorrir, um gesto, uma expressão, um desses quês inapagáveis - reacenderá, talvez, por um momento, a memória de outros tempos e outros sonhos [...]e então cada qual continuará o seu caminho, pisando firme, com decisão, obstinadamente; - nenhum dos dois olhará para trás..”... (E então, certo dia, por acaso – Newton Braga).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)