"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

De que tipo você é?


Sou do tipo que espera o sinal ficar verde (para pedestres) quando preciso atravessar a rua; do tipo que procura faixas (quando não há sinalização) e do tipo que olha duas vezes para o lado antes de me submeter ao “fogo cruzado” de carros; do tipo que agradece se algum motorista, gentilmente, para e permite que eu atravesse a rua; do tipo que prefere “perder” alguns minutos entre o “vermelho e o verde” do que perder a educação... e a vida...

Sou do tipo que deseja “bom dia”, ainda que o sol não tenha saído, esteja chovendo e fazendo frio; do tipo que responde “graças a Deus” quando alguém pergunta: “Tudo bem?”; do tipo que reclama, mas, especialmente, do tipo que agradece e busca ver o lado mais bonito, ainda que a flor esteja seca, caída no chão. Sou do tipo que gosta de caminhar só pelo prazer de observar o que há pelo caminho; do tipo que respira fundo, porque entende que respirar é vida e vida a gente não desperdiça! Sou do tipo que reza, pede a Deus para que ajude a resolver os problemas, mas também sou do tipo que volta atrás na oração e pede perdão a Deus por achar que meus problemas são maiores do que tantos outros... Tenho boa saúde, família, amigos... Não sei o que é fome, frio... Problemas? Penso que os poucos que tenho servem para deixar a vida mais “emocionante”!

Sou do tipo que gosta de participar e estar por perto; do tipo que se cala, mas principalmente do tipo que se manifesta (defeito? Algumas vezes penso que sim. Calar é uma arte. Falar nem tanto. Talvez ainda me falte talento). Sou do tipo que lê e do tipo que é capaz de passar alguns minutos refletindo sobre uma mesma frase; do tipo que ouve qualquer tipo de música, que dança, mas que pouco sabe sobre coreografias; meu corpo é do tipo que se mexe num ritmo próprio, de um tipo que é só dele e por ser assim, pode ser que, conforme a música, nem se mexa, no entanto, ao seu modo, pode estar dançando...

Sou do tipo que se incomoda ao ver lixo no chão, do tipo que se sente tentada a recolher papéis de bala que encontra pelas calçadas. Sou do tipo que, antes, pensa no bem e só depois descobre que não era bem o bem que pensava ser... Do tipo que se arrepende (porque fez algo, porque deixou de fazer, porque assim é a vida e nem tudo é possível ou impossível).

Sou do tipo que primeiro sorri, do tipo que aposta tudo num pedido educado; do tipo que se surpreende com grosserias, que não se acostuma à violência; do tipo utópico... E que “tipo” triste é este de ser... Sou do tipo que prefere crer; ainda sou do tipo que confia no homem e em sua capacidade de sempre ser melhor... Eu... Eu sou desse tipo, um tipo meio “bobo”, um tipo que não é dos melhores para se ser hoje em dia... Eu sou desse tipo. E você? De que tipo você é?...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Vale a pena NÃO desistir


Na última terça, 30, fui convidada pelas professoras Sayonara e Regina para estar na Escola Estadual Zacheu Moreira da Fraga, em Soturno, com o objetivo de falar, resumidamente, sobre Literatura Feminina. Senti-me honrada por ter tido a oportunidade de dispor de algumas horas para falar sobre literatura e por, especialmente, estar próxima aos alunos e receber deles tamanha receptividade.

Alunos da 3ª, 4ª, 7ª e 8ª séries tiveram seu momento literário. Os da 3ª e 4ª, com tempo resumido, chance apenas para um modesto bate-papo, mas o suficiente para se mostrarem interessados pela leitura e escrita. A professora Sayonara, que leciona Língua Portuguesa / Literatura, é grande incentivadora das turmas e cultiva atividades relacionadas à construção textual criativa que, inclusive, pelo que fiquei sabendo, em breve será transformada em livreto de autoria de cada aluno, mais especificamente os da 4ª série. Vale destacar, ainda, que sob a coordenação da professora Sayonara, os alunos são responsáveis pela construção do jornal da escola, um verdadeiro primor! O ápice do meu encontro com os alunos, os da 7ª e 8ª séries, se deu quando nos reunimos para traçar, mesmo que minimamente, um pouco da trajetória da mulher na literatura, quais barreiras foram impostas e, principalmente, como foram superadas.

Falamos sobre Josephina Álvares de Azevedo, prima do também escritor Álvares de Azevedo, uma das pioneiras do movimento feminista no Brasil (que aproveito para dizer, fora um movimento que, apesar de hoje, por vezes, ser tomado como ruim e o termo “feminismo” ser usado pejorativamente, foi responsável por dar à mulher destaque perante a sociedade brasileira machista da época). Sobre Josephina há que se dizer que em maio de 1889 fez representar comédia de sua autoria chamada “O Voto Feminino”, uma espécie de protesto por não ter conseguido incluir a lei do voto feminino no Projeto da Constituição que se elaborava, voto que somente seria conquistado em 1932, ou seja, Josephina foi uma mulher muito à frente de seu tempo. Também lembrada, Nísia Floresta Brasileira Augusta (pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto), foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços público e privado publicando textos em jornais, no tempo em que a imprensa nacional ainda engatinhava. Outros grandes nomes também foram mencionados, tais como Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Adélia Prado... Enfim, exemplo mínimo no oceano de grandes mulheres e escritoras!

Estar com os alunos, vê-los tão atentos e curiosos sobre um tema que para uma maioria é enfadonho (infelizmente), fez-me confirmar o que trago no título deste artigo, que não vale a pena desistir, porque desistir de tentar é “burrice” e porque desistir de levar conhecimento e crer na educação seria como morrer em vida.

Quando se tem vontade de mudar, ainda que se esteja só, enfrentando a multidão, desistir não é o melhor a se fazer. Para que a mudança que desejamos ver no amanhã aconteça, as ações de hoje devem ser contínuas e sempre renovadas, assim como nos campos, em que há tempo para plantar e tempo para colher. Todo aquele que está à frente daquele que acaba de nascer é semeador; plantamos para os mais jovens e colhemos aquilo que fora plantado para nós...


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e escritora)