"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Notícia crime


No dia 21 de dezembro de 2012, sexta-feira, saí de minha casa (na região do Itabira) e ao me dirigir no sentido bairro São Luiz Gonzaga, infelizmente, testemunhei cena que, de imediato, deu-me a impressão apocalíptica, o que, como num flash, confirmou-se a teoria Maia do fim do mundo: na Rodovia do Contorno, numa extensão de aproximadamente um quilômetro, sacolas vazias, diversas delas, espalhadas, criminosamente...

Muitas das aberrações humanas já vistas durante os muitos anos de sua existência, absurdamente, deixaram de ser consideradas estranhas, ou seja, como se fatos, tais como violência e morte, estivessem tão amplamente inseridos no cotidiano dos homens que não mais fizessem diferença ou causassem impacto; acostumou-se com o trágico e o trágico normalizou-se. É o que ocorre com o descaso para com o meio ambiente.

O ato de arremessar “coisas” pela janela do carro, por exemplo, ou não coletar o lixo seletivamente, ou ainda não preocupar-se em depositar lixo em local adequado, fazem parte da rotina humana. Deveria ser o contrário. Mas não é. Há tanta naturalidade em atos como estes, há tamanha despreocupação em saber sobre o que seria “certo” ou “errado”, que nada mais parece abalar o interior humano. O que deveria chocar não choca. Simples assim. Em Sociologia este fato poderia ser relatado como uma mudança de costumes; não evolução, mas sim uma transformação de hábitos, uma “adequação” (inadequada) da humanidade. Particularmente, abandonando os critérios sociológicos, aplico, de modo destemido, o termo involução ao caso. Não parece o mais correto, mas é inadmissível que a humanidade possa, apenas, ser tratada como algo que se transforma, quando é possível constatar que, in verdade, não há efetivamente transformação e sim destruição.

As sacolas vazias que foram abandonadas na Rodovia do Contorno (nas proximidades do Itabira, que é área de preservação ambiental, Monumento Natural, que vive atualmente processo para formatação de Plano de Manejo voltado para o cuidado com a região), são de embalagens dos produtos conhecidos como “SALGADINHOS FOFURA” e “SALGADINHOS TORCIDA”, fabricados e distribuídos pela empresa “PEPSICO DO BRASIL”, em todo o território nacional, inclusive em em Cachoeiro de Itapemirim – ES.

Responsabilidades social e ambiental não podem ser e não são mais tratadas como teorias. A prática se impõe e não poderia ser diferente. O que vislumbrei no último dia 21 me pareceu ser sim o “fim do mundo”: o fim da consciência humana, o fim do respeito para com o meio ambiente, o fim de si mesmo. É bem verdade que não há como apontar para “o criminoso” numa situação como esta. Não se sabe quem foi e porque o fez. Contudo o crime não poderá, jamais, ficar omisso, oculto. O crime precisa ser revelado e quanto às providências... Desnecessário dizer que urgem serem tomadas.

Ainda que não seja a fabricante do “Fofura” ou “Torcida”, por acaso, responsável pela tragédia aqui relatada, espero, sinceramente, que, contrário senso, haja impacto, haja revolta, haja estarrecimento, haja, especialmente, atitude de reparação. Não é preciso mais do que vontade para fazer a diferença; difícil é encontrar quem queira fazer a diferença...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)