"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mais um conselho ao Conselho do Itabira


A QUESTÃO AMBIENTAL, INDUBITAVELMENTE, É PONTO CENTRAL A SER DISCUTIDO PELO CONSELHO DO ITABIRA. Esta é uma frase afirmativa, na voz passiva, mas que precisa ser transformada em voz ativa, em favor da sociedade cachoeirense; em favor da conservação e exploração sustentável da região do Itabira.

Segue narrativa sobre episódio ocorrido na última semana:

Na manhã do dia 15 de agosto, percorrendo caminho que normalmente traço para chegar ao trabalho, no trecho compreendido entre a Rodovia do Contorno e o Bairro São Luiz Gonzaga (na “matinha”) havia, numa extensão aproximada de 30 metros, líquido de cor escura e espesso derramado no solo. A impressão do momento era de água misturada a óleo diesel e graxa. Exemplo de degradação causada pela falta brutal de educação e consciência sócio-ambiental. No intento de atuar, de alguma forma, na preservação e prevenção de novos casos, dirigi-me à Pasta de Meio Ambiente, conversei com fiscal de postura ambiental e a orientação que obtive foi a de buscar a Ouvidoria (número para contato 156). Em contato com a Ouvidoria, repeti os fatos e para tal atendimento recebi o número de protocolo 7815.

Ocorre que, o encaminhamento feito pela Ouvidoria retornou à Pasta anterior, que novamente recomendou contato com a Ouvidoria, agora, para que fosse designada secretaria para a remoção do resíduo. Aparentemente a Secretaria mais indicada para a feitura da limpeza seria a SEMSUR, porém não voltei a manter contato com a Ouvidoria.

Estes foram, em síntese, os fatos. Claramente nota-se que o problema não foi resolvido e o grande impasse encontrado para sua não resolução foi o de que: “sem conhecimento do agente causador do dano, ficaria quase impossível tomar providências cabíveis, restando, apenas, a limpeza do local”. Concordo em parte. Com a licença de quem está disposto a “brigar” por melhores e maiores ações, não só na ceara municipal, mas, neste caso, especialmente nesta “lavoura”, não posso, de maneira alguma privar-me de, ao menos, sugestionar.

Há poucos dias tomou posse o Conselho do Itabira e, em artigo específico, atrevi-me a opinar sobre as futuras ações deste Conselho. É sabido que não houve tempo para atuação além das procedimentais, internas, entretanto, acredito que é no início mesmo que devemos expor opiniões, pela simples questão de que, é mais fácil dar ensinamentos a uma “criança” do que mudar pensamentos (pré-formados) de um “adulto”.

Assim, sobre os fatos anteriormente narrados, vejo que é possível haver atuação do Conselho. O trecho mencionado é, há muito, alvo de vandalismo, sendo que o despejo do resíduo aparentemente misturado com óleo e graxa foi apenas mais uma atitude de desrespeito. Neste momento, para quem quiser conferir, basta transitar naquela região e atestar o que está aqui escrito.

A “providência” que sugiro ao Conselho é que, estude a hipótese de instituir fiscalização mais acirrada para a região. Flagrar os infratores sabe-se que não é tarefa fácil, contudo, intensificando a fiscalização, certamente, haverá um pouco mais de receio daqueles que preferem degradar o meio ao invés de preservá-lo. Sim, é, no momento, sugestão, mas que poderá se tornar realidade. Dependerá de estudos e, principalmente, de vontade de fazer acontecer.

Enquanto houver possibilidade para, neste espaço, opinar, reclamar e, principalmente, sugestionar, certamente será feito. Em prol do Itabira, em prol de Cachoeiro, em prol da sociedade, em prol do coletivo, que merece ser respeitado e ver aquilo que paga ser retornado em seu favor.

“Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu” (Nicolau Maquiavel).

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Homem: Prisioneiro de si


Organizando algumas pastas, reencontrei este “velho amigo”. Senti saudades, convidei-o para entrar e tomar um café, enquanto juntos relembrávamos antigas histórias. Disse-me ele assim, em um de seus curtos monólogos entre nosso diálogo:

Estar encarcerado não significa que haja paredes ou grades ao redor. O cárcere é proveniente, também, das prisões que o próprio homem cria para si, seja em jaulas ou mesmo em sentimentos. Nem todo cárcere é forçoso; há aqueles que preferem as trancas de um “seguro” cárcere, às asas de uma “temida” liberdade.
Ser livre também não significa estar fora das grades, longe de paredes, imune às prisões. Ser livre, e mais, ter liberdade, é sentir a alma fresca, como sentir entre os cabelos o passar dos dedos da brisa suave. Liberdade, assim como o cárcere, é um estado de espírito, onde a autoridade de tirá-la ou concede-la cabe a si.

Cárcere e liberdade são paradoxos, como o são amor e ódio. Há quem diga que os sentimentos paradoxais se atraem, se complementam numa órbita de possibilidades. Um prisioneiro só almeja liberdade quando julga não tê-la, quando ao longe vê o sol pequeno esconder-se no horizonte, através de uma estreita janela, de sua cela ou de sua alma.

Na agitação da contemporaneidade, os homens vivem numa grande prisão, e não importa para onde vão, sempre estão presos à materialidade que julgam ser indispensável à sobrevivência. Desaprenderam a conviver com a natureza, fazendo dela sua mais ilustre prisioneira, entretanto, se esqueceram que não podem caminhar além de suas pernas, e aos poucos ela recupera sua liberdade.

Se toda canção de liberdade vem do cárcere, é certo que, neste momento, muitos estão cantando, enquanto outros jamais aprenderam a cantar. Engraçado é que nessa vã filosofia humana, há tentativas frustradas de se determinar o indeterminável, decifrar o indecifrável e tudo isso porque o homem busca liberdade, pois sabe que aí está o seu pior cárcere: o medo. Medo do desconhecido, por só saber lidar com aquilo que conhece.

Não haveria liberdade se não fosse o cárcere e vice-versa. A dependência é do ser humano, assim como as amarras também é ele quem cria. O homem, nada mais é, do que prisioneiro de si”.

Homenagem: Pai! Você foi (é) meu herói, meu bandido (porque todo o dia me rouba sorrisos). Hoje é mais, muito mais que um amigo (e por isso) nem você (nem eu) nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse (meu) caminho, que hoje eu sigo em paz... Pai!
Feliz dia, Papai!

(Valquiria Rigon Volpato)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Orgulho de ser cachoeirense

Pretensão das pretensões: comparar-se e encontrar semelhanças! Explico. No próximo dia 11 Cachoeiro comemora o Centenário de Newton Braga que, só neste espaço, tantas vezes foi citado, lembrado, mencionado, homenageado e com justo merecimento, não somente por sua construção literária, mas por tantas outras qualidades; por ser filho de Cachoeiro e por ter orgulho de ser cachoeirense.

E, igualmente, no próximo dia 11, comemora-se o Dia do Advogado. Newton Braga foi advogado, não muito amante dos ternos e gravatas, mas sinto que apenas por tê-lo como “colega de profissão”, temos mais um motivo para nos orgulhar, mesmo sabendo das inúmeras e injustas piadinhas sobre a classe (!).

Contudo, ainda não cheguei à explicação que fiquei devendo. Quando mencionei a “pretensão das pretensões”, expunha-me, nada modestamente, (mas creio tratar-se de fato inerente aos nascidos em Cachoeiro...).

Enquanto escrevia, entre pensamentos, fez-me feliz pensar que, assim como Newton, também sou advogada; que ousadamente (e neste tocante não nos parecemos, porque Newton detinha maestria na escrita) rascunho poemas e algumas crônicas; que me permitem publicar meus ensaios no jornal; que tenho apreço pelo jornalismo; que principalmente, assim como ele, orgulho-me de ser cachoeirense!

Quando crianças é mania que nos perguntem: “o que você vai ser quando crescer?”. Sei que dei várias respostas a esta pergunta, mas de duas não esqueço: queria ser jornalista e escritora... Naquela época ainda não conhecia Newton, mas se o conhecesse, certamente, diria qualquer coisa assim: “quando crescer quero ser um pouco Newton Braga”. Porque um pouco de tudo que queria (e quero) se resume nele.

Peço desculpas ao aniversariante pela “boba” comparação, mas por estatura e nascimento, ganhei a ousadia e aí a pretensão. “Poeta, que eu seja sempre poeta, pela glória simples de ser poeta e de saber cantar; que me dês segredo da suprema ironia e da profunda piedade, e a soberba humildade de ser só e de saber sonhar”. (Oração – Newton Braga).

Parabéns Cachoeiro, por ter sido “mãe” e embalado em teus braços Newton Braga! No ano do Centenário fato é que ele faz mais um aniversário, entretanto, o presente já ganhamos desde 1911, quando Newton nasceu. “...e então, certo dia, por acaso, nós nos veremos, de novo, frente a frente. Cada qual  estará algemado a outros destinos e parecer-nos–á que andamos às tontas, muito tempo,e que as estradas que julgávamos familiares e imutáveis eram mundos estranhos em que vivêramos sonâmbulos. Um pequenino detalhe qualquer, vago, impreciso - o meu modo de olhar, teu jeito de sorrir, um gesto, uma expressão, um desses quês inapagáveis - reacenderá, talvez, por um momento, a memória de outros tempos e outros sonhos [...]e então cada qual continuará o seu caminho, pisando firme, com decisão, obstinadamente; - nenhum dos dois olhará para trás..”... (E então, certo dia, por acaso – Newton Braga).

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)