"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Audiência Pública no Itabira

Audiência Pública realizada no Itabira - 02.04.2013

Aconteceu no dia 02 de abril a tão esperada Audiência Pública para aprovar o Plano de Manejo do Monumento Natural do Itabira, momento que contou, efetivamente, com a participação popular. Presentes, também, o Prefeito, o Secretário de Meio Ambiente, Gustavo Coelho Marins, o representante do Ministério Público, Dr. Hermes Zaneti Júnior, Conselheiros do CMMNI, integrantes da empresa Visão Ambiental, responsável pela coordenação dos estudos, os vereadores Alexandre Maitan e Delandi Macedo, além de outras importantes presenças, que no decorrer dos trabalhos deram sua contribuição.

O evento foi dividido em duas partes, sendo a primeira reservada à exposição dos estudos técnicos realizados na região, e a segunda para perguntas, debates e esclarecimentos de dúvidas. O público presente, formado, como não poderia deixar de ser, essencialmente por proprietários das terras em questão, não economizaram perguntas e, felizmente, saíram se não com a resposta que queriam, mas com alguma resposta.

Das dúvidas apresentadas pelo público, é polêmica a que se refere à linha imaginária delimitadora das zonas de proteção integral e zona de amortecimento em torno do Monumento Natural. As propriedades que foram abarcadas pelas zonas de proteção terão de se adequar; empreendimentos na área terão de ser apresentados à análise do CMMNI, além de, também, estarem submetidos ao poder fiscalizador do Ministério Público, isso para que o meio ambiente não seja agredido e desfigurado (ainda mais) na região.

Moradores da região reunidos no SINDIFISCAL

A ideia de manter a natureza intacta, a salvo, fatalmente, não agradou a todos, isso porque, à primeira vista, a formalização de um Plano de Manejo dá tons de maior seriedade ao que dispõe a Lei, especialmente no que tange às restrições para dispor e edificar na área. Para alguns proprietários, o conceito “preservação” é sinônimo de “proibição” e isso significa não lucrar. Significa perda de dinheiro. E quando o ataque vai ao bolso ou, in casu, parece ir direto ao bolso, a reação é imediata... Meio metro de linha para lá ou para cá dá a impressão de prejuízo e esta é a mais sincera e dramática explicação para esta dúvida tão frequente.

O atual Conselho Municipal do Monumento Natural do Itabira tomou posse no dia 20 de julho de 2011, mas a legislação que deu novos rumos ao Itabira enquanto unidade de conservação tem data retroativa de, pelo menos, cinco anos. Não é (ou não deveria ser) novidade para ninguém o procedimento pelo qual atravessa o cartão postal mais imponente de Cachoeiro, no entanto, para muitos, somente no dia da audiência é que alguns fatos vieram à tona. É dever do poder público informar a população, mas o povo não pode se eximir, de maneira alguma, de buscar estas informações. Paga-se muito mais caro por cruzar os braços e esperar...

Quanto aos resultados práticos da Audiência Pública, espera-se que agora, após a aprovação do Plano de Manejo, as atividades não cessem e que as melhorias em termos de preservação e melhor qualidade de vida de fato venham. Não vim até aqui para desistir agora. Espero que o Prefeito e todos os envolvidos neste projeto também não.

Ministério Público e Executivo Municipal presentes.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Quando há determinação, nada pode impedir!

Li esta semana no Portal G1 matéria que me causou especial comoção. Falava sobre o “menino” Cláudio Luciano Dusik, que nasceu com atrofia muscular espinhal (AME), doença degenerativa que deforma o corpo e limita os movimentos. De acordo com os médicos ele viveria até os 14 anos, se muito. Não havia, exatamente, uma história a ser contada, porque sua história já se iniciara com fim anunciado.


Vivendo em universo de prováveis impossibilidades, Cláudio, gaúcho de Esteio, Região Metropolitana de Porto Alegre, levado pela mãe, passou a frequentar a escola e por várias vezes ficava sozinho na sala de aula na hora do intervalo, pois não tinha acessibilidade para ir ao pátio do colégio que ficava no térreo do prédio. Somente mais tarde, na terceira série, um professor desenvolveu projeto chamado “Ajudante do Dia” e foi a partir daí que começou a interagir com outras crianças. Sentiu-se feliz por poder ser empurrado na cadeira de rodas adaptada e por cair de vez em quando; o menino, finalmente, sentia-se como os outros.

Contrariando o veredicto da ciência, Cláudio avançou em idade e conhecimento. Terminou a fase colegial e ingressou na faculdade de Psicologia! A doença, no entanto, covardemente, também avançou e, pouco a pouco, o menino percebeu que perdia os movimentos das mãos. Porém, contra a doença, e muito a favor de seu prosseguir, de saltar obstáculos, o rapaz buscou algo que pudesse auxiliá-lo na jornada. Não encontrou nada pronto, então, desenvolveu algo para si. Foi dali que surgiu a ideia do Mousekey, uma espécie de teclado, que funciona principalmente pelo movimento do mouse e cliques, detalha o alfabeto, sílabas, pronomes e sílabas acentuadas... 

Todas as barreiras que surgiram na estrada de Cláudio foram sendo superadas com determinação e auxilio de sua família. Após concluir o curso de graduação, o rapaz queria mais e, assim, iniciou mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No dia 26 de março de 2013, aos 36 anos, Cláudio Luciano Dusik, contra todas as previsões de desengano sobre sua vida, apresentou para uma plateia de aproximadamente 50 pessoas, seu trabalho de conclusão de curso, mostrando como desenvolveu o Mousekey, esta ferramenta que lhe é muito útil e que também será de grande utilidade para tantos outros que ultrapassam limites assim como Cláudio.

Quando terminei de ler a reportagem feita pelo Portal G1, confesso, os olhos estavam marejados e de imediato o pensamento: quantos “perfeitos fisicamente” estão por aí se sentindo inválidos? Quantos já quiseram a morte? Quantos se queixam, diariamente, de suas dificuldades financeiras?... Mas será que sabem o que é dificuldade?

A lição que aprendi com Cláudio, simples e de uma verdade ímpar, é de que, quando há determinação, nada pode impedir a conquista. Estou orgulhosa deste brasileiro que, poderia ter morrido, mas escolheu viver. Com as palavras que encerraram a apresentação da tese de mestrado de Cláudio, também encerro este texto. Abro aspas ao vencedor: “Quero escrever p-o-s-s-í-v-e-l nas histórias de prováveis impossíveis”.



(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)