"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um conselho ao Conselho do Itabira


Na última quarta-feira (20) tomou posse o “Conselho do Itabira” composto por representantes do município, através de suas secretarias e, também, representantes da sociedade civil. A promessa deste novo “órgão consultivo” é a de garantir maior proteção a um dos patrimônios naturais mais evidenciados de Cachoeiro de Itapemirim: o Monumento Natural do Itabira.

Bem verdade que, há algum tempo, o Itabira precisa de maior atenção por parte da Administração Pública. A promessa do novo Conselho é boa, ao menos assim deixou transparecer a fala do Secretário de Meio Ambiente, Delandi Pereira Macedo. Boas falas, bons representantes... Sem críticas (ainda), afinal apenas o primeiro passo foi dado. Não houve tempo para ações, propostas, avaliações e efetiva defesa do Monumento Natural. Há que se aguardar, primeiramente por 90 dias, que é o prazo mínimo para instituição do Regimento Interno do Conselho; a responsabilidade por encabeçar a comissão que desenvolverá as regras internas ficou para o Sr. Francisco Athayde. Parece-me estar em boas mãos.

Como se costuma dizer, vira e mexe, o Itabira é pauta para assuntos jornalísticos e não creio que deva ser diferente. Por todas as justificativas que todos já estão carecas de saber, não seria justo, nem justificável que nós, povo cachoeirense, não abraçássemos a causa Itabira. Permitindo-me fazer um adendo ao assunto, não para mudar de região, mas para lembrar outras circunstâncias, quando há alguns anos iniciou-se o projeto Rodovia do Contorno (que sangrou as proximidades do Monumento Natural), iniciaram-se, também, os pedidos de socorro da população que lá, no Itabira, residem. Riscos em diversos trechos da Rodovia, problemas que poderiam ser sanados, mas que permanecem intactos. Quem deveria intervir, infelizmente, até o momento não se pronunciou, mas, afinal de contas, nenhum deles tem residência fixa naquela região...

Ao Conselho Consultivo do Monumento Natural do Itabira – CMNI, deixarei registrado o meu conselho: Trabalhar pela proteção do meio ambiente é dever do cidadão enquanto indivíduo componente da sociedade. E se a defesa do ambiente é dever para qualquer um (em termos literais), para quem faz parte de um órgão consultivo com objetivo direcionado, o dever transmuta-se em ideologia, missão.

A causa Itabira é grandiosa e deve ser tratada como tal. Quem tem a função de representar a maioria poderá sempre pedir apoio a ela e deverá, também, ouvir suas sugestões. Trocando em miúdos, o Conselho do Itabira foi escolhido para proteger um Monumento Natural que é patrimônio público e, assim, seu grande desafio será, justamente, cumprir, com excelência, esta designação. Trabalho em conjunto será o destaque desta iniciativa do Governo Municipal.

Que o povo saiba participar opinando, respeitando decisões favoráveis à maioria e, principalmente, exercendo seu poder fiscalizador. Enquanto povo estou disposta a fazer minha parte...


(Valquiria Rigon Volpato)
"As migalhas deixadas à beira do caminho dão a falsa impressão de que se está bem alimentado. Não se nota a miudeza até que, mais a frente, se aviste a farta mesa posta. A felicidade das migalhas se transforma em desalento; o pouco satisfazia enquanto não se conhecia o muito. Só se quer ir adiante quando se descobre que o horizonte não é logo ali"


(Valquiria Rigon Volpato)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cada um por si e Deus por todos


O individualismo social é cada vez mais aparente. Consequência lógica de um sistema Capitalista que obriga seus “participantes” a fazerem girar a roda da fortuna. Comprar, gastar, ganhar mais, possuir mais bens. O vício pelo “vil” metal não é recente, porém atualiza-se minuto a minuto, tal como as altas e baixas do mercado financeiro nas bolsas de valores.

Numa sociedade governada pelo capital, até onde aparentemente existe união (sociedades empresariais em diversos setores) se nota a apartheid, desta vez um pouco menos racial e mais economicamente classista. O interesse no mercado descaracteriza o subjetivo do ser e passa a contabilizá-lo em listagens sem fim; produção versus gastos. Vige a Lei das Compensações, quiçá a Lei da Produtividade. Resultados são responsáveis por criar definições do indivíduo, que será “bem quisto” e avaliado segundo seu desempenho. Esta é mais uma regra deste sistema que pretere o homem e prefere os lucros.

A juventude, cada dia mais distante das histórias de antigamente, projeta-se em um novo mundo impregnado por tecnologia. Cresce, assim, o coletivo virtual, a exposição da vida íntima através de redes sociais, isso na mesma proporção do individualismo, gerando seres acostumados a disfarçarem-se por trás de telas; farsantes de si mesmos, mas que, ao final, não podem fugir. A propósito, transcrição da fala de Samuel Warren e Louis D. Brandeis em 1890, retirada do livro “Privacidade na Internet” de Amaro Moraes e Silva Neto: “A intensidade e a complexidade da vida, continuadas com o avanço da civilização, tornaram necessária a possibilidade de uma retirada do mundo – e o homem, sob a refinada influência da cultura, tornou-se mais sensível à publicidade, tanto que a solidão e a privacidade vêm se tornando essenciais ao indivíduo. Contudo, as empresas e as invenções modernas, invadindo sua privacidade, submetem-no ao sofrimento mental e ao stress (sofrimento esse maior do que poderia ser imposto por uma mera agressão física)”.

O relacionamento humano escasseia-se de sentimentos “reais” e deixa a mostra o interesse. A mesa está posta e poucos serão aqueles que ajudarão os que estão mais afastados a alcançarem o alimento. A sociedade atual vive o provérbio “cada um por si e Deus por todos”, onde até mesmo Deus passa a ser disputado...

Saber por quanto tempo se estenderá a caça ao tesouro margeia o impossível, pois não se sabe quanto tempo o homem resistirá às armadilhas que ele mesmo preparou; não se sabe, ainda, quanto tempo o homem-máquina levará para descobrir que, antes de ser ferramenta, era somente “criação”.


(Valquiria Rigon Volpato)