"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cachoeiro: ponto estratégico entre a montanha e o mar


Quem é cachoeirense naturalmente nasce bairrista. Se não nasce com gosto pela cidade, adquire-o depois. É inevitável. Talvez seja o bairrismo a síndrome genética dos filhos da Princesa do Sul!

Cachoeiro de Itapemirim nasceu às margens do Rio Itapemirim, um privilégio topográfico dado a poucas cidades; uma artéria que alimenta os demais órgãos deste corpo ainda em formação. Estamos num vale, rodeados de montanhas, dentre as quais, permitam-me a licença poética, trago à tona meu localizalismo e exalto a mais bela: o Itabira! Também distamos poucos quilômetros das serras capixabas, classificadas entre as mais lindas não apenas do estado, mas do país. Se quisermos clima frio, seguimos em direção a Vargem Alta, mas se quisermos a volúpia da costa, em poucos minutos chegamos a Marataízes, nossa “prainha” do coração. Estamos ou não estamos bem localizados?!

Há quem diga que o privilégio montanha e praia não são nossos, porém discordo. Viver por aqui, nessas terras de majestade, é quase como incorporar o desejo expresso de partida narrado por Manuel Bandeira: “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei”. Quem disser: “Vou-me embora pra Cachoeiro” poderá gabar-se de ser “amigo do rei” e também do “Sabiá” (Sabiá da Crônica. Apelido dado a Rubem Braga por Stanislaw Ponte Preta).

A TV Gazeta Sul (ESTV Primeira Edição) exibiu no último dia 27 matéria sobre o desenvolvimento econômico cachoeirense. Observou que novas lojas foram abertas no Centro da cidade e que as consultas de viabilização para abertura de novas empresas estão crescendo. Isso significa, de fato, que a cidade ao sul do Espírito Santo, por seus méritos, aos poucos deixa de ser a capital secreta, para tornar-se a capital “descoberta”.

A influência do mármore e granito é velha conhecida. Em agosto a Cachoeiro Stone Fair movimentará o mercado de rochas, isso é certo. Mas o que vemos atualmente é a expansão para outros setores da economia. Agradável aos olhos dos empresários, agradável aos olhos dos consumidores cachoeirenses e agradável aos olhos dos bairristas, assim como eu.

Ver o desenvolvimento de Cachoeiro é quase como ver um filho crescer, apesar de aqui os papéis estarem invertidos. Sempre apostei em Cachoeiro e continuarei apostando. Temos muito para mostrar ao mundo! Somos ponto estratégico entre Montanha e Mar, somos privilegiados. Certamente é como Rubem disse: até São Pedro ficará indeciso às portas do céu, quando lhe dissermos, somos lá de Cachoeiro!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pano para manga...


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Em 1988 a República Federativa do Brasil passou a viger sob as diretrizes de uma nova constituição. Estas novas regras, acentuadamente preocupadas com a máxima proteção do cidadão, teriam o condão de pré-estabelecer convivência social harmônica. A Constituição de 1988 passaria, então, a ser esteio para o ordenamento jurídico brasileiro, que deveria privilegiar sempre garantias e princípios indisponíveis insertos no texto constitucional.

Em preâmbulo, ou seja, palavras que precedem, no caso, texto legal definitivo, os representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte, estabeleceram que a Constituição da República Federativa do Brasil seria instituída com vistas a assegurar direitos sociais e individuais tais como liberdade e igualdade, sendo estes valores supremos de uma sociedade sem preconceitos.

Inegavelmente, não apenas as palavras preambulares, mas como em diversos momentos, o texto constitucional versa sobre a construção do “paraíso celeste” na Terra... Boas intenções que poderiam vingar caso o inferno não estivesse cheio delas. Infelizmente, apesar de regido por uma Lei Maior assecuratória de tantos particulares direitos, o país vez ou outra, depara-se com extremos, extremos esses que vêm à tona justamente porque, em algum momento, foram varridos para debaixo do tapete.

O Supremo Tribunal Federal reconheceu a união homoafetiva como entidade familiar, dando, assim, ao artigo 1.723 do Código Civil interpretação constitucional, livrando-o de qualquer significado que pudesse coibir esta “legalização”. A decisão do STF está de acordo com o que preceitua a Constituição (...desde 1988). Explicação para o posicionamento tardio do Supremo? Talvez resistência à realidade. De fato, a homossexualidade e o relacionamento homoafetivo não são recentes. O que sempre houve foi uma repressão aos que se dizem homossexuais e, por conseguinte, à união entre pessoas do mesmo sexo.

O Congresso Nacional, morada do Poder Legislativo, também é, atualmente, a “casa” do Deputado Jair Bolsonaro ou “casa da mãe Joana”. Na tentativa de debate sobre Projeto que discute a criminalização da homofobia, os representantes legislativos Jair Bolsonaro e Marinor Brito estiveram à beira da agressão física. Momento “homérico” (mais um) registrado pelas câmeras e divulgado enquanto nós, brasileiros, trabalhadores, pagadores de impostos, tentávamos almoçar tranquilamente...

Sobre o tema, que ganhou maior proporção devido à posição (finalmente) tomada pelo STF, recomendo texto breve do jornalista Arnaldo Jabor, facilmente encontrado na internet, e que conclui de forma brilhante o embate entre o cinismo dos mascarados e a rispidez irônica dos intolerantes: “Bolsonaro me fascina porque é um reacionário básico, um fascistinha puro, diferente de outros políticos [...]. Bolsonaro é a essência do machão parado no tempo. Devia ser posto em formol para as futuras gerações o conhecerem no museu da nossa burrice histórica”.

Que caia sobre nós o preâmbulo constitucional, revestindo-nos de novos conceitos e não preconceitos, pois, caso contrário, que museu gigante será esse onde junto com Bolsonaro irão nos abrigar?...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

mEU molde


 ...vez ou outra
vasculho o pensamento
tentando encontrar alguma frase feita,
um trecho de uma música, um verso de poema

ou de prosa, mas acabo não encontrando nada. Nada pré fabricado,
nada que alguém já tenha dito, escrito ou feito. Sim, eu copiaria, caso encontrasse
algo pronto. Certamente que as similaritudes (se é que essa palavra existe mesmo) eu vi, elas sorriram para mim,

insinuaram-se safadamente,
mas as recusei, aquelas oferecidas!
Não quero algo parecido; quero igual; igual não tem.
Apesar de tanto querer uma fôrma, que ingenuidade a minha!

Veja se alguém poderia ter previsto e escrito isso?! Bobagem a minha.
Sentimento é parecido. Não é igual, porque cada qual sente de um jeito...
Muitos já disseram “gostar”, “amar”, “querer”,
mas aposto contigo que,

do jeito que eu digo,
o “eu gosto de você” é exclusivo...
Nem verso de poema, nem trecho de canção.
Frase pronta, recém fabricada pelo (meu) coração.

Valquiria Rigon Volpato
11 de maio de 2011.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Logo ali em Burarama


Com cenário que é, realmente, digno de estrear na telona, Burarama deve ser, em breve, palco para as gravações do filme baseado na obra Anauê do escritor Marcelo Grillo. Estive por lá no último domingo para participar de mais uma caminhada ecológica, o Circuito dos Mirantes. Fascinante! É a definição mais aproximada do que vi e vivi.

A simplicidade e o capricho da cidade que “nasceu” entre serras e muito verde cativa os visitantes. Casarões antigos como o da Família do senhor Antônio Santolin, erguido em 1937, fez-me lembrar de quando morei em Taquarinha, parte alta da comunidade de Cobiça, que recentemente sofreu com as fortes chuvas. A casa antiga onde vivi até os sete anos, guardava identidade com a construção que conheci em Burarama. Janelas de madeira, escada para acessar a varanda, até a predominância das cores azul e branco. Assim também era a casa de meus avós, nos mesmos moldes, mas que hoje, infelizmente, existe apenas nas lembranças. Sensação boa de ter encontrado em meio ao alvoroço cotidiano, uma fresta para olhar o passado; revivê-lo, ainda que por poucos minutos...

Todo o passeio foi marcado por momentos encantadores. Quando o homem encontra equilíbrio entre sua intervenção e a natureza, a convivência se torna harmônica, surge, então, o respeito e o ambiente sorri esbanjando beleza. Certamente a história do movimento integralista será muito bem retratada, recriada, oportunizando, assim, que Burarama figure no estrelato, merecidamente, por sua história e beleza natural.

Parabéns, Mamãe! Hoje, 08 de maio, dia das mães, reservei espaço para parabenizar, felicitar, exaltar e principalmente AGRADECER à minha mãe por cada segundo de vida. Por ter permitido meu nascimento, por ter me carregado nos braços noites a fio; por brigar e até mesmo pelas doloridas palmadas! Por ter entendido meu choro, seja de fome, frio ou dor; por ter costurado minha primeira mochila; por me incentivar em todos os meus passos; por rezar; por estar comigo em todos os momentos. Obrigada, Mamãe! Muito obrigada por não deixar nada faltar em minha vida, por ser, simplesmente, a melhor mãe do mundo!

Estendo a todas as mães leitoras meus parabéns e homenagens. Feliz Dia das Mães!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ah


...ah, eu quero um pouco de tudo,
Um pouco de todo mundo,
Mas, agora, quero muito mais de você.

E por quê?

Porque resolvi dar adeus as consequências.
Porque resolvi viver de causas (e causos) e não de efeitos.
Chega de tanta prudência!

Então, daqui pra frente, tome nota do que digo e não se espante!
Lembre-se, tenho bom coração,
Longe de mim qualquer maldade!

Se eu disser 'venha' é caso de saudade,
Se eu disser 'vou' é que não passou a vontade...
Mas se eu disser 'fique'... ouça bem, não é tolice!

Se não quero que vá, é porque já lhe sinto um pouco meu;
Já lhe tenho em lugar seguro. Mas se resolver partir,
Longe de mim lhe prender, pois não sou desse tipo, não!

Só farei um pedido,
Talvez bobo, talvez sem sentido...
Antes de ir, quando estiver próximo ao portão,
Sem dó, ateie fogo nesse meu estúpido coração...

Assim, pouco a pouco as lembranças, pelas chamas, se consumirão.
E se as cinzas não têm forma, dor também não...

(Sem métrica. Sem rima. Sem a devida cadência. Apenas contando com sua paciência).

Valquiria Rigon Volpato
29 de março de 2011.