"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Agora. Não mais.


A chuva caindo lá fora.
É só o que ouço.
Como se estivesse em mim,
Como se me fizesse seu chão...
Sinto-a escorrer, molhar, inundar
E aos poucos, lentamente, afogo-me nela.

Eu a abraço... tento segurá-la,
Mas docemente ela se vai.
Então a persigo, insisto, grito: fique!
Tarde demais. Secou.

Valquiria Rigon Volpato
11 de março de 2011.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O ano do Centenário


“[...] E só o que eu tenho, e que vós não tendes, que consolo triste! É esta sensibilidade dolorosa que se comove com misérias que às vezes mesmo os que as carregam desconhecem, esta sensibilidade que é uma antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo, e que me fará morrer de dores que não são minhas”. (Fraternidade, de Newton Braga).

A sensibilidade delicadíssima de Newton Braga, este ano, tornar-se-á centenária e é preciso render-lhe homenagens. Amante incondicional de sua cidade (que orgulhosamente também posso chamar de minha), o poeta, cronista, jornalista, advogado, nascido em 11 de agosto de 1911, na Fazenda do Frade, teve e tem insubstituível participação na história e cultura de Cachoeiro. Quando assumiu a direção do jornal “Correio do Sul”, fundado por Armando, seu irmão, talvez não imaginasse que deixaria seu nome nos registros da comunicação cachoeirense. Em 1939 criou o “Dia de Cachoeiro”, maior festa da cidade. E a homenagem ao “Cachoeirense Ausente n° 01”, também foi ideia de Newton!

Na manhã do dia 25, último, data em que Cachoeiro comemorou 144 anos de emancipação política, ocorreu, na Sala Levino Fanzeres, no Bernardino Monteiro, reunião para exposição e acolhimento de sugestões sobre a programação das comemorações do Centenário de Newton Braga. Para extrema felicidade dos que admiram a Família, houve indicação do nome de Dona Anna Graça Braga Abreu (Dona Gracinha), irmã de Newton e Rubem Braga, para Cachoeirense Ausente Número 1 em 2011. Além da reivindicação para reconstrução do monumento a Newton Braga, da Praça Jerônimo Monteiro, principal homenagem prestada ao ilustre cidadão, que infelizmente foi, sem muitas explicações, subtraída de seu nascedouro.

A satisfação de ver tamanha comoção para o resgate e perpetuação da história de Cachoeiro através de uma de suas mais marcantes personalidades é indescritível. Talvez, para simples comparação, poderia dizer que se trata de felicidade, orgulho ou, quem sabe, felicidade, orgulho e bairrismo (não aquele bairrismo que destrói a consciência, mas um bairrismo que mais se assemelha ao encantamento de jovens e apaixonados namorados; o bairrismo que faz brilhar o olhar, quando se tem diante de si a oportunidade de, como os namorados, dizer: “Amo você”!).

Que sejam assim, em ritmo de romance, os preparativos para esta rica festa, pois é a chance que temos de contar aos que não estavam lá sobre esta história... História que começa mais ou menos assim: “Era uma vez... Eu vi, não é surpresa, pois já se incorporou à tradição. Era uma vez um poeta e uma princesa, que se amaram com ânsia e devoção”. (Era uma vez, de Athayr Cagnin, citado na obra Newton Braga O Poeta Franciscano, do escritor Evandro Moreira).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

terça-feira, 22 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Quebrem a perna!


É e sempre será fascinante ver o Teatro Rubem Braga cumprindo seu papel de expositor das artes cênicas! O IV FACCI – Festival de Artes Cênicas de Cachoeiro de Itapemirim – teve início no último dia 17 com a peça “O Burguês Ridículo” (que assisti pela segunda vez). A sensação de programar-se durante o dia para ir ao teatro é de “encher os olhos”, causa ansiedade, faz pensar como seria bom se ao invés de uma semana, fossem várias semanas de apresentações. Como seria bom se nos déssemos conta de nossa natureza artística e assumíssemos, de uma vez, esta doce herança!

Infelizmente, apesar de tudo aquilo que já sabemos a respeito da música, literatura e claro, teatro, sabe-se, também, que o cachoeirense não está acostumado a esta rotina. Triste isso, porém recuperável, sem dúvida, afinal, “nunca é tarde para começar ou recomeçar”. O incentivo da Lei Rubem Braga teve participação evidente e decisiva no que tange a possibilidade de execução do projeto que segue até o dia 23 de março. A gratuidade dos ingressos facilita o acesso e oferece ao público grande chance de prestigiar os espetáculos, que dispensam comentários sobre sua qualidade.

A vontade que tenho é de seguir este artigo dizendo sobre a importância e necessidade de expandir os horizontes cênicos de nossa cidade; destacar um pouco mais o potencial meio aparente, meio escondido, de tantos artistas cachoeirenses. Gente que interpreta, que canta, que toca, que escreve, que declama, que encena. Ah, que vontade de dizer sobre, quem sabe, outro festival, em que estariam reunidos a musicalidade de nossas bandas, a docilidade de nossos poetas, a coragem de nossos atores. Sim! Aqueles que muito ou pouco conhecemos! Vontade que dá de usar este espaço para pedir ao Prefeito e à sua Secretária de Cultura que pensem a respeito, que estudem a possibilidade, que ofereçam ao público a oportunidade de se mostrar...

...vontade... Essa vontade que não passa; essa vontade que me consome; essa vontade que me obriga; essa vontade que me castiga; essa vontade (tantas vezes) reprimida; essa vontade que não é só minha, essa vontade se propaga... acho até que é a mesma “Vontade” que teve Newton Braga. Vontade, desejo, querer. É só o que temos (por enquanto). Já dizia minha avó: “quem diz a verdade não merece castigo”. Ainda bem que não sou do tipo que diz mentiras, nem insanidades, só digo minhas (incontroláveis) vontades!

Para os artistas que ainda se apresentarão, resta-me apenas desejar que “quebrem a perna”! Desejar sorte é comum, mas quando se tem talento, sorte é adjetivo de quem, verdadeiramente, sabe executar seu ofício.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Exército de um homem só


...e Cachoeiro foi parar na avenida do samba! Cantando e contando a vida de Roberto Carlos, a Beija-Flor, levou para sua quadra mais um título do carnaval carioca. Deveras, não observei tamanha ênfase sobre nossa cidade, a não ser nas muitas vezes que o nome “Cachoeiro” foi cantando por Neguinho e seus companheiros puxadores de samba. Não, não se trata de crítica ao que fora exposto no sambódromo, muito menos à vida de Roberto Carlos, mas trata-se da vontade e expectativa que tínhamos (ao menos eu tive) e o que foi apresentado pelas câmeras da Rede Globo... e falando em Rede Globo, é preciso concordar que o Plim Plim teve uma “suave” contribuição para a vitória. Não, não estou dizendo que não foi merecida, mas quem assistiu viu e se viu não pode vendar os olhos ou dizer diferente. E em que nos desmereceria isso? Sou muito mais Cachoeiro (leia-se também Roberto Carlos, afinal ele foi o homenageado) pelo que representa e não pela representação que fazem...

Louros a quem merece, algumas ponderações ainda carece serem feitas. Em meio à empolgação trazida pelo carnaval, recebi, por e-mail, pedido de socorro para não deixar morrer aquilo que fora defendido na avenida: a cultura Cachoeirense.

O amigo Paulo Henrique Thiengo escreveu narrando situação difícil em que se encontram livros antigos “guardados” no Centro Operário, principalmente depois das últimas enchentes: “Estive lá ontem e retirei os que estavam intactos. Muitos outros ficaram lá nas estantes, a maioria com cupins e traças. [...] Vou ter que ensacolar e lacrar. Faço isto porque a reforma do telhado da parte antiga do Centro Operário começa agora, depois do carnaval. Se estiver destelhado e chover, perdemos os livros. São muito antigos e alguns raros. Enquanto de um lado se festeja a vitória carnavalesca, de outro se vive o abandono. Incoerente. É de nosso patrimônio cultural, de nossa história que estamos tratando. Como é possível que a população se una para assistir sua cidade ser “lembrada” no samba e desapareça quando é necessário cuidar do que nos é mais íntimo? “Já estou cansado disto. São muitos anos de dedicação a uma causa solitária, sem retorno de espécie alguma. [...] A impressora (de 1877) do Correio do Sul está em minha chácara, em São Vicente. Deve pesar uns 1.500 kg e foi desmontada e retirada na mão. Isto foi há uns 15 anos! Não houve qualquer interesse em remontá-la e colocá-la em local público, onde possa ser visitada e colocada novamente a funcionar. E, detalhe: Retirei-a do local apenas 12 horas antes de ir para o ferro-velho!”.

O vocabulário se torna escasso quando é necessário definir a luta solitária em prol da cultura, da história, da vida: “Fico triste em ver o matagal no quintal da Casa dos Braga”. O que nos falta, ainda, para aceitarmos que a cultura precisa de nós e que Cachoeiro é bem mais que um samba enredo? Este exército de um homem só, hoje formado por Paulo Thiengo, precisa ganhar reforços: Pelo Centro Operário, pelos livros, pela impressora do Correio do Sul, pela Casa dos Braga, pelas crônicas, pelos poemas, pelas músicas, pelas danças, pelo Rio Itapemirim, pelo Itabira... por nós.

Assim como foi pedido no e-mail, não pretendo aqui evidenciar os trabalhos realizados pelo soldado, mas sim dizer que ainda nos faltam combatentes. E se temos a intenção de vencer a guerra, preparemos JÁ nossas armas e vamos à luta!

Campanha: quem quiser se unir ao exército dos que estão dispostos a preservar a cultura de nossa cidade, favor enviar e-mail para os endereços: val.volpato@gmail.com ou paulohthiengo@gmail.com.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 7 de março de 2011

"As feridas do coração, como as do corpo, mesmo quando saram, deixam cicatrizes".

(SAADI)