"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A "grande pensadora contemporânea": Waleska Popozuda!


Para recordar análise feita à época da discussão sobre a "grande pensadora contemporânea" que figurou numa prova da matéria de filosofia. Ainda não havia publicado o comentário que fiz em postagem do amigo (cachoeirense) Sérgio Garschagen. Vamos, portanto, a ela na íntegra, conforme escrevi no Facebook:


Amigos, relendo a questão (fiz isso algumas vezes desde que o tema virou polêmica) devo admitir que (por favor não me crucifiquem) faz algum sentido (não a parte em que ela é chamada de pensadora contemporânea... mas será que não é? O cenário brasileiro atual está tão desse jeito que começo a questionar se Waleska Popozuda, Anitta, um pessoal do axé e outros do pagode não são mesmo os "pensadores contemporâneos"...). Vejamos:

"Se bater de frente" é... é o que?!

É só beijinho no ombro? Não, não me parece a melhor opção, até porque o diminutivo (beijinho) me remete a algo mais suave, que não combina muito com bater de frente! rs.

É recalque? Também creio que não, afinal, a palavra "recalque" é derivação regressiva de "recalcar", que por sua vez nos dá ideia de calar, não deixar manifestar ou, ainda, em termos psicanalíticos seria um "processo inconsciente pelo qual uma ideia, sentimento ou desejo que o indivíduo tem por repugnante é por este excluído de admissão consciente, mas persiste na vida psíquica, causando distúrbios mais ou menos graves (Fonte: dicionário Aurélio). Assim, se bater de frente é recalque?! Penso que não...rs.

É vida longa?!?! Nesta opção repousa o maior antagonismo entre as demais, porque "bater de frente" me causa a impressão de enfrentamento, oposição, um quase guerra (!!!) que, consequentemente, não me parece ser o cenário mais apropriado para uma "vida longa". Digamos que, numa linha de raciocínio (não tão lógico, mas muito lógico se visto sob a ótica do conteúdo da expressão) os termos não se complementam! Se bater de frente (com um caminhão em alta velocidade, por exemplo) as chances de vida longa podem ser drasticamente reduzidas, quiçá aniquiladas! Portanto, definitivamente, a alternativa "d" não seria resposta adequada à questão.

Finalmente ( e de propósito) temos: "É só tiro, porrada e bomba". Fantástico! rs. Pensando bem sobre o caso (e entendo que a prova, que era de filosofia, também tinha tal cunho) a melhor resposta, ainda que o aluno não soubesse a letra a canção (?), que não conhecesse a compositora (?????), teria condições de responder a questão, usando, até mesmo (pasmem!) algo que é próprio da filosofia: o silogismo! Numa aplicação direta (de silogismo lógico) ficaria assim:

SE BATER DE FRENTE...

...É SÓ TIRO, PORRADA E BOMBA.

O enfrentamento imposto pelo "bater de frente" (premissa maior), via de regra, acarretará "tiro, porrada e bomba" (premissa menor), desembocando num cenário de conflitos, conflitos esses que também são rotina para o brasileiro, seja na ocupação de favelas no Rio de Janeiro, seja na amargura da seca nordestina ou quem sabe até numa violenta rotina nas rodovias... batendo de frente... perdendo vidas... (conclusão).

Assim, apesar de toda a polêmica sobre o assunto, ouso fazer observação escorada em uma segunda hipótese, que é a de literalmente pensar a respeito e ao invés de ironizar, extrair algo de fato proveitoso, não necessariamente do funk composto pela senhora Waleska, mas da intenção do professor (de filosofia) que, talvez, quisesse fazer seus alunos transcenderem à obviedade do "batidão" popularizado pela popozuda e no íntimo de suas mentes elevarem o pensamento à atual condição de vida e valores da sociedade contemporânea...
Valquiria Rigon Volpato
08 de abril de 2014.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Uma 'questão' de publicidade...


Lendo acerca da “polêmica” sobre o aluno Francinaldo, de 16 anos, que fizera espécie de brincadeira no corpo da redação exigida pelo ENEM 2014, cujo tema era “publicidade infantil em questão no Brasil”, observei diversos comentários. Algumas análises, como as do INEP e do próprio Francinaldo, prederam minha atenção, não exatamente pelo fato da crítica, mas por me parecerem muito preocupadas com o desmerecimento e pouco com a lógica, sim, a lógica pretendida, ao meu ver, pelo exame aplicado.

O tema proposto buscava dar alerta sobre a publicidade infantil, que se difere das outras chamadas de marketing, isso porque crianças são mais sensíveis a determinadas imagens e falas do que adultos. Não é novidade que o mercado de propagandas se vale de mensagens subliminares para capturar a atenção, assim, como quem não quer nada... Não se trata de paranormalidade ou qualquer outra coisa que pareça ser de outro mundo! Trata-se, tão somente, de estratégia daquele seguimento comercial.

Pelo curto trecho do texto que pude ler - divulgado nas matérias de internet - preciso dizer que Francinaldo, apesar de confessar que fez "brincadeira" durante a composição da redação, foi capaz, ainda que inconcientemente, de se aproximar do tema proposto com sagacidade. O tema era publicidade infantil, que se vale de metodologia distinta, pois almeja conquistar público específico e o aluno - percebam como foi inteligente - escreve a frase “Que tem essa finalidade, porque é meu niver”, inserindo, portanto, na composição textual sua própria publicidade, com metodologia direcionada, chamando a atenção, ainda que não à primeira vista, para sua propaganda pessoal, quiçá objetivando receber alguns presentes?! Francinaldo, 16 anos, paraibano... gênio! E não estou brincando, não!

Os critérios de correção - coerência, coesão, ortografia, concordância - devem ser mantidos e ampliados, até porque não queremos maus escritores, péssimos leitores, no entanto, a pontuação da redação deve considerar a perspicácia, capacidade de organização das ideiais e apromoximação do tema, isto é, capacidade de redigir com intimidade à situação proposta.

Talvez o aluno não soubesse a dimensão do que estava fazendo - uma pena -, porém conseguiu atingir o objetivo e, com um toque de humor, diferenciou-se dos demais textos, que, certamente, ficaram presos à outras questões técnicas, o que não os desmerece, obviamente, mas que os equipara, enquanto Francinaldo fez a diferença...


(Valquiria Rigon Volpato
15 de maio de 2015)