"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Intere$$es demais, participação de menos...


Nos últimos meses a questão Itabira vem se resolvendo. Com reuniões periódicas do conselho municipal, estudos de campo e muita, mas muita reclamação e polêmica envolvida, a área do Monumento Natural (que, diga-se de passagem, e propositalmente, é BEM DE TODOS, por isso deve ser preservada por todos) começa a se delinear. Antigas e imotivadas medidas estão às vésperas de serem substituídas; “estudos” feitos em livros e resultados obtidos em “gabinete”, uma vez dimensionaram áreas de preservação (no entorno do Itabira, bem como a chamada zona de amortecimento) com toques nada sutis de interesses alheios. Uma vexaminosa forma de agradar e ser agradado, coisa que considero, abertamente, repulsiva!

Fato é que tenho observado e acompanhado as reuniões que posso e da mesma forma tenho tentado repassar informações aos que ainda desconhecem o processo pelo qual está passando a região do Itabira, mas a conclusão que chego é que muitos jamais tiveram real interesse, interesse refletido em preservação, em fiscalização e proteção ambiental. Nesta reta final, gente que até então se manteve calada, começou a levantar “bandeiras” e o que é pior: dizer-se mal informado...

Não sou membro efetivo do conselho municipal do Monumento Natural Itabira (ainda), mas sempre busquei saber quais medidas estavam sendo tomadas e não foram poucas as vezes em que estive na Secretaria de Meio Ambiente para perguntar quando seria a “próxima reunião”. Informações não vieram até a mim, fui buscá-las e assim continuo fazendo. No entanto e, pesarosamente, não há muitos praticando o mesmo exercício em busca do conhecimento e da defesa da coletividade. Ultimamente, manifestamente, outros interesses vêm à tona... E por este motivo tem havido reboliço onde não era para ter... Foco incorreto, falas incorretas. Lamentável.

A Lei 9.985/2000, que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, chamado costumeiramente de SNUC. Estão definidos, no art. 8º, os grupos das Unidades de Proteção Integral: I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refúgio de Vida Silvestre. O objetivo básico deste tipo de unidade de conservação (Monumento Natural) é preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica, ainda que em áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. A lei também salvaguarda a possibilidade de desapropriação em caso de incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou mesmo caso não haja aquiescência do proprietário às condições propostas pelo “órgão responsável” pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade. Ou seja, não há outra saída a não ser a preservação.

Blindar um bem natural é garantir o futuro. Para a área do Itabira nascerá, em breve, o Plano de Manejo, uma espécie de manual que deverá ser seguido por proprietários e por todo aquele que desejar, de alguma forma, promover atividades de significativo impacto ambiental na área protegida. O que nos cabe é respeitar, não exatamente um documento, mas sim a natureza.

Área de preservação ambiental integral não pode ser objeto de atividades extrativistas, tampouco ser sufocada por “selvas de pedras”. A beleza cênica deve ser conservada, ainda que intere$$es pareçam falar mais alto... Do engessamento sou contra. No entanto, caso não engessar signifique destruir, eis-me aqui, ferrenha combatente... Como de costume.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Cem anos com e sem Rubem Braga

Cem anos se passaram e “parece que foi ontem”, como uma vez disse Sérgio Garschagen, que às “laranjeiras” apareceu o Sabiá... Em 12 de janeiro de 1913 nascia, de Cachoeiro de Itapemirim para o mundo, Rubem Braga, considerado o melhor cronista do Brasil, que despertou encanto por ser único (como somente ele era) na arte de transformar o cotidiano em história poética, um verdadeiro lirismo no dia a dia, fazendo com que até a tristeza, por mais triste que estivesse, convertesse-se em ternura, num gesto de reconhecimento ao talento de quem, com maestria, brincava de escrever. “Eis o segredo de Rubem Braga: o de pôr nas suas crônicas a inefável poesia que Deus lhe deu” (Manuel Bandeira).

Rubem Braga é aquele tipo de cidadão universal. Em sua biografia acumula feitos que atravessaram oceanos. O cachoeirense, nascido na casa, a Casa dos Braga, na Rua Vinte e Cinco de Março, saiu de sua cidade ainda jovem, no entanto jamais a deixou para trás. Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Minas Gerais, Itália, França... O menino da Capital Secreta revelou-se para muitos, tornou-se conhecido e reconhecido por sua extrema qualidade textual e também por ser um “turrão” de humor apurado, de pensamentos tão seus e intimidade para poucos revelada. “Seguramente o mais subjetivo e o mais lírico dos cronistas brasileiros. A marca registrada dos textos de Rubem Braga é a crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza.” (Afrânio Coutinho). 

De fato, pessoas como Rubem Braga não nascem todos os dias. O que havia em seu interior era singelo e por isso lindo, indiscutivelmente. “Talvez não existam na literatura de Rubem as melhores crônicas, mas as necessárias, aquelas que melhor exprimem seu temperamento de homem e de artista. Poderiam ser 100, 200 ou 500, e sempre teríamos de Rubem antologias modelares, para crescer como ser humano, para saber mais sobre a nossa gente, para saber mais sobre o Brasil, com nosso jeito e nosso gosto – uma identificação de alma, diria o cronista.” (André Seffrin).

O Sabiá da crônica, como ficou conhecido o eterno Rubem, torna-se centenário e sua existência merece celebração. Cachoeiro de Itapemirim, berço incontestável de artistas ímpares, como o são Rubem Braga, Newton Braga, Roberto Carlos, Raul Sampaio e tantos outros, tem o dever de render homenagens a seus mais ilustres filhos, aqueles que, mesmo distantes, jamais tiram de si o bairrismo característico do cachoeirense: “Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: Eu sou lá de Cachoeiro”. (Rubem Braga). 

Na canção “Eu e o Sabiá”, o pedido é simples: “Ai quem me dera Sábia, também ter asas pra voar. E ver do alto a natureza, perceber toda beleza, a razão do teu cantar”. Rubem Braga nasceu com asas, voou o mais alto que pôde, contemplou a natureza, percebeu e sentiu toda a beleza, a mais pura que poderia existir; tornou-se fazendeiro, o mais legítimo fazendeiro do ar... Pelos cem anos da “aparição” de Rubem Braga, alegria sem fim, que invade o coração e enche de orgulho quem, como ele, pode bater no peito para dizer: “Eu sou lá de Cachoeiro”.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

De que tipo você é?


Sou do tipo que espera o sinal ficar verde (para pedestres) quando preciso atravessar a rua; do tipo que procura faixas (quando não há sinalização) e do tipo que olha duas vezes para o lado antes de me submeter ao “fogo cruzado” de carros; do tipo que agradece se algum motorista, gentilmente, para e permite que eu atravesse a rua; do tipo que prefere “perder” alguns minutos entre o “vermelho e o verde” do que perder a educação... e a vida...

Sou do tipo que deseja “bom dia”, ainda que o sol não tenha saído, esteja chovendo e fazendo frio; do tipo que responde “graças a Deus” quando alguém pergunta: “Tudo bem?”; do tipo que reclama, mas, especialmente, do tipo que agradece e busca ver o lado mais bonito, ainda que a flor esteja seca, caída no chão. Sou do tipo que gosta de caminhar só pelo prazer de observar o que há pelo caminho; do tipo que respira fundo, porque entende que respirar é vida e vida a gente não desperdiça! Sou do tipo que reza, pede a Deus para que ajude a resolver os problemas, mas também sou do tipo que volta atrás na oração e pede perdão a Deus por achar que meus problemas são maiores do que tantos outros... Tenho boa saúde, família, amigos... Não sei o que é fome, frio... Problemas? Penso que os poucos que tenho servem para deixar a vida mais “emocionante”!

Sou do tipo que gosta de participar e estar por perto; do tipo que se cala, mas principalmente do tipo que se manifesta (defeito? Algumas vezes penso que sim. Calar é uma arte. Falar nem tanto. Talvez ainda me falte talento). Sou do tipo que lê e do tipo que é capaz de passar alguns minutos refletindo sobre uma mesma frase; do tipo que ouve qualquer tipo de música, que dança, mas que pouco sabe sobre coreografias; meu corpo é do tipo que se mexe num ritmo próprio, de um tipo que é só dele e por ser assim, pode ser que, conforme a música, nem se mexa, no entanto, ao seu modo, pode estar dançando...

Sou do tipo que se incomoda ao ver lixo no chão, do tipo que se sente tentada a recolher papéis de bala que encontra pelas calçadas. Sou do tipo que, antes, pensa no bem e só depois descobre que não era bem o bem que pensava ser... Do tipo que se arrepende (porque fez algo, porque deixou de fazer, porque assim é a vida e nem tudo é possível ou impossível).

Sou do tipo que primeiro sorri, do tipo que aposta tudo num pedido educado; do tipo que se surpreende com grosserias, que não se acostuma à violência; do tipo utópico... E que “tipo” triste é este de ser... Sou do tipo que prefere crer; ainda sou do tipo que confia no homem e em sua capacidade de sempre ser melhor... Eu... Eu sou desse tipo, um tipo meio “bobo”, um tipo que não é dos melhores para se ser hoje em dia... Eu sou desse tipo. E você? De que tipo você é?...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vale a pena NÃO desistir


Na última terça, 30, fui convidada pelas professoras Sayonara e Regina para estar na Escola Estadual Zacheu Moreira da Fraga, em Soturno, com o objetivo de falar, resumidamente, sobre Literatura Feminina. Senti-me honrada por ter tido a oportunidade de dispor de algumas horas para falar sobre literatura e por, especialmente, estar próxima aos alunos e receber deles tamanha receptividade.

Alunos da 3ª, 4ª, 7ª e 8ª séries tiveram seu momento literário. Os da 3ª e 4ª, com tempo resumido, chance apenas para um modesto bate-papo, mas o suficiente para se mostrarem interessados pela leitura e escrita. A professora Sayonara, que leciona Língua Portuguesa / Literatura, é grande incentivadora das turmas e cultiva atividades relacionadas à construção textual criativa que, inclusive, pelo que fiquei sabendo, em breve será transformada em livreto de autoria de cada aluno, mais especificamente os da 4ª série. Vale destacar, ainda, que sob a coordenação da professora Sayonara, os alunos são responsáveis pela construção do jornal da escola, um verdadeiro primor! O ápice do meu encontro com os alunos, os da 7ª e 8ª séries, se deu quando nos reunimos para traçar, mesmo que minimamente, um pouco da trajetória da mulher na literatura, quais barreiras foram impostas e, principalmente, como foram superadas.

Falamos sobre Josephina Álvares de Azevedo, prima do também escritor Álvares de Azevedo, uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil (que aproveito para dizer, fora um movimento que, apesar de hoje, por vezes, ser tomado como ruim e o termo “feminismo” ser usado pejorativamente, foi responsável por dar à mulher destaque perante a sociedade brasileira machista da época). Sobre Josephina há que se dizer que em maio de 1889 fez representar comédia de sua autoria chamada “O Voto Feminino”, uma espécie de protesto por não ter conseguido incluir a lei do voto feminino no Projeto da Constituição que se elaborava, voto que somente seria conquistado em 1932, ou seja, Josephina foi uma mulher muito à frente de seu tempo. Também lembrada, Nísia Floresta Brasileira Augusta (pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto), foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços público e privado publicando textos em jornais, no tempo em que a imprensa nacional ainda engatinhava. Outros grandes nomes também foram mencionados, tais como Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Adélia Prado... Enfim, exemplo mínimo no oceano de grandes mulheres e escritoras!

Estar com os alunos, vê-los tão atentos e curiosos sobre um tema que para uma maioria é enfadonho (infelizmente), fez-me confirmar o que trago no título deste artigo, que não vale a pena desistir, porque desistir de tentar é “burrice” e porque desistir de levar conhecimento e crer na educação seria como morrer em vida.

Quando se tem vontade de mudar, ainda que se esteja só, enfrentando a multidão, desistir não é o melhor a se fazer. Para que a mudança que desejamos ver no amanhã aconteça, as ações de hoje devem ser contínuas e sempre renovadas, assim como nos campos, em que há tempo para plantar e tempo para colher. Todo aquele que está à frente daquele que acaba de nascer é semeador; plantamos para os mais jovens e colhemos aquilo que fora plantado para nós...


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e escritora)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

De volta para minha “casa”


Passados três longos meses sem publicações, finalmente, a boa filha a casa retorna! Em julho deste ano fiz minha última publicação antes de iniciar, de verdade, o período eleitoral. Gostaria de ter continuado a escrever, mesmo em campanha, mas eu estava num “jogo” e parar de publicar era uma das regras, e como não me sinto a vontade transgredindo regras, preferi me manter em silêncio... Mas que silêncio doloroso foi esse!

Enquanto estive longe, deixei de expor aqui diversas situações, as mesmas que jamais teriam passado em branco em outras épocas. Vi e ouvi coisas que mereciam serem escritas, compartilhadas e amplamente discutidas, mas eu não podia... Agora posso! (Falando nisso, durante a campanha eleitoral, fui aconselhada a não expor meus artigos no jornal. É compreensível, pois as alegações de propaganda irregular estavam à solta. Entretanto, sem fazer qualquer crítica neste primeiro momento, pergunto: qual seria a irregularidade em manter minhas opiniões no jornal, tendo em vista que outros meios não idôneos também foram, largamente, utilizados para propagação de imagem e captação de votos?... Não cito nomes, mas a quem serve a carapuça, certamente já a vestiu).

Não falarei sobre todos os assuntos ausentes (e muito pertinentes) neste texto, no entanto, pouco a pouco, retomarei a boa (boa mesmo) e velha (saborosa como vinho envelhecido) rotina de publicações, para que tenhamos a oportunidade de juntos ponderarmos, como antes, a respeito de temas importantes à nossa “pequena” Cachoeiro. Meu e-mail (val.volpato@gmail.com) e Blog (www.valquiriavolpato.blogspot.com) continuam à disposição para o recebimento de críticas, comentários, sugestões e o que mais conveniente for.

NOTÍCIA CRIME: Itabira e região serão focos de muitos outros artigos, até porque o Plano de Manejo para o entorno do Monumento Natural Itabira já dá seus primeiros passos. A primeira reunião (a que considero oficial, vez que em outras oportunidades não houve convite direcionado a toda comunidade) para esclarecimento de dúvidas e demonstrativo de resultados foi significativa e de extrema importância. Finalmente uma possibilidade de diálogo e aprendizado para quem, realmente, se interessa pelo Itabira. Ocorre que, como destaquei na chamada deste tópico, é preciso que se noticie, mais uma vez, o CRIME AMBIENTAL caracterizado pela inexistente consciência e responsabilidade de seu autor, trata-se do imprudente descarte de materiais sólidos (lixo) nas proximidades e até mesmo em área de preservação. Às margens da Rodovia do Contorno, montanhas de lixo se acumulam e alguns já começam a intitular o local como “Novo Lixão de Cachoeiro”. Absurdo! Providencias urgem serem tomadas e não é preciso expor os porquês... Ou será que é?

REFLEXÃO: “A miséria de um povo não está naquilo que lhe falta no bolso, mas sim naquilo que lhe falta na cabeça”.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e ocupante da cadeira de n.º 37 na Academia Cachoeirense de Letras)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Discurso de posse - Academia Cachoeirense de Letras


Excelentíssimo Senhor Presidente desta Academia de Letras, Doutor Solimar Soares da Silva,

Pai, Mãe,

demais parentes e amigos presentes.


No ano em que a Academia Cachoeirense de Letras comemora seu Jubileu de Ouro, sinto-me presenteada por passar a fazer parte destes 50 anos de História, de homenagens prestadas a tantos homens e mulheres que mantêm viva sua obra no intuito de dar seguimento à preservação cultural e literária de nossa cidade, para que jamais se perca a essência intelectual, a sabedoria de nossa gente.

Hoje, 17 de agosto de 2012, minha história se cruza com a história desta academia de letras; hoje, minha contribuição para a preservação e continuidade da cultura literária da cidade de Cachoeiro de Itapemirim ganha novas vestes e passa, oficialmente, a ter registro histórico. Não costumo dizer que a conquista é minha, que os méritos são meus; atribuo a conquista a elas, às palavras que me acompanham desde muito tempo. Sinto-me honrada, pois a partir de hoje passo a ocupar a cadeira de n.º 37, cujo patrono e antecessor se destacaram por terem abrilhantado a História desta cidade, e a História do estado do Espírito Santo.

Augusto Emílio Estellita Lins, patrono da cadeira que passo a ocupar, nasceu em Recife/PE, aos 13 de maio de 1892. Capixaba e cachoeirense, não de “nascença”, mas por merecimento, adotou o Espírito Santo como sua “residência” em 1916, um ano após se formar em Direito pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. Que feliz coincidência a minha, por ter escolhido esta mesma profissão! Assim que veio para Cachoeiro de Itapemirim, Augusto Emílio, aos 30 anos, destacou-se na política, tornando-se, em 1922, prefeito da cidade, mandato que cumpriu até 1924. Seguindo a carreira, elegeu-se Deputado Estadual por duas legislaturas (1929 a 1930 e 1935 a 1937).

Dentre as contribuições dadas por este homem aos registros históricos do estado, está a Academia Espírito-Santense de Letras, da qual foi presidente. Advogado, político, escritor; homem de sensibilidade, autor de várias obras; poeta. A trajetória de Augusto Emílio Estellita Lins foi marcada pelo empenho em destacar a pujança intelectual do Espírito Santo, evidenciando seus autores. Residindo em Vitória, idealizou e dirigiu o concurso Científico e Literário de Autores Espírito-Santenses e a Primeira Quinzena de Arte Capixaba, em 1938 e 1947, respectivamente. Mais tarde, em 1957, a Santa Sé o agraciou com a venera da Ordem Equestre de São Gregório Magno, no grau de Comendador.

Augusto Emílio Estellita Lins, nascido em Recife, capixaba por merecimento, teve seu trabalho reconhecido em outros estados brasileiros, escrevendo como colaborador para jornais e revistas do Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais. Enviava seus escritos, também, para O Cachoeirano, aqui em Cachoeiro de Itapemirim. Toda sua produção literária, retratada em mais de dez títulos, entre eles A Paixão Coletiva (1923), Zorobabel (1921, primeira edição e 1957, segunda edição), Variações Estéticas do Canaã e Graça Aranha e o Canaã do Espírito Santo (ambos em 1968), demonstram, lucidamente, a grandeza literária armazenada neste homem, que, privilegiava o intelecto, que não media esforços para que não morressem as palavras.

Embora o ser humano nem sempre reflita em seu semblante aquilo que traz em seu interior, os sofrimentos que nele, porventura, estejam armazenados, Augusto Emílio preferia parecer “vibrando de prazer”, como outrora escreveu: “Saber sofrer. Saber calar. / Saber disfarçar de tal forma o sofrimento / Que nosso aspecto sirva de argumento / De que estamos vibrando de prazer”. (Saber Sofrer).

Em 30 de dezembro de 1982, dois anos antes de meu nascimento, na cidade de Vitória, encerrou a última de suas obras: sua vida. Faleceu deixando legado e ensinamentos a serem seguidos, merecedores de nossas homenagens, insuficientes perante seus atributos.

Já Nelson Sylvan, “Seu” Nelson, último ocupante da cadeira n.º 37, nasceu nesta cidade em 10 de novembro de 1910. Homem íntegro, coerente, político militante, observador mordaz e inteligente. Filiou-se ao integralismo em 1932 e manteve, sempre, a crença em suas propostas, não permitindo, assim, ser contaminado pelo extremismo. Não raro discutia e oferecia propostas para o futuro de Cachoeiro; jamais perdera a esperança. Defensor implacável do bem, exemplo de homem digno, honrou sua existência terrena preservando e disseminando valores... Verdadeiro apaixonado, principalmente por sua esposa, Dona Lucila.

Um dos primeiros alunos do Liceu (1922) mesmo antes de assim ser nomeado (1936), trabalhou na Cia. Central de Força Elétrica (Escelsa). Foi bom funcionário, porém o ofício que mais apreciava era o de compor trovas. Membro do Instituto Histórico e Geográfico, Presidente do Centro Operário e de Proteção Mútua desde 1969, viveu pelos arredores da Rua 25 de Março, sendo, portanto, testemunha de boa parte da História de Cachoeiro: teve como vizinhos Rubem e Newton Braga.

Nelson Sylvan, de olhar firme e também adocicado, faleceu em 24 de janeiro de 2009. Infelizmente, apesar de ter sido sua contemporânea, não cheguei a conhecê-lo.  Um ano mais tarde, algumas de suas trovas foram reunidas em cordel, homenagem a seu centenário (2010). Tributo mais que merecido, de iniciativa do Instituto Newton Braga, Centro Operário e de Proteção Mútua, Cineclube Jece Valadão e Editora Cachoeiro Cult.

Como um mestre repassando conhecimento a seus discípulos, numa de suas composições, assim ensinou: “Você então quer saber como se faz uma trova. / Eu vou lhe satisfazer, mas põe sua cuca à prova. / Primeiro a rima acertada nos quatro versos, por fim, a métrica bem contada, sete sílabas, enfim. / Mas, um detalhe importante temos aí a observar: uma história fascinante os quatro versos vão contar. / Eis aí os elementos vitais à trova perfeita / rima, métrica, os momentos para que ela seja escorreita. / Mas tudo isso, preclaro, esbarra numa condição: você não fará trova, meu caro, se faltar inspiração!” (Trovador). Mesma inspiração que desejo, ardentemente, que não nos falte, nem sobre, mas que seja na medida certa, assim como o sal bem dosado, que revela o verdadeiro sabor dos alimentos.

Quanto a mim, que recebo a responsabilidade de zelar por este lugar, por esta distinta cadeira de n.º 37, posso dizer a meu respeito, que me esforçarei para manter digno este espaço, honrando-lhe, como fizeram os que vieram antes de mim.

Nasci em 29 de dezembro de 1984 e completei meus primeiros anos em Taquarinha, zona rural deste município. Lá a casa era antiga, assoalho de madeira, telhas francesas, fogão à lenha na cozinha. Daquela época, muita coisa gostaria de contar, entretanto seriam necessárias mais algumas linhas, por isso, elegi apenas dois momentos, passagens que ficarão, para sempre, marcadas em minha lembrança. Aos quatro ou cinco anos, despertava no meio da noite e ao invés de manter o silêncio e tentar dormir novamente, corria para acordar meu pai e, convocava-o para uma expedição noturna. Normalmente, por volta das 2h ou 3h da madrugada, enquanto a vizinhança dormia, saíamos para caminhar. Em noites de Lua cheia, céu estrelado e bacuraus que jamais cansavam de repetir “amanhã eu vou, amanhã eu vou”, papai e eu conversávamos até que meu sono voltasse. Não sei de outra história como essa e nem sei de outro pai como esse, que mesmo cansado, sabedor do dia de trabalho vindouro, renunciava ao descanso para atender a este pedido de criança... Noutro momento, lembro-me de passar as tardes “compondo” versos solitários, versos que nem sabia serem versos, dado a tenra idade. Costumava enaltecer a natureza, a vida na roça, aquele cenário que desde sempre me acompanhou e encantou... Coisa típica de Cachoeiro, esta cidade entre as serras, uma doce terra, como diria Raul Sampaio.

Aos sete anos deixei para trás a Taquarinha e fui viver próxima à outra montanha, ali no Itabira. Estudei na “Escola Municipal Unidocente Itabira”, onde cursei até a 4.ª série. Depois segui para o extinto “Colégio Ateneu Cachoeirense” e lá permaneci estudando até a conclusão do Ensino Médio. Posteriormente iniciei o curso de Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI), isso em 2004.

Em 17 de abril de 2008, há exatos quatro anos e quatro meses, escrevi artigo intitulado “As Aparências Enganam”. Naquele dia, timidamente, decidi mostrá-lo ao Doutor Higner Mansur. Ele leu e perguntou se eu não gostaria de publicar aquele escrito. Meu artigo, então, fora publicado no Jornal Fato e também no online Atenas Notícias. Continuei escrevendo, continuei recebendo o incentivo do Doutor Higner, continuei publicando... E para minha felicidade, não tardou até que o Jornal Fato enviasse convite para que minhas opiniões fossem publicadas semanalmente. Os textos, desde então, são levados ao público aos domingos, dia em que tenho a feliz companhia do Doutor Sérgio Damião, médico, que por tantos anos cuidou de minha avó Zelinda, articulista, meu confrade, com quem divido e espero continuar dividindo a mesma página do jornal por longos anos!

Quando se vive momentos como o de hoje, não há como descrever a emoção, a sensação de bem estar que somente o brilho nos olhos e o sorriso podem demonstrar. É por tal sensação, tal grandeza de espírito, que jamais me furtaria em agradecer todos os que fizeram e continuam fazendo parte desta minha trajetória, que não se cansam de repetir incentivos, que tantas vezes me ofertaram tão generosamente seus abraços; agradecer aos que me antecederam, por terem tornado digna a memória a que teci tão singela homenagem; Agradecer aos confrades e confreiras pela calorosa e fraternal recepção; agradecer de modo especial à minha família, meus pais, Waldir e Rosa, minha irmã, Angélica, por serem, para mim, a melhor família que já existiu; agradecer, ainda, aos presentes, a todos que externaram de algum modo seu carinho; agradecer a Deus, em quem tanto confio e sei que zela por mim...

Os caminhos daqueles que escrevem são floridos. Quem escreve o faz primeiro para satisfazer suas próprias necessidades, para alimentar a si mesmo. Escrever é metamorfose e, também, metamorfosear. Transformação de si mesmo e do outro, algo como Raul (o Seixas) disse naquela canção: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo (do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo)”.

No decorrer destes vinte e sete anos de existência, não houve um dia sequer em que fui igual, porque a cada novo dia algo em mim mudou. Diariamente sou modificada por algo que acrescento ou podo de mim. Vivo para aparar arestas e regar plantas. Persigo o BEM assim como Seu Nelson, talvez não com a mesma excelência, mas creio que chegarei lá, a uma porque não penso em desistir, a duas, porque, permita-me Rubem Braga, também sou de Cachoeiro!

Muito Obrigada!

Valquiria Rigon Volpato
17 de agosto de 2012

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Culpados até que se prove o contrário


E tem como escrever sobre algo que não seja Eleições 2012? Claro que tem! Mas o assunto está em voga e para não dizerem que fiquei démodé, melhor aproveitar o embalo e falar das “primeiras impressões”, afinal, são as que ficam não é mesmo?

Num cenário político de faroeste, Cachoeiro segue rumo ao outubro eletivo para, mais uma vez, exercitar a boa e velha democracia, que é atividade saudável, recomendada pelos mais bem conceituados entendidos no assunto, mas que, infelizmente, desde que na Grécia alguém teve esta brilhante ideia, jamais funcionou cem por cento... Admitamos: o que funciona cem por cento neste Brasil de Cachoeira (eu escrevi CachoeirA e não CachoeirO..!), Demóstenes e companhia Delta Ltda.? O que tem acontecido é que o povo, o santo povo de Deus, perdeu a confiança (algum dia teve?) e não mais dá credibilidade política a quem quer que seja (e que se diga candidato!).

Repudiar esse (desconfiado) posicionamento pouco satisfatório? Sinceramente... Não! Anos e anos de promessas (que não deveriam ter sido feitas) não cumpridas, de corrupção que se assemelha à Maria Fumaça (a todo vapor) e dinheiro público sendo embolsado e gasto com despesas que vão muito além da cesta básica... Como não se mostrar compreensível e admitir que a desconfiança esteja na frente nesse duro páreo de saber quem não tem medo do lobo mau ou quem não está apenas esperando oportunidade para devorar a vovozinha (no melhor, se é que existe, sentido da palavra?!)? Acontece que todos já nascem culpados e a presunção de inocência, o in dubio pro reo, simplesmente se inverte. Não há inocentes! A regra é que todos são culpados até que se prove o contrário!

Não há melhores, nem piores, o que há é “farinha do mesmo saco”, ou seja, iguais perante a lei, iguais perante o povo, que salvo suas exceções, prefere a regra, no melhor estilo manter o pé atrás e conversar intimamente com a pulga atrás da orelha. Mas antes assim, desconfiado, do que o fanatismo, essa virose grave capaz de levar à cegueira. Tem gente que, para não ficar “doente” é precavido, e não raro faz check-ups, e tem gente que prefere adoecer para depois (do sofrimento) encontrar a cura... Masoquistas? Vai saber... Mas gosto é aquilo: cada um tem o seu! Pena mesmo é que política não é uma questão de gosto e sim de avaliação, de estudos e, especialmente, de caráter (apesar de não ser palavra corriqueira em alguns corredores de palácios por aí...). Não basta gostar do fulano ou do sicrano para presenteá-lo com o voto. É preciso conhecê-lo... E tem gente que vive sob o mesmo teto há anos e mesmo assim não se conhecem plenamente, sempre acabam por se surpreenderem...

Mudando o que é preciso ser mudado, conhecer (seu candidato) e votar (consciente) é só começar! Que sejam todos culpados agora, mas que, provado o oposto, dê-se liberdade aos réus e absolvição de seus (mesmo que não cometidos) crimes.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Membro efetivo da Academia Cachoeirense de Letras)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Verdadeiros laços permanecem...


Dia 29 de junho de 2012, Cachoeiro de Itapemirim, a Princesinha do Sul, comemorou mais um aniversário. Acordei cedo e deixei para trás minha cidade, mesmo em festa, mas a deixei para, também, celebrar outro aniversário, só que de casamento! Atendendo ao gentil convite de amigos que acabei de conhecer (amigos que não foram fruto da convivência, mas da instantânea identificação), alcei vôo até a cidade de Marília, em São Paulo, para ser testemunha da renovação de seus votos matrimoniais: 25 anos!

O Jubileu de Prata de Paulo Pereira da Silva e Tânia Mara Medeiros Simões Pereira, cachoeirenses “ausentes”, merecem nossas homenagens, assim como Cachoeiro. Ao chegar à cidade de Marília, mais precisamente na casa dos amigos que tão bem me receberam, emocionou-me o “presente escrito” que a irmã de Tânia, que é professora, cachoeirense, entregou ao casal. Yerecê Regina Medeiros Simões Chiesea, disse assim:

“Não somos amados por sermos bons; somos bons por sermos amados. Existem pessoas amadas que são exemplos vivos de que a vida nos dá de tudo, mas vocês são exemplos de amor, compreensão, companheirismo, partilha e respeito. Amar e viverem juntos um quarto de século é uma dádiva que muitos podem até desejar, mas poucos vão realizar. O amor permanece além do tempo, atravessa décadas, conquista um quarto de século... E vocês são prova disso. Em pleno século XXI são raros os que vão passar unidos por 25 anos. Acreditamos que por meio do amor que se uniram, construíram um lar abençoado, uma família feliz, lutaram juntos em busca de dias melhores. Vocês são pessoas raríssimas! E agora é hora de renovar o amor e a fé que permanecem em seus corações. Parabéns! Que Deus em sua divina graça continue abençoando-os, unindo-os no amor, hoje e sempre. Felicidades!”.

Celebrar o amor. Existiria melhor forma de homenagear aquilo que o homem possui de mais íntegro e verdadeiro? Nesta simultaneidade, em que Cachoeiro se alegrou e rendeu graças a filhos ilustres, ausentes e presentes, mesmo longe, aproximadamente mil trezentos e setenta quilômetros, os laços permanecem... Cachoeiro, Marília, uma ponte aérea estabelecida pelo amor, sentimento sem igual, que tudo crê, tudo suporta, é compassivo e não teme o mal... Felicidades Paulo e Tânia, felicidades Cachoeiro. E que os seus, próximos ou distantes, continuem cultivando bons sentimentos!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Membro Efetivo da Academia Cachoeirense de Letras)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

De repente...


Acontece assim mesmo: Ideia pronta, tema definido, tudo certo... Será?! Feliz aquele que está apto a receber o “de repente”, esse acaso que muda (e nos muda) por inteiro.

Escrever é metamorfose e, também, metamorfosear. Transformação de si mesmo, algo como Raul (o Seixas) disse naquela canção: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. E como tinha razão aquele moço! Viver daquela enferrujada visão, dificultando o mover das engrenagens, estreitando horizontes, morrendo em um universo miúdo e pobre. Não!

Nada de contentar-se com o que está pronto, porque nossas verdades são como placas tectônicas, sempre em movimento, em processo de formação. Vez ou outra se chocam, esbarram-se comprimindo umas às outras, causam grandes abalos, desmoronam casas aparentemente sólidas, mudam coisas de lugar... Destroem, provocam dor, sofrimento, mas o ponto crucial desse encontro de placas é que, após toda a desordem e destruição causadas por este terremoto de “encontro de verdades”, os envolvidos arranjam um jeito de recomeçar e jamais será igual; estarão mais fortes, preparados, “crescidos” e então diferentes. Metamorfoseados...

Talvez seja esta inquietação que fez de Raul o “cara” do “de repente”, sempre esperando o novo, o diferente e sem medo de se encontrar com ele, porque vida tem dessas coisas e não adianta a gente querer fugir ou fingir que está tudo certo, na esperança de que nunca iremos sair dessa zona de conforto, redoma de proteção, ou que nada irá mudar, porque muda! E não é nosso medo de agir que vai segurar o mundo, impedi-lo de girar.

Ideias pré-formadas, conservadas em formol, mais cedo ou mais tarde darão lugar a outras que não se negaram a seguir o fluxo das transformações que não é retilíneo, nem uniforme, não é movimento uniformemente variado, não é Física, é História... A mesma História que, até que se transforme em passado, não será a mesma.

O inesperado é bem vindo e não é culpado por causar seu devido “transtorno”. Onde está nossa capacidade de agir frente ao desconhecido? Vamos improvisar e fazer “fogo” à moda antiga, se caso precisar. Não deixa de ser fogo se não for riscado no fósforo, aceso no isqueiro ou no fogão elétrico... Pensei em escrever sobre Direito, mas cheguei aqui com o pensamento diferente. Eu poderia resistir e formatar o texto anterior (que ficou em minha mente), mas não, não seria a mesma coisa. Propus-me o desafio e cá estou enfrentando esse “desconhecido” que há em mim, apenas para que dele nascesse o texto. Concebi, gerei... Nasceu! De surpresa esse “de repente” que me tirou o foco e deu-me um novo... O foco no inesperado!

Coisa de cidade pequena?: Para quem acompanhou as atividades da “Rio + 20” pelos telejornais viu também que o trânsito não ficou nada bom. Ouvi gente dizer que preferiu caminhar e evitar o tumulto. Em Cachoeiro teve Bienal Rubem Braga, no Rio de Janeiro a “Rio + 20”. Aqui é cidade pequena... e lá? O que é?

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Da “Criogenia” para a ressurreição?


Na última sexta, 15, o portal de notícias do G1 lançou matéria sobre possível caso de “criogenia”. Resumidamente, a reportagem dava conta de que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu a favor de filha que deseja enviar o corpo do pai para os EUA, a fim de que lá possa ser “congelado” e preservado a baixíssimas temperaturas até que, em momento futuro, possa ser reanimado (ou não?!), isto é, trazido novamente à vida. O embate judicial se dá face às outras duas irmãs, que querem ver o corpo do pai devidamente sepultado no cemitério de Canoas, cidade onde vivem. A filha, vitoriosa até então, já gastou aproximadamente 95 mil reais para cumprir com o que ela chama de “atendimento ao pedido de seu falecido pai” (enquanto estava vivo, claro!), que versava justamente sobre a possibilidade do congelamento. Inegavelmente, estamos vivendo “tempos modernos”!

Antes de adentrar a polêmica do assunto, cabe dizer que o termo correto a ser utilizado para determinar a preservação a baixas temperaturas de humanos ou mamíferos com o objetivo de serem reanimados no futuro é “criônica”, que não é considerada como uma parte da “criobiologia”, vez que continua dependente, em grande parte, de especulações de tecnologia futura que pode ou não ser inventada, apesar de perseguida há tempos.

De fato o assunto é polêmico. Colocado para debate em minha página no Facebook, alguns amigos opinaram a respeito e já que estamos na Era do “compartilhar”, portanto, compartilho: No Egito antigo, os reis e seus filhos eram embalsamados e depositados em grandes templos. A técnica era tão perfeita que muitas múmias permanecem intactas até hoje... É o desejo da imortalidade, jeito de tentar driblar a morte – agora sobre nova roupagem” (Maria Elvira Tavares Costa).

O ser humano está muito aquém das leis que regem o universo... Isso aí, para mim, é utopia!” (Alex Cardoso).

Assunto quente, quer dizer, gelado esse... De dar calafrios! O que irão debater os juristas, cientistas e teólogos sobre a criogenia é algo a se pensar desde já, uma vez que a questão é polêmica e já é pauta. De um lado a humanidade, desde os primórdios, buscando a vida eterna, criando deuses imortais à sua imagem e semelhança, de outro, cientistas prolongando a expectativa de vida da população que, ironicamente, fica mais jovem a cada cirurgia...” (Roney Moraes).

Escreveu Maria Elvira:No Egito antigo, os reis e seus filhos eram embalsamados e depositados em grandes templos. A técnica era tão perfeita que muitas múmias permanecem intactas até hoje”. E passeiam pelos corredores do Congresso Nacional, pois são chegadas ao poder, como ex-faraós”. (Sergio Garschagen). Que se registre: merecia artigo próprio o comentário bem humorado e verídico de Sérgio, sobre as “múmias brasilienses”! Em oportunidade vindoura, que não faltará, prosseguiremos nesta outra visão um pouco menos “científica” sobre o caso, porém de olhar igualmente clínico...

Sempre buscando a “vida eterna”. A preservação do corpo, como bem mencionou Maria Elvira vem seguida da “utopia”, vista pelo colega Alex Cardoso. Trata-se, grosso modo, de um complemento, uma equação sem resultado. A criônica quer congelar e estudar a possibilidade de trazer à vida (outra vez). Num panorama biológico parece ser “possível”. Mas como ficam as crenças religiosas? E se em longo prazo a máquina humana voltar mesmo a funcionar? Isso nos daria um novo campo de visão; mudaria nossos costumes. Teríamos um novo fato social pronto para modificar leis e pensamentos. Interessante ponderar que o congelamento também pode ser tratado como espécie de sepultamento, ainda que o objetivo seja a “ressurreição”, a saber, que nada prova ou diz que um dia poderá acontecer...

Trabalha-se, assim, com o hipotético, o temerário, o “será?”, mas nem por isso o assunto é visto como aberração. (In) felizmente a humanidade caminha (com largos passos) para um futuro que desconhece e que quem sabe (?) não possa controlar. As conquistas do homem o coroam como ser superior racional e produtivo, mas não parece (nunca) ser suficiente... Sua infindável busca será sempre o desejo de não ser “só” homem... O desejo de ser “deus”...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Meu pão, seu café


Para quem gosta de observar detalhes e aprecia aquela “síntese do cotidiano”, qualquer pingo é letra, qualquer risada é crônica e uma frase inesperada se transforma em título para uma composição, assim, como esta! Sou do tipo que observa o simples, que encontra nas “pequenezas” as grandezas, que até nos trocadilhos se inspira para rimar. E isso faz bem. Ao menos a mim faz.

O ano, que não está mais começando, porque junho já nos deu as boas vindas, é eleitoral. Cachoeiro não é um grande centro, mas é a maior cidade do sul do estado e a contraposição que isso nos causa é muito interessante. Para os mais chegados, costumo dizer que Cachoeiro se recusa a assumir sua maioridade. Ainda existe em nós muito daquela sensação de encontrar todos os dias, inevitavelmente, alguém para dizer “oi”; bucolismo de cidade miudinha do interior, que não condeno, muito pelo contrário, gosto. Sinto-me em casa. Mas o “causo” não é esse!

Numa pequena grande cidade como Cacheiro, a movimentação e especulações políticas se tornam assunto constante e não se pode recriminar ninguém por isso. Melhor assim, que se discuta, afinal, o tema é vasto e outubro está logo ali. Fervilham os pré-candidatos e seus partidos. Quem serão os elegíveis? É nesta vertente de comentários que passo a cumprir com meu “dever” de observadora. O ex-prefeito, atual presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), declarou na última quinta-feira, 31, que não, não, não, não, ele não será candidato a prefeito de Cachoeiro de Itapemirim. Pois é. Ferraço não estará na disputa, o que causa certo “furdunço” na pequena “Sucupira”... Se Odorico, quer dizer, Theodorico, não será candidato (por que “preferia que fosse um nome novo a ser experimentado”, como citou em matéria online deste jornal? Difícil saber.), as possibilidades de outros candidatos aumentam vez que, de fato, votos que se direcionariam a ele, terão de ser rateados entre outros e aí, salve-se quem puder (da falta de votos ou do “Zeca Diabo”!).

Negócio mais “bobo” em ano de eleições é repetir aquela velha filosofia do “preste atenção em quem votar. Verifique a vida pregressa do seu candidato. Examine quem é e o que pode fazer... por você?”... Lógico... que NÃO! Política não é feita para abranger interesses individuais. Aquele que merecer seu voto deve agir em prol da comunidade e estender o bem que quer para si a todos (ou pelo menos a uma maioria). Bons candidatos não se medem pela campanha mais bonita ou mais cara... Juízo eleitor! Juízo de ideias e de valores...

Possuir responsabilidade política é ser consciente de que assumir cargo de gerenciamento na Administração Pública é zelar pelo povo e lançar olhar igualitário para as causas periclitantes. É ser justo e firme no SIM ou no NÃO.

Na padaria, durante o café da tarde, o “meu pão, seu café” funciona muito bem, mas no dia a dia da gestão pública, meu pão é seu pão e seu café é meu café... E se assim não é, já diria minha avó Aparecida: “di certo que deveria ser”.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Carpinejando"


“Conheci” Fabrício Carpinejar na IV Bienal Rubem Braga. Já havia lido alguma coisa de sua obra antes, mas, devo admitir que vê-lo e ouvi-lo foi além da leitura silenciosa que costumo desenvolver; meus olhos e ouvidos o leram! Das falas divertidas, verdadeiras e nada medidas que usou para expressar seu ponto escritor-pessoa de vista, não houve descarte, aproveitei-as todas e, sem medo, tornei-me “mosquito transmissor” de sua ideologia literária.

A abolitio dos pré-conceitos: eis aí o ensinamento! O hoje escritor, que palestra pelo Brasil, mostrou-se um menino “nada convencional”, sem o estereotipo social aceitável. Sem belos olhos azuis ou corpo esculpido, escultural, o “aspirador de pó”, como revelou ter sido rotulado na infância, transformou-se em “expirador de letras”, anunciador de sua própria “desincasulação” através das palavras. Era lagarta; agora, borboleta (e aposto que é borboleta amarela, aquela, de Rubem, que fugiu). Voa!

Ser atraída por Carpinejar não foi privilégio meu. Sei bem de outros tantos que, publicamente, manifestaram sua admiração pelo escritor. Presente para o cachoeirense que frequentou a Bienal! Que venceu pré-conceitos...

A IV Bienal Rubem Braga teve grande repercussão (para o bem e para o mal, infelizmente). A articulista Célia Ferreira produziu artigo excelente sobre os assuntos paralelos que foram exaustivamente discutidos durante a Bienal e expressou, sem demagogias, sua explicação simples, sua sugestão óbvia para sanar um dos “problemas” tão mencionados, o trânsito.

É fato que Cachoeiro de Itapemirim, esta “Atenas capixaba” é crivada de situações menos agradáveis, digamos assim. O próprio trânsito, que causou alvoroço durante a Bienal, é dificuldade constante em nossa cidade. Cadê o PDM? Esquecido, deixado na prateleira, permitindo que prédios, casas e tantos outros imóveis fossem irregularmente construídos, estreitando ruas, espremendo vias secundárias, enquanto a frota de veículos por essas bandas aumenta vigorosamente ano após ano. E o “caos” quem casou foi a Bienal?

A irredutibilidade de pensamento é uma forma de preconceito e, neste caso, vai contra a filosofia “Carpinejiana”, a forma livre de pensamento (que não significa ter razão sempre); contra o crescimento, e crescer dói, mas não significa que a “dor” seja ruim. Inegavelmente a Bienal trouxe crescimento literário à cidade, e sim, causou “dor”. Se pudéssemos nos transportar para um andar superior e observar do alto a Bienal, certamente veríamos coisas muito boas e coisas nem tão boas assim. No entanto, partindo do princípio de que nosso “copo deve estar sempre meio cheio”, os fins literários alcançados pela Bienal foram compensatórios e seria mesquinho não reconhecê-los. E se for preciso “sangrar” uma semana a cada dois anos para que Cachoeiro se aproxime cada vez mais da literatura, estou disposta a “doar meu sangue”.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

IV Bienal Rubem Braga


O tempo não para e passa, aparentemente, cada vez mais rápido. Até “outro dia” estávamos às vésperas da primeira Bienal Rubem Braga, realizada no Pavilhão de Eventos da Ilha da Luz, um momento e um movimento ainda não tão difundidos, pessoas curiosas, duvidosas. Que história seria essa, contada através de bienais? Mais uma feira do livro?

Aos poucos, com experiência de anos passados, a Bienal Rubem Braga, finalmente começa a ser entendida como um “tributo” à literatura, vez que aqui, em Cachoeiro de Itapemirim, terra de Rei e Sabiá, não poderia deixar de existir uma festa que rendesse homenagem às palavras, tão bem tratadas pelas pontas das canetas e dos dedos daqueles que por nome e sobrenome dão título à Bienal.

O certo é que o evento literário que está para começar no próximo dia 15, nas dependências da Praça Jerônimo Monteiro, que, convenhamos, ganhou muito mais amplitude e foco depois que mudou de “território”, dará abrigo não só àqueles consagrados pela história, mas também evidenciará outros jovens e talentosos escritores que, passo a passo, caminham para ter seu lugar ao sol.

Vale dizer que, dentre os 30 e poucos jovens escritores que farão seus lançamentos durante a Bienal, a Doutora Tatiana Mareto Silva, advogada, professora, escritora, não estará presente (?). “O Segredo de Esplendora”, obra da literatura fantástica, literatura diferente do que se costuma ver e ler por essas bandas, fez sua estréia em terras capixabas, não em Cachoeiro, cidade da Bienal, mas sim em Marataízes, nossa vizinha “praiana”, no Palácio das Águias, na última sexta-feira, 11. Espero que, mesmo não sendo durante a Bienal, tenhamos a oportunidade de prestigiar o trabalho realizado pela Dra. Tatiana. Fica a dica para nossa Secretária de Cultura, Cristiane Resende Fagundes.

A IV Bienal Rubem Braga merece ser divulgada, disseminada por todos os cantos da cidade, para que, assim, mantenha-se eterna esta doce herança constituída de letras e sentimentos. Num dia qualquer da semana que passou, caminhando pela Praça Jerônimo Monteiro, observei mãe e filho. Ele, com seus quatro ou cinco anos, notando que havia tapetes vermelhos e tendas sendo montadas, indagava à mãe se haveria “circo” ou “parquinho” naquele local. Fiquei apreensiva por segundos e respondi mentalmente àquela pergunta, até que a mãe, calmamente lhe transmitiu o recado: “Não, é que vai ter Bienal Rubem Braga esse ano. Eles vão encher isso aqui de livros e a gente virá pra ver. Vai ser muito legal”.


Lição dada, lição aprendida. Na memória daquela criança a Bienal jamais será perdida. E assim se fazem jovens escritores. Assim se mantém acesa a chama. Assim se mantém a história, não de uma feira do livro, mas de uma bienal, da Bienal Rubem Braga!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Que se dane o individualismo


Ano após ano, sempre discutindo as mesmas questões, os mesmos impasses, as mesmas coisas... a mesmice! É assim que vive o Itabira: na mesmice.

Hipocrisias muito a parte, pois não as suporto, veja-se há quanto tempo padece a região do Itabira sem destino certo? O que muito se viu até hoje foram “interesses”, manobras para se atingir o bem individual. Já ouvi dizer inúmeras vezes que trabalhar em prol da coletividade é algo utópico e, neste ponto, peço licença ao leitor para, de um modo menos delicado, externar meu repúdio quanto a este pensamento. Desde que o mundo é mundo temos vivido em sociedade, inegavelmente somos coletivo e todas as normas expressas em lei, por exemplo, foram criadas para ordenar a convivência social. Nós ditamos as regras, nós convencionamos que teríamos representantes, nós... E como pode ser que pensar no coletivo tenha se transformado em utopia? Discordo e não aceito este pensamento.

A unidade de conservação ambiental – Itabira – hoje sob a nomenclatura de Monumento Natural há anos é pauta que se discute. Infelizmente, a área verde que circunda a rocha, que também já foi chamada de “área de desenvolvimento sustentável”, nunca possuiu efetivamente administrador que zelasse. Atualmente, com demarcação de zona de amortecimento “feita no facão”, sem estudos aprofundados de fauna e flora, isto é, sem o devido e conceituado Plano de Manejo, que é justamente o processo pelo qual todas as espécies de vida localizadas na região da unidade de conservação serão mais do que catalogadas, e sim observadas e respeitadas em seu habitat natural, o Itabira está, literalmente, entregue às traças.

O Conselho Municipal do Monumento Natural Itabira, que iniciou suas atividades no último ano, com intuito de cuidar dos interesses da região (ou seja, interesse coletivo) tem como uma de suas responsabilidades, apontar diretrizes, traçar o “referenciamento” que servirá de base para a concretização do plano de manejo. No entanto, as atividades do Conselho têm esbarrado em burocracia e também no descaso de algumas entidades que o compõem. Com morosidade na tramitação dos processos, mesmo havendo verba para investir nos trabalhos do plano de manejo, as ideias permanecem no papel.

O que se deve buscar ao tratar questões que envolvam o Itabira é fazer o melhor para que a riqueza ali presente seja mantida e que, havendo exploração de recursos, que esta seja feita de modo a não devastar o que a natureza levou anos para construir. Todos os cidadãos cachoeirenses devem zelar pelo patrimônio natural impresso na cadeia de montanhas que dá contorno à nossa cidade.

Dos conselheiros se deve cobrar maior responsabilidade e empenho na causa, no mínimo participando ativamente das reuniões e tomadas de decisão. O dinheiro que será investido na feitura do plano de manejo não é “trocadinho do pão”. São mais de 100 mil reais que deverão ser gastos e muito bem gastos, afinal de contas estamos guerreando pelo bem comum, pela preservação, pela conservação do meio ambiente. E cá para nós, que se danem os interesses individuais, se o que está em jogo é muito maior e mais valioso do que meia dúzia de vontades atendidas...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cachoeiro, quem te ama torce para dar certo!


O tema “coleta seletiva do lixo e reciclagem” dificilmente entrará no rol dos assuntos “démodés”. Por certo, as questões relacionadas à preservação do meio ambiente, cada vez mais em voga, vêm atender os apelos de uma pequena parcela da sociedade que começa a enxergar os rombos causados pela alta interferência do homem na natureza, explorando irregularmente seus recursos e devolvendo a ela suas imundices.

Mundo afora são muitas as deficiências no saneamento, na manutenção de ambientes saudáveis, no descarte consciente do lixo e especialmente em seu reaproveitamento, isto é, reciclagem. Crimes ambientais são cometidos todos os dias, no entanto o mais grave entre todos é executado pela inexistente responsabilidade individual, que não deveria de modo algum ter de ser cobrada, mas sim deveria fluir, tal como os afluentes de rios e córregos que, ao contrário do que lhes é natural, estão sendo soterrados pela covardia humana, agonizando na luta pela sobrevivência.

O quadro de descaso já foi pior, admita-se, até porque houve um tempo em que os despautérios da devastação não eram vistos como “prejudiciais”; falsa e idiota ilusão de que esbulhada a natureza não se defenderia, não exigiria, a seu modo, novamente sua posse. Fato “novo” nesta demanda possessória (em que o homem está em plena desvantagem de direitos) é que, finalmente, há manifestações pela preservação (ainda que por medo do agente causador do dano, que receia ficar sem “casa”).

Na última semana o município de Cachoeiro de Itapemirim foi contemplado com dois prêmios SEBRAE – “Prefeito Empreendedor”. O município concorria nas categorias “Crédito e capitalização”, por conta do apoio ao programa “Nosso Crédito”, e “Formalização de Pequenos Negócios e Apoio ao Empreendedor Individual”, pelas políticas públicas de apoio ao empreendedor, como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. A grande notícia, além até da premiação, é que a Administração está investindo em novas propostas e se há iniciativa, há possibilidade de mudanças.

Cachoeiro ainda não possui programa eficiente de coleta, separação, reciclagem e descarte adequado do lixo que produz. Em 2008, assim que iniciei a publicação de artigos neste espaço, reiteradas vezes sugeri que se fizesse mais em prol da questão “lixo”. Recente edição do Jornal Nacional transmitiu o exemplo da cidade de Itu, em São Paulo, onde o município conta com a coleta mecanizada, sendo, ao todo, 2,2 mil contêineres espalhados pela cidade. O trabalho de recolhimento do lixo é diário. Lá existe cooperativa para onde o material passível de reciclagem é destinado e, assim, 400 toneladas de “lixo” se transformam em matéria-prima para outros produtos. É lixo gerando emprego e renda. São aproximadamente 160 mil habitantes naquela cidade, famílias conscientes que separam o material de descarte em suas residências e favorecem o ciclo de reaproveitamento, impulsionando a economia do município, que corresponde, valorizando o empenho de seus moradores lhes oferecendo serviço pleno, de qualidade. Inegavelmente é exemplo a ser seguido!

Jamais duvidei da possibilidade da implantação deste modelo de tratamento de lixo para Cachoeiro, ainda que uma ou outra justificativa esbarrasse no quesito “orçamento”. Ver acontecer em Itu o que há algum tempo sonho para Cachoeiro, apenas fez revitalizar o pensamento, e ter a certeza de que o caminho está certo. Bairrista como sou, insistirei, porque enquanto houver tentativa, haverá chance de acontecer...


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)