"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Se matares os desejos, matarás a mente. Um homem sem paixões não possui motivos para agir"

(Claude Adrien Helvetius)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cansei...


Cansei. Cansei mesmo de tanta gente que me diz mentiras, que parece ter prazer em me enganar. Passei uma boa parte de minha vida crendo que sabia qual era meu objetivo e como num sopro, tudo aquilo em que eu pensava crer se desfez.

Cansei, cansei de levar a vida tão a sério, de achar que tenho muitos anos pela frente, quando amanhã mesmo posso não acordar. Aquela história de viver cada dia intensamente como se fosse o último não "colava" comigo: Loucura! É, eu pensava assim. Eu tinha uma montanha alta chamada Realidade, da qual eu não pensava sair; queria a segurança daquela montanha e me afastar dela causava-me calafrios. É, eu vivia assim. Mas estou aprendendo que viver intensamente não é sinônimo de insanidade; talvez em alguns casos esses dois sejam vizinhos, irmãos ou colegas bem próximos... mas e se forem? Aprendo, a cada dia, que viver intensamente é não me preocupar tanto com o amanhã, é sorrir o máximo que eu puder; cumprimentar a todos que me olharem nos olhos e distribuir atenção, apenas pelo prazer de ver um outro sorriso se formar naquele outro rosto.

Cansei, cansei de ficar tentando adivinhar o que vão pensar se, numa sexta-feira, depois do expediente, eu quiser sair com uns amigos, sentar em algum barzinho e brindar à vida ou somente rir um pouco das tristezas e dificuldades do cotidiano. Eu queria ter mais coragem para ser eu, para ignorar aquilo que me faz mal; ter forças para rir quando querem me fazer chorar e pensar numa boa piada depois de ouvir coisas que não gostei de ouvir. Mas eu chego lá. Porque eu cansei de ver a raiva nos olhos dos outros e o medo nos meus; cansei de sentir o amargo da impiedade nas palavras alheias, enquanto as minhas palavras só queriam pedir perdão, perdão por aquilo que não fiz, perdão sem motivo, perdão porque estavam tão acostumadas a serem assim.

Cansei de confiar e achar que todos eram tão confiáveis quanto eu pensava que fossem. E logo eu que gostava tanto de confiar... A gente muda, mas algumas coisas eu gostaria que ficassem iguais para sempre. Queria meus avôs vivos para que eu pudesse conversar com eles tudo aquilo que não conversei; queria minhas bonecas e minha infância para não sentir o peso da responsabilidade sobre os ombros; queria ter continuado a gostar de café com leite, ovo molinho com arroz e caldo de galinha com angu... queria muito ter aprendido a comer jiló sem torcer o nariz...

Cansei da maldade impregnada nas pessoas, das discussões bestas pelo poder, das mortes ainda mais bestas por motivos igualmente bestas. Cansei de pensar que devo seguir um único caminho, enquanto vejo tantos à minha frente. Cansei de ter medo de tudo e ignorar aquilo que realmente poderia me fazer feliz.

Cansei de me enganar com mentiras tão ruins que nem mesmo eu sei como as inventei. Não quero viver imaginando um futuro distante ou me arrependendo de um passado monótono. Nada vai mudar. Só o que tenho é o presente, e é dele que vou cuidar; cuidar para que seja bom, tão e tão bom, que eu não terei vontade de pensar no futuro e muito menos terei motivos para querer mudar o passado. Eu vou viver. Eu decidi isso. Vou cuidar mais de mim e aproveitar todos os meus momentos de felicidade. Não quero ver minha vida escorrendo entre meus dedos. Quando olhar minhas mãos, quero vê-las cheias, transbordando as alegrias que tive. 

Valquiria Rigon Volpato
07 de outubro de 2009.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Até mais ver

Ei vem cá passarinho,
Tenho uma coisa para lhe contar:
Prometo que não lhe tiro mais do ninho,
Porque já não tenho bilhetinhos para enviar.

O que aconteceu foi que algo se perdeu.
Antes havia sol, era dia!
Agora... anoiteceu.
Foi-se embora, dos versos, a magia.

Ah, não me olhe assim,
Não vem com esse olhar umedecido.
Acalme-se que vou cuidar de mim.
Isso estava escrito, apenas eu não havia percebido.

Para você não farei disfarce,
Não há porque esconder.
Essa lágrima na face
É conseqüência da angustia de não ter.

Por enquanto, chega de sorrisos.
Esgotou-se o encanto,
Não quero mais vestígios
É hora de começar um novo canto.

Deixa assim como está,
Deixa, então, eu te agradecer.
Quem sabe um dia a gente se reencontra?
Tchau passarinho, até mais ver...

Valquiria Rigon Volpato
28 de junho de 2010.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je voudrais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre"

(Lamartine)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Como evitar o inevitável?

Em ritmo de desastres climáticos. É assim que está o Brasil e outros tantos países pelo mundo. Ela, que chega a escassez para alguns, tem sido a grande vilã na desgraça de outros, justamente por motivo oposto: a abundância. As águas de dezembro e janeiro em nada querem ficar devendo as águas de março, e com toda a força que lhes é permitida pela natureza, despejam sua fúria abundante sobre a terra.

Ela não escolhe aonde, apenas vem e arrasta tudo o que encontra, destruindo violentamente concreto e sonhos. Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro... Um privilégio às avessas da região Sudeste? Por onde passou deixou sua trilha de migalhas, porque são em migalhas que se tornam casas, carros, pontes e vidas... Muitas perdidas antes mesmo de terem a oportunidade de começar.

O pranto de quem perdeu amigos e parentes, confunde-se com o pranto de quem virou “milagre”. Não se têm mais moradia, roupas, sapatos; às vezes se tem vida, outras vezes não. A tragédia força o homem a igualar-se e restaura o princípio basilar onde todos são iguais, independente de cor, raça, credo. Diante do caos, todos são marrons, que é a cor do barro, da lama. Todos professam a mesma fé, que é traduzida na esperança de encontrar vida onde a morte parece reinar.

É tênue o liame entre angustia, incredulidade e o fiapo de sobrevida a que todos tentam se agarrar. Porém é preciso reerguer-se, ignorar o vazio, e como a fênix que ressurge das cinzas, numa nova invenção, ressurgirem das águas barrentas, do meio dos destroços.
E se é certo o provérbio, que de toda a situação vivida se extrai uma lição, que da desgraça de uns, venha lição para outros tantos.

Ricos ou pobres, brancos, negros, católicos, protestantes... É do mesmo sangue que são constituídos e quando a natureza mostra sua fúria, arrancando-lhes os bens mais preciosos, o tudo que levaram anos para construir, não importa o que possuem, onde estão, quem são. Nada importa a não ser se estão vivos ou mortos.

Poderia falar sobre os problemas de infra-estrutura e construção desordenada de casas em encostas e outros erros que influenciaram na dimensão da catástrofe. Poderia. Mas quando se está diante da dor, quando tantas vidas são perdidas, todo o resto é supérfluo e certamente pode esperar. Melhor e necessário é falar sobre a solidariedade, sobre o feixe de luz que ainda permeia os olhos de quem verdadeiramente crê que é possível suportar e superar.

Apenas quem perde sabe o valor daquilo que tinha. Muitos se julgam infelizes, amargam a vida com problemas pequenos, parecem procurar o sofrimento, quando, na verdade, são incapazes de mensurar o quanto são felizes... Mesmo sem saberem. “Se queres conhecer a paz e a serenidade, pensa nos miseráveis que padecem os maiores infortúnios, e acabarás por julgar-te feliz” (S.A.D.).

Valquiria Rigon Volpato - Advogada
"Viver, sofrer, morrer: três coisas não ensinadas nas universidades e que, todavia, encerra em si toda a ciência necessária ao homem".

(Auguez)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ofensa à dignidade ou mero aborrecimento?

É certo que o dia-a-dia está repleto de acontecimentos, uma esteira contínua e ininterrupta de fatos, o que costumamos chamar de “rotina”. Do BOM DIA ao BOA NOITE estamos sujeitos a inúmeras situações, afinal, trabalhamos, estudamos, caminhamos pelas ruas, convivemos nos mais diversos tipos de ambientes e com os mais diferentes tipos de pessoas. Trata-se de nossa rotina individual inserida na rotina coletiva da sociedade. E aí não há como escapar de alguns atritos, aborrecimentos, aumento do stress, cansaço... consequências da vida social. Mas e quando as chateações do cotidiano extrapolam os limites considerados aceitáveis? E quais são os limites “aceitáveis”? Atualmente, muito se fala em dano moral; ofensa (grave) à Dignidade da Pessoa Humana, princípio amparado pela Constituição Federal. Uma espécie de ofensa capaz de causar dor, vexame, sofrimento ou humilhação ao indivíduo.

No entanto, como mensurar a seriedade e a extensão desta lesão extrapatrimonial? Como saber o que causa dor, vexame, sofrimento, humilhação, se nem sempre as mesmas situações são encaradas da mesma forma por todos? Nem todos são afetados com a mesma intensidade pelos mesmos fatos. E é por este motivo que os critérios adotados no momento de identificar o que é ou não dano moral, devem ser claros o suficiente para que injustiças não ocorram; para que pessoas realmente ofendidas e merecedoras de reparação não deixem de ser socorridas pelo judiciário.

É fato que são abundantes as ações que visam algum tipo de reparação moral, inclusive, doutrinas e jurisprudências de todos os tribunais de segunda instância, de instância superior ou suprema, buscaram e buscam, de alguma forma, esclarecer as controvérsias a respeito da configuração do dano, do direito a indenização e a quantificação desta. Até porque, muito se fala sobre a tal “indústria do dano” e sobre indivíduos que se aproveitam de situações para extrair benefício pecuniário da parte contrária, caracterizando, assim, forma de enriquecimento ilícito, o que é altamente rechaçado pelo atual ordenamento jurídico.

Por outro lado, o repúdio por esta prática de beneficiamento à custa do dano moral é tão evidente que acaba por tornar as indenizações de alto cunho monetário cada vez mais escassas. Um alerta é para as situações em que o ofensor termina por não sofrer a repressão punitiva da aplicabilidade condenatória do dano moral, ou seja, o valor da indenização para alguns é ínfimo, e assim (erroneamente) podendo a ofensa passar a valer a pena.

Por mais que a questão dano moral pareça estar resolvida, esclarecida, não se pode, ainda, afirmar, seguramente o que é, quando acontece e quanto deverá ser imputado ao ofensor a título de reparação ao ofendido. Há casos evidentes, porém não são os únicos. Atenção para as situações do dia-a-dia, pois nem tudo que parece é e, as vezes, aquilo que parece não ser, acaba sendo.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Ano Novo... E a vida? Também?

O ano novo chegou, já é 2011, todas as promessas não cumpridas no ano passado foram renovadas, incrementadas e certamente muitas outras foram feitas. Natural. O homem é assim, precisa criar sempre novos objetivos, traçar metas; o fato de não ter um caminho a ser seguido causa insegurança e dá a impressão (correta) de que não se sabe para onde ir. É bom ter objetivos, assim não se perde a esperança e a vontade de continuar caminhando...

Neste clima de mudanças, de vida nova, quisera eu não ter que falar sobre os famosos problemas, entretanto e infelizmente, apesar do ano novo, existem problemas bem velhos a serem sanados. Primeiro há que se dizer sobre a enchente que assustou Cachoeiro às vésperas do revellión. Os lojistas do Centro tiveram graves prejuízos, perdas que foram contabilizadas e tentarão ser amenizadas por meio de empréstimos através do BANDES e BANESTES. A reunião para decidir sobre a verba especial liberada pelo Governo do Estado foi realizada no dia 04 último, no Gabinete do Prefeito. Resta a esperança de que o melhor e o possível sejam feitos, a fim de que todo o comércio atingido pelas águas esburrantes do Itapemirim, esteja recuperado e pronto para esquecer o ocorrido o quanto antes.

Mas, além dos prejuízos sofridos pelo comércio (e tantos outros moradores ribeirinhos que tiveram suas casas devastadas e que como se costuma dizer ‘perderam tudo’) outro desagradável efeito da enchente foi notado não apenas em Cachoeiro, mas também no litoral sul. Posso dizer a respeito do rastro de sujeira ‘vomitado’ pelo mar ao longo da praia da Cidade Nova. Infelizmente nos primeiros dias de 2011 não foi aprazível caminhar entre os restos da vegetação que fora arrancada pela força das águas. Entretanto, antes que maiores transtornos pudessem ser causados, na última quinta, o lixo começava a ser removido. Bom para os banhistas e turistas que lotam as praias, bom para o Município, que deve aproveitar o verão para gerar renda. Tal qual acontece em todos os anos, a via sacra dos veranistas anima, e muito, o litoral.

Falando nisso: Vamos redobrar a atenção para não poluir as praias. Lixo é responsabilidade de quem o produz, portanto, cuide do seu. Evite deixar restos espalhados na areia. Dê valor ao ambiente frequentado por você, mostre o respeito que você tem pelo meio ambiente e pelo próximo. Vida melhor e mais limpa é direito e também dever de cada um.

Meu Blog: Em 2011 inicio o quarto ano de publicações semanais neste jornal. Este Fato é motivo de orgulho e satisfação para esta articulista. Todos os artigos já publicados, agora podem ser lidos, também, em meu blog: www.valquiriavolpato.blogspot.com. Acessem, comentem, emitam opinião!


Espero que continuemos juntos em 2011. Muito obrigada por sua leitura e atenção de sempre. De que valeria escrever se não houvesse leitores?! Abençoado Ano Novo para todos!


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Suicídio

Certa vez pensou que pudesse voar,
Abriu os braços o máximo que pôde.
Sentiu a brisa fresca passando entre os dedos.
Estava livre. Sentia-se assim.

Achando que poderia voar, fechou os olhos, calou os pensamentos...
Largou o corpo no ar.
Caindo, numa lentidão que apenas sua alma podia sentir,
Não percebeu que aos poucos se perdia.

Caindo... caindo... uma folha ao sabor do vento.
Sem rumo, sem destino, sem chegada, apenas uma partida.

Caindo... caindo ... caindo...
Pássaro solitário voando no vazio de seu céu, seu próprio eu.

Caindo ... livre ... leve ... voando... partindo ... solidão.
Chorando. Uma última lágrima triste.

Sem saber para onde,
Partiu sem chegada, mas chegou, quase como sem querer.
Encontrou quem não queria, abriu os olhos, viu quem não queria ver...
Num segundo era livre, no outro, deparou-se com a morte.


Valquiria Rigon Volpato
06 de agosto de 2008
"Quem não compreende um olhar tampouco há de compreender uma longa explicação"
(S.A.D.)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Insensatez

Lá vai você outra vez,
Coração bobo, cheio de esperanças.
Lá vai você, sorrindo, palpitando
Como se tivessem lhe apagado as amargas lembranças.

Lá vai você outra vez,
Acreditar que não vais sofrer.
Lá vai você, já fez as malas, fitou o horizonte
Como se desta vez não fosse preciso correr.

Lá vai você outra vez,
Coração insano, que não aprende.
Lá vai você, sonhando, esperando
Como se o antes fosse mudar de repente.

Lá vai você outra vez,
Brincar de vida nova.
Lá vai você, ingênuo, inconseqüente
Como se não soubesse que nem tudo se renova.

Lá vai você outra vez,
Coração que de tão estúpido de tudo se esqueceu.
Lá vai você... sei que vais chorar
Como se o pranto pudesse apagar a dor no peito teu.

Lá vai você outra vez...

Valquiria Rigon Volpato
10 de janeiro de 2011