"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Carpinejando"


“Conheci” Fabrício Carpinejar na IV Bienal Rubem Braga. Já havia lido alguma coisa de sua obra antes, mas, devo admitir que vê-lo e ouvi-lo foi além da leitura silenciosa que costumo desenvolver; meus olhos e ouvidos o leram! Das falas divertidas, verdadeiras e nada medidas que usou para expressar seu ponto escritor-pessoa de vista, não houve descarte, aproveitei-as todas e, sem medo, tornei-me “mosquito transmissor” de sua ideologia literária.

A abolitio dos pré-conceitos: eis aí o ensinamento! O hoje escritor, que palestra pelo Brasil, mostrou-se um menino “nada convencional”, sem o estereotipo social aceitável. Sem belos olhos azuis ou corpo esculpido, escultural, o “aspirador de pó”, como revelou ter sido rotulado na infância, transformou-se em “expirador de letras”, anunciador de sua própria “desincasulação” através das palavras. Era lagarta; agora, borboleta (e aposto que é borboleta amarela, aquela, de Rubem, que fugiu). Voa!

Ser atraída por Carpinejar não foi privilégio meu. Sei bem de outros tantos que, publicamente, manifestaram sua admiração pelo escritor. Presente para o cachoeirense que frequentou a Bienal! Que venceu pré-conceitos...

A IV Bienal Rubem Braga teve grande repercussão (para o bem e para o mal, infelizmente). A articulista Célia Ferreira produziu artigo excelente sobre os assuntos paralelos que foram exaustivamente discutidos durante a Bienal e expressou, sem demagogias, sua explicação simples, sua sugestão óbvia para sanar um dos “problemas” tão mencionados, o trânsito.

É fato que Cachoeiro de Itapemirim, esta “Atenas capixaba” é crivada de situações menos agradáveis, digamos assim. O próprio trânsito, que causou alvoroço durante a Bienal, é dificuldade constante em nossa cidade. Cadê o PDM? Esquecido, deixado na prateleira, permitindo que prédios, casas e tantos outros imóveis fossem irregularmente construídos, estreitando ruas, espremendo vias secundárias, enquanto a frota de veículos por essas bandas aumenta vigorosamente ano após ano. E o “caos” quem casou foi a Bienal?

A irredutibilidade de pensamento é uma forma de preconceito e, neste caso, vai contra a filosofia “Carpinejiana”, a forma livre de pensamento (que não significa ter razão sempre); contra o crescimento, e crescer dói, mas não significa que a “dor” seja ruim. Inegavelmente a Bienal trouxe crescimento literário à cidade, e sim, causou “dor”. Se pudéssemos nos transportar para um andar superior e observar do alto a Bienal, certamente veríamos coisas muito boas e coisas nem tão boas assim. No entanto, partindo do princípio de que nosso “copo deve estar sempre meio cheio”, os fins literários alcançados pela Bienal foram compensatórios e seria mesquinho não reconhecê-los. E se for preciso “sangrar” uma semana a cada dois anos para que Cachoeiro se aproxime cada vez mais da literatura, estou disposta a “doar meu sangue”.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

IV Bienal Rubem Braga


O tempo não para e passa, aparentemente, cada vez mais rápido. Até “outro dia” estávamos às vésperas da primeira Bienal Rubem Braga, realizada no Pavilhão de Eventos da Ilha da Luz, um momento e um movimento ainda não tão difundidos, pessoas curiosas, duvidosas. Que história seria essa, contada através de bienais? Mais uma feira do livro?

Aos poucos, com experiência de anos passados, a Bienal Rubem Braga, finalmente começa a ser entendida como um “tributo” à literatura, vez que aqui, em Cachoeiro de Itapemirim, terra de Rei e Sabiá, não poderia deixar de existir uma festa que rendesse homenagem às palavras, tão bem tratadas pelas pontas das canetas e dos dedos daqueles que por nome e sobrenome dão título à Bienal.

O certo é que o evento literário que está para começar no próximo dia 15, nas dependências da Praça Jerônimo Monteiro, que, convenhamos, ganhou muito mais amplitude e foco depois que mudou de “território”, dará abrigo não só àqueles consagrados pela história, mas também evidenciará outros jovens e talentosos escritores que, passo a passo, caminham para ter seu lugar ao sol.

Vale dizer que, dentre os 30 e poucos jovens escritores que farão seus lançamentos durante a Bienal, a Doutora Tatiana Mareto Silva, advogada, professora, escritora, não estará presente (?). “O Segredo de Esplendora”, obra da literatura fantástica, literatura diferente do que se costuma ver e ler por essas bandas, fez sua estréia em terras capixabas, não em Cachoeiro, cidade da Bienal, mas sim em Marataízes, nossa vizinha “praiana”, no Palácio das Águias, na última sexta-feira, 11. Espero que, mesmo não sendo durante a Bienal, tenhamos a oportunidade de prestigiar o trabalho realizado pela Dra. Tatiana. Fica a dica para nossa Secretária de Cultura, Cristiane Resende Fagundes.

A IV Bienal Rubem Braga merece ser divulgada, disseminada por todos os cantos da cidade, para que, assim, mantenha-se eterna esta doce herança constituída de letras e sentimentos. Num dia qualquer da semana que passou, caminhando pela Praça Jerônimo Monteiro, observei mãe e filho. Ele, com seus quatro ou cinco anos, notando que havia tapetes vermelhos e tendas sendo montadas, indagava à mãe se haveria “circo” ou “parquinho” naquele local. Fiquei apreensiva por segundos e respondi mentalmente àquela pergunta, até que a mãe, calmamente lhe transmitiu o recado: “Não, é que vai ter Bienal Rubem Braga esse ano. Eles vão encher isso aqui de livros e a gente virá pra ver. Vai ser muito legal”.


Lição dada, lição aprendida. Na memória daquela criança a Bienal jamais será perdida. E assim se fazem jovens escritores. Assim se mantém acesa a chama. Assim se mantém a história, não de uma feira do livro, mas de uma bienal, da Bienal Rubem Braga!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)