"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ela é assim


(para minha amiga Suelen)














Ela é assim:

Meio louca e um pouco santa
As vezes séria e outras vezes...
...outras vezes não sabe parar de rir.

É meio bruxa, meio fada.
Mostra-se forte, intocada,
Mas tudo se transforma
Como num passe de mágica.

Tem seus encantos, suas malícias,
Tem seus mistérios, seus segredos,
Mas com suas palavras faz tudo perecer um “brinquedo”.

Parece um pássaro,
Voa alto em seus sonhos.
Nada para ela é enfadonho.
Ela é assim...

Com seu jeito de criança,
Ela sabe conquistar, viver e amar...
...amar muito.
Mesmo que o amor que sente
Esteja longe dos olhos da gente...

Por amar demais
Ela já sorriu, sofreu, chorou...

Do verde de seus olhos
Ao vermelho das lágrimas.
Ela é assim...

Não é pobre, não é rica,
Mas tem um grande tesouro:
Tem seu coração e seu sorriso
Que valem mais do que ouro...

Eu gosto dela assim,
Sem conter o sorriso,
Transbordando alegria,
Espalhando sua magia a todos os seus.

Ela... Ela é assim,
Uma mistura,
E tem sua doçura...
Um pouco de tudo.

Pensativa ou risonha
Lúcida ou insana
Nada importa,
Porque ela... Ela pode ser assim!

Amiga, irmã, conselheira,
Ela entende e quer ser entendida
Ela ama e quer ser amada...

A história dela é assim
Intensa, mágica, triste...
...feliz.
Um sonho sem limites... Um sonho sem fim.


Valquiria Rigon Volpato
10 de abril de 2003.

sábado, 24 de setembro de 2011

De olhos bem fechados


Fechei os olhos,
Apertei-os bem,
Esforcei-me para mantê-los assim...

Lembrei-me da felicidade,
Dos risos que faziam das tardes as mais belas.
O sol sobre a pele branca, o calor da juventude...
...tudo aquilo poderia ser instantâneo,
Mas para mim significava a eternidade.

De olhos bem fechados,
Embarquei na mais linda viagem.
Ali, de olhos fechados,
A vida chamou-me pelo nome e sorriu faceira.

Entre o fechar das pálpebras,
Até o instante de enxergar a alegria que veloz se aproximava,
Mal percebi a escuridão...


De olhos fechados,
Vivi outra vez; ressurgi do pó e alcei vôo.
Mas uma lágrima interrompeu meu riso.
Trouxe outra vez a solidão e a dor.

Numa velha cadeira, imóvel, empoeirada...
...sozinha. Tive de abrir os olhos.
Findou-se a vida;
Calou-se em meu pranto;
Fugiu deixando-me para trás.

Valquiria Rigon Volpato
03 de março de 2010
(24 de setembro de 2011)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os ACOMODADOS que se mudem

Acho que todo o problema se resume nisso: há muitos acomodados por aí. Foi esta a conclusão a que cheguei. Tudo tem funcionado meio assim, meio parado, meio sem funcionar, é um típico “mais ou menos” que só pode ser atribuído ao acomodado, que tem característica própria, é cheio de manias e sempre, sempre mesmo, fica observando ao invés de agir.

Tem acomodado para todos os gostos, tamanhos, dá para escolher. Tem aquele acomodado que se sente mais seguro em sua cadeira (onde costuma pensar que é rei) e sua frio quando vê alguém se aproximando. A situação é mais ou menos assim: “Ei, boa tarde! Você pode ver isso aqui para mim?”. Frase mortal para o acomodado-rei (vamos chamá-lo desta forma); o danado começa a ter calafrios e costuma fingir que não ouve (é uma defesa natural do tipo). Contudo, se o indivíduo que está pedindo ajuda não se intimida com essa reação e insisti em seu propósito, pode estar correndo sério risco: quanto mais acuado, mais agressivo. A resposta pela insistência é automática: “O senhor está no setor errado” (Ah sim, esqueci de dizer. Os acomodados-rei também têm o dom de saber o que você quer sem sequer levantar-se da cadeira ou mesmo olhar o papel que você, indivíduo, tem nas mãos). Normalmente o desfecho mais comum para o caso é a desistência... a sua desistência, porque não pense que um acomodado-rei será menos inflexível ou que após horas de espera ele irá se solidarizar com sua “cara” de desespero. Nada disso. Outra característica dessa espécie é a capacidade de ficarem longos períodos imóveis. Haja paciência!

Temos, ainda, os acomodados mestres em disfarce (e para estes é preciso tirar o chapéu). São treinados e disciplinados na arte da embromação. Fisicamente são parecidos com os acomodados-rei, mas a expressão os difere. É possível notar a face apreensiva, concentrada na atividade diante de seus olhos. Sempre rodeados por inúmeros papéis (quase sempre eles não sabem do que se tratam) são facilmente absorvidos pelo meio. Enquanto os acomodados-rei fingem não ouvir, os que disfarçam realmente não ouvem. Sua principal atividade é o jogo de Paciência, parte integrante do Windows, disponibilizado em quase cem por cento das repartições, empresas, Brasília...  (habitat natural dos acomodados-mestres-do-disfarce).

Por último, porém em maior número, está o acomodado-reclamão. Espécie facilmente encontrada e se destaca. Impossível não reconhecê-lo, pois sua principal atividade é reclamar e cruzar os braços... Levar a mão ao queixo, em alguns casos, e coçar a cabeça em outros. Preocupa-se muito com a vida alheia e nada é capaz de agradá-lo; tem forte tendência ao mau-humor e assim como os seus semelhantes, fica doente só de ouvir falar em se mover... Nossa sorte é que esta espécie, apesar de numerosa, não é absoluta. Por exemplo, a raça dos incomodados, que não se dão por vencidos, que não param, que brigam, que as vezes exageram (querem abraçar o mundo). Podem até não serem otimistas demais, mas preferem dar a cara a tapa a se esconderem em seus artifícios. Invejosos (acomodados) costumam dizer: “Os incomodados que se mudem”. Ora, que se mudem vocês, acomodados, e comecem, também, a se incomodarem. Quanto mais gente se incomodar, mais atitude se terá. Isso de cruzar os braços e observar é coisa de quem não está nem aí. O negócio é fazer a diferença.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Agroecologia: sinônimo de qualidade de vida


Na última semana Cachoeiro abriu suas portas para sediar o II Seminário Estadual de Agroecologia, que ocorreu nos dias 13 e 14. A iniciativa do Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca – SEAG, em parceria com outros órgãos que visam desenvolver e criar políticas de sustentabilidade para a vida agrícola, foi amplamente encampado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural – SEMDER, coordenada pelo Secretário José Arcanjo Nunes, e também pelo INCAPER.
Com público que superou expectativas atingindo número de aproximadamente quatrocentos participantes, o Seminário Estadual, que é itinerante, foi marcado pelo sucesso, graças à realização de um bom trabalho. Produtores rurais, jovens de Escolas da Família Agrícola – EFA de Cachoeiro, Castelo, Mimoso e Iconha, autoridades estaduais e municipais, dentre outros, puderam interagir e aprender um pouco mais sobre a Agroecologia que, basicamente, consiste em uma proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável; uma ciência integradora que agrega conhecimentos de outras ciências, levando em consideração a prática empírica proveniente das experiências de agricultores familiares que vivenciam outra cultura, em outras regiões.

O primeiro dia de trabalhos foi encerrado com apresentações culturais. Merecem aplausos o “Boi Pintadinho” de Muqui, a viola dos seresteiros de Jerônimo Monteiro, o sertanejo universitário de Gabriel & Edivando (meninos de Vargem Alta) e a surpresa da noite que ficou por conta da participação internacional do cantor e compositor Reinier Valdés e da artista plástica Adela Figueroa, cubanos, que estiveram no sul do Estado a fim de participarem do circuito cultural “Arte entre povos”, realizado pelo IFF de Itaperuna em parceria com a Associação José Martí de Aré – RJ.

Para que não passe em branco, vale dizer que Cachoeiro não faz parte do circuito cultural “Arte entre povos”, entretanto nada impede que no próximo ano integre os municípios que recepcionam as tão diversificadas apresentações culturais. O Prefeito, que também prestigiou o Seminário, pôde observar a qualidade artística de todos que fizeram seu show, porém, cito especialmente Reinier e Adela, porque não estavam incluídos na programação e Cachoeiro os “ganhou de brinde”. Havendo interesse, no próximo ano, a cultura local poderá ser acrescida por mais este adjetivo, com apresentações, quem sabe, em praça pública, onde todos terão a chance de conhecer e interagir com a musicalidade e a arte de nossos irmãos cubanos. Fica a dica!

A busca por sustentabilidade há muito deixou de ser utópica. Pequenas ações cotidianas fazem toda a diferença. Exemplo de ação que fez a diferença foi dado durante o Seminário com a preocupação de substituir os famosos copos descartáveis por canecas de louça. Cada participante recebeu sua caneca e a missão de zelar por ela, evitando-se, assim, que centenas de copinhos plásticos fossem, literalmente, descartados.

O saldo (positivo) do II Seminário Estadual de Agroecologia pôde ser notado com satisfação nas palavras da Subsecretária de Agrodesenvolvimento Municipal, Edlene Barros. Enfatizando a importância da Agroecologia como contexto de qualidade de vida, Edlene mostrou preocupação em criar e expandir políticas para o homem do campo; incentivos para a produção de alimentos livres de agrotóxicos, além de maior geração de renda que aqueça e impulsione a “vida agrícola”.

É gratificante saber que Cachoeiro está entre municípios que incentivam a agroecologia como estilo de vida, como sinônimo de qualidade que começa no campo e que, em seu percurso, tem o objetivo de tornar o cotidiano mais saudável e, principalmente, sustentável. Que assim permaneça; que assim continue!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A busca de sentido nas coisas que se faz


Ao folhear um livro técnico jurídico, me surpreendo, em suas primeiras páginas, com uma inusitada particularidade: um trecho no qual o autor descreve sua busca de sentido em suas ações, relembrando, deste modo, alguns de seus momentos vividos. A noite veio, o frio nada convencional nesta cidade, em um inverno que já enrijece o corpo, demandando que fechemos janelas, para que assim consigamos dele escapar. Esse simples ato de “fechar janelas” na tentativa de manter afastado de nós esse já rigoroso frio noturno, revolve, em minha mente, a imagem e ideia de pessoas – que assim como nós, também seres humanos - que não possuem janelas e portas a serem fechadas, ou quiçá paredes e teto. Tudo isso me fez pensar em qual seria o sentido de ser “mais um” dos eleitores a votar nas próximas eleições, em face à atual distorção da ideia de política, que se altera no limiar dos anos pelas campanhas eleitorais - que mais se parecem com tramas de novelas.

A política, em suas diversas manifestações, que deveria então organizar a vida e o convívio social, atendendo a princípios da legalidade, moralidade, ou eticidade, promovendo, deste modo, a igualdade fática, conseguida, como o dito por Rui Barbosa, pela análise e balanceamento das igualdades e desigualdades, possui atualmente função apenas mantenedora do status quo de determinadas “castas”, ou, mais adequadamente, famílias. Parece que se esquecem, nossos governantes, durante o exercício – para mim considerado um tanto quanto arbitrário – de seus mandatos, o compromisso, não somente eleitoral, assumido perante o depósito do voto na urna, mas também moral, assumido pela simples condição de serem eles também humanos, de que, em situação semelhante, desprovidos das paredes e portas de seus luxuosos palacetes, comprados pelo duro suor de nosso trabalho, sentiriam, assim como os menos favorecidos, esse frio cortante.

Não! Nós, povo, não temos o governo que merecemos! “É chegado o momento de dar um basta na corrupção que se alastra”, diz a frase que ouvimos, bombardeados pela mídia televisiva, e assim, iludidos pelas promessas, aceitas não mais pela ingenuidade ou esperança de modificação, mas já pela completa falha de um sistema político administrativo, em si já corrompido por extensos jogos de interesses ou outras práticas um tanto quanto duvidosas. Praticas essas, apodrecidas já em sua essência, que vêm prejudicar, ainda mais, o nosso já falido sistema.

Às vezes me pergunto se seria isso uma deturpação da condição humana, ou uma questão já absorvida pelo meio social, como o fez Elisa Lucinda em seu poema “Só de sacanagem”, mas, ao me deparar com relatos comovidos, como o feito por Ariete Moulin em seu “A colcha de Piquet”, percebo que não seria essa a questão. Falta sim a humanização da política, que as ações de nossos governantes, sejam por eles vistas não como a mera manutenção ou favorecimento de seus próprios interesses, mas como uma ação que vincula e influi na vida de milhares, milhões e até bilhões de pessoas, e, portanto, responsável pelo destino de grandes cifras de seres humanos.

Que bom seria, - quase que uma bela utopia - se administradores públicos tomassem consciência desse frio, e em uma alusão ao grande filósofo alemão Immanuel Kant, vissem suas ações como um imperativo categórico, onde somente se deve agir de tal maneira, se se pode aceitar que tal modo de agir se torne universal, sem prejuízo à ninguém. Que eles não precisem sentir este frio para sabê-lo.

(Vinícius Stanzani Longo)

Daqui e Dali


Um alerta: Não julgo ser crendice boba aquela velha história de fazer segredo sobre novas realizações ou pretensões, porque o que tem de “olho gordo” por aí, não é brincadeira! E isto é somente um alerta aos menos precavidos, aos mais inocentes e àqueles que pensam estar imunes às maldades alheias (Seria isso magia negra? Algum tipo de força sobrenatural? De maneira alguma. Trata-se do mais cristalino oportunismo). Que a vida em sociedade transformou-se numa espécie de “mata-mata”, ninguém duvida. As ambições cresceram mais do que à (quase extinta) solidariedade; não se recebem mais presentes: uma mão dá e a outra tira. Isso porque, como já dizia Carlos Drummond de Andrade: “Todos os partidos políticos, são iguais. Todas as mulheres que andam na moda são iguais. [...] Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. [...] Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho ímpar”.

Fiquei sabendo: Lá pela segunda ou terça da semana passada, fiquei sabendo que tem obra novíssima do governo já sendo devastada. O tom de rima é proposital, era sim a intenção, porque tal obra deveria favorecer a educação... Reforma do Liceu: quem mais tem ouvido falar sobre isto? Alguém que não seja eu?! O que me disseram é que tem gente “relaxada” destruindo partes reformadas e isso, definitivamente, não está certo.
Prefeitura: Olhar atento! Averiguar, identificar o problema e seus causadores; aplicar penalidades para reprimir a prática do vandalismo.
Pais, alunos, professores: Vocês também possuem poder fiscalizador. Não permitam que uma obra inacabada tenha de ser refeita. Os pais devem orientar os filhos e estes, por sua vez, zelarem pelo patrimônio que também lhes pertence. Professores, ainda que a carga sobre seus ombros seja excessiva, não se privem de exercer, neste caso, o papel de educadores para a vida... doa a quem doer.

E vai ficar assim?: Cadê a faixa de pedestres que ficava na Avenida Bernardo Horta, em frente ao Supermercado Casagrande, hein? O trânsito sofreu alterações e algumas faixas “evaporações”... O pedestre acostumado a cruzar a avenida para fazer compras, agora, se quiser, deve caminhar até próximo ao sinal, em frente ao Perim (o “Perinzinho” como se costuma dizer) para realizar a travessia.
Como estou sempre na situação de quem sugere alguma coisa, sugiro que seja repensada a localização da faixa de pedestres... E deixemos o “duelo das compras” para quem entende!

Citação: “Na realidade, o príncipe natural tem menos razões e menos necessidade de ofender, por isso se conclui que deva ser mais amado. E, se não se faz odiar por vícios demasiado grandes, é razoável que seja naturalmente benquisto de todos os seus”. (In “O Príncipe” de Maquiavel).

(Valquiria Rigon Volpato)

...


Feri-me.
O rubro sangue tinge aos poucos a alva pele.
Por sulcos imperfeitos espalha-se.
Inventa caminhos pré-traçados...

Feri-me.
A dor do corte percorreu-me o corpo.
Calafrios. Tensão. Dor.
Ferida aberta, uma fenda de carne e sangue...

Feri-me.
I closed my eyes.
Desejei não estar ferida (e não sentir-me ferida).
I hoped to see different things… but… was late.

Feri-me.
And I really don’t know how I could do this.
Encharcou-me o sangue ainda aquecido…
O mesmo que, pouco antes, garantia-me vida.

Feri-me.
Dor física. Superável.
Pele. Sangue. Carne. Cicatriz.
Sarada a ferida, esquecida a dor. Fim.

Feri-me.
Não vi o sangue inventar caminhos.
Pele e carne mantiveram-se intactas.
Dor? Sim.

Feri-me.
Não o corpo.
Machucou-me a alma.
Arrebentou-me o coração...

...não sangrei; consumi-me em dor.

E fim.

Valquiria Rigon Volpato, 11 de setembro de 2011.