"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Algumas considerações


Sobre a barbárie ocorrida na última semana no RJ: O “atirador” Wellington Menezes teria sido vítima de bullying na época em que estudou naquela mesma escola, cenário do crime. Um jovem transtornado e inspirado pelo sentimento de vingança. O fato me fez lembrar o vídeo recentemente divulgado pela mídia, onde um adolescente, vítima de bullying, revida, violentamente, as agressões que vinha sofrendo. Casos similares, em proporções absurdamente diversas, mas que revelam a insensatez, o relapso no não tratamento deste tipo de "patologia".
As vidas perdidas no último dia 07 não podem ser restabelecidas, mas outras vidas podem ser salvas. É suficiente nossa manifesta indignação? Temo que não. Agir é o verbo a ser empregado neste momento. Semana passada foi no RJ... hoje pode ser aqui. E nós? O que faremos? Melhor: O que estamos fazendo?...
Uns mais iguais que os outros: O problema de toda iniciativa é que ela precisa ser dada. Fosse espontânea como respirar ou quase imotivada como sorrir quando se acha graça, haveria sobras de atitude; uma verdadeira multiplicação de esperança por dias melhores. Mas não é assim. Às vezes demora tanto tempo para que alguém tenha coragem de gritar que, quando isso acontece, se transforma em marco histórico: vira revolução! Aconteceu em lugares diferentes no mundo, por motivos bem parecidos. A França de 1789 não é assim tão díspar do que se tem hoje. Foi a “falta”, o estopim da iniciativa revolucionária francesa: Falta de igualdade, fraternidade e liberdade.
O pensamento iluminista de Jean-Jacques Rousseau nasceu daquilo que era necessário à época. Estranho imaginar que a iniciativa nasce daquilo que não se tem. E mais estranho ainda, é saber que muitos esperam por liberdade, mesmo já a possuindo, e outros, pensam estar livres, mal sabendo que estão aprisionados.  Não é das grades metálicas de uma prisão que o homem deve se libertar. A ignorância, em todos os sentidos, aprisiona bem mais que barras de ferro. Numa sociedade em que a igualdade é elevada a princípio constitucional – e o que mais se vê são afrontas aos princípios constitucionalmente garantidos –, a fraternidade chega a tornar-se utopia. “Todos são iguais perante a lei”, contudo, na prática, uns são mais iguais que outros; uns são mais fraternos que outros... Uns, certamente, são mais livres que outros. Porque o homem não aprendeu que a igualdade é fruto do doar-se, do ser, do viver, do estar, do querer, do poder fazer algo por alguém. Não é a lei que garante a moral; a lei é fria. Quente é o sangue do homem que a aplica e interpreta.
Certa vez assisti ao documentário brasileiro “Ilha das Flores”, produzido em 1989, por Jorge Furtado. Marcou-me o texto. Compartilho: “O que coloca os seres humanos da Ilha das Flores numa posição posterior aos porcos na prioridade de escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro nem dono. Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

E o Itabira, hein?


Se Tom Jobim soubesse o que as águas de março fizeram por aqui enquanto fechavam o verão cachoeirense, talvez ele nos fizesse o gracejo de mudar sua rima. Ao invés de “é a promessa de vida no teu coração” ele diria “vamos disponibilizar mais recursos para a recuperação”. É fato que a chuva não deu trégua e vez ou outra volta a cair com intensidade por aqui e em municípios vizinhos. Águas que se acumulam desembocam no Itapemirim e causam enchentes. Barreiras caem por todos os lados, crateras se abrem nas estradas, ou seja, novos problemas que só fazem render o “feijão velho e desenxabido” que ferve nesta panela administrativa.

E já que o feijão está pra lá de aguado, falar da vaca fria não fará diferença para este nada requintado cardápio. Voltemos, pois, ao caso Itabira. Por diversas vezes a região, que é cartão postal da cidade, foi tema de debate nos jornais, uma repetição de reivindicações e mais atualmente denúncias (tudo por conta do ex, atual, ou quem sabe, Condomínio Aldeia do Itabira que está, aparentemente, parado (?), mas ainda possui divulgação na internet). Além, claro, da Rodovia do Contorno, também recorrente em matérias jornalísticas (especialmente nas que escrevo) por não oferecer segurança aos motoristas que por ela trafegam. Travessias e curvas perigosas. Responsabilidade do DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que sequer se manifesta sobre o caso. Paciência? Não, o caso é para meditação ou outro tipo de terapia intensiva...

Durante a semana, proseando sobre as dificuldades ‘pré’ e ‘pós’ existentes de nosso município, tornei a concluir o que incontáveis vezes li e escrevi. Peço vênia ao atual Prefeito, porque ao trazer para esta pauta algumas das conclusões a que cheguei, posso torná-lo, ainda que aparentemente, vilão da história. Mas desde logo digo: Não o é. Explico. A responsabilidade do representante do Poder Público está adstrita ao período em que ocupa cargo que lhe permite manejar o poder. Seria injusto derramar problemas sobre a atual Administração e esquecer-se dos maus passos dados anteriormente.

Falávamos, portanto, sobre o potencial turístico pouco explorado no Itabira (vou ater-me à região) que não pode, jamais, perder sua identidade. Onde estão os projetos que discutem a exploração sustentável da localidade? Existem? O que já se ouviu dizer era mirabolante demais, agredia o meio ambiente (quase da mesma forma como um condomínio é capaz de fazê-lo).  Às margens da Rodovia do Contorno corre-se o risco de começarem a surgir micro-pólos urbanos, o que, mais tarde, ganhará maiores proporções (isso se nada continuar sendo feito). O Itabira e seu entorno, mesmo estreitado e mal recortado, compreende área rural onde podem ser desenvolvidas atividades rentáveis para moradores participantes de programa específico para esta finalidade (turismo) e para o município.

Imaginar que atitudes erradas ou o que é pior, a inércia, podem desconfigurar aquilo que a natureza, literalmente, demorou anos para construir, deixa de ser “frase de efeito” para virar alerta. O erro pré-existente é inquestionável, mas a permanência nele é, no mínimo, curiosa. Olhos voltados para o Itabira. Os meus não saíram de lá.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Amor partido

Quisera eu poder falar do amor,
Mas este bandido fugiu de mim
E desde então uso de subterfúgios
Para que eu mesma possa fugir.

Já faz algum tempo que ele se foi.
Lembro quando me disse “adeus”,
Lembro da simultaneidade entre sua despedida...
...e minhas lágrimas.

Era tarde, sol tímido,
Fitou meus olhos pela última vez.
Com ar gélido e sofreguidão,
Balbuciou o fim, deu-me as costas e partiu.

Custou-me a compreensão do ‘não mais’:
Não mais tê-lo por perto,
Não mais tocá-lo,
Não mais senti-lo...

Acostumei-me a estar sem ele,
Acomodaram-se as lembranças,
Calou-se o sofrimento...
Das labaredas às cinzas, agora, espalhadas pelo vento.

Como viajante que, em busca de carona,
Acena à beira da estrada,
Mas ninguém o vê,
Cansei-me de acenos não correspondidos.

Sigo viagem e a cada passo
Mais se distancia o horizonte.
Do amor que tive, restaram-me acomodadas lembranças.
Do amor que terei (?), apenas algumas frágeis esperanças.


Valquiria Rigon Volpato

17 de janeiro de 2011