No dia 21 de dezembro de 2012,
sexta-feira, saí de minha casa (na região do Itabira) e ao me dirigir no
sentido bairro São Luiz Gonzaga, infelizmente, testemunhei cena que, de
imediato, deu-me a impressão apocalíptica, o que, como num flash, confirmou-se a teoria Maia
do fim do mundo: na Rodovia do Contorno, numa extensão de aproximadamente um
quilômetro, sacolas vazias, diversas delas, espalhadas, criminosamente...
Muitas das aberrações humanas já vistas
durante os muitos anos de sua existência, absurdamente, deixaram de ser
consideradas estranhas, ou seja, como se fatos, tais como violência e morte,
estivessem tão amplamente inseridos no cotidiano dos homens que não mais
fizessem diferença ou causassem impacto; acostumou-se com o trágico e o trágico
normalizou-se. É o que ocorre com o descaso para com o meio ambiente.
O ato de arremessar “coisas” pela janela
do carro, por exemplo, ou não coletar o lixo seletivamente, ou ainda não preocupar-se
em depositar lixo em local adequado, fazem parte da rotina humana. Deveria ser
o contrário. Mas não é. Há tanta naturalidade em atos como estes, há tamanha
despreocupação em saber sobre o que seria “certo” ou “errado”, que nada mais
parece abalar o interior humano. O que deveria chocar não choca. Simples assim.
Em Sociologia este fato poderia ser relatado como uma mudança de costumes; não
evolução, mas sim uma transformação de hábitos, uma “adequação” (inadequada) da
humanidade. Particularmente, abandonando os critérios sociológicos, aplico, de
modo destemido, o termo involução ao caso. Não parece o mais correto, mas é
inadmissível que a humanidade possa, apenas, ser tratada como algo que se
transforma, quando é possível constatar que, in verdade, não há efetivamente transformação e sim destruição.
As sacolas vazias que foram abandonadas
na Rodovia do Contorno (nas proximidades do Itabira, que é área de preservação
ambiental, Monumento Natural, que vive atualmente processo para formatação de
Plano de Manejo voltado para o cuidado com a região), são de embalagens dos
produtos conhecidos como “SALGADINHOS
FOFURA” e “SALGADINHOS TORCIDA”,
fabricados e distribuídos pela empresa “PEPSICO
DO BRASIL”, em todo o território nacional, inclusive em em Cachoeiro de
Itapemirim – ES.
Responsabilidades social e ambiental não
podem ser e não são mais tratadas como teorias. A prática se impõe e não
poderia ser diferente. O que vislumbrei no último dia 21 me pareceu ser sim o
“fim do mundo”: o fim da consciência humana, o fim do respeito para com o meio
ambiente, o fim de si mesmo. É bem verdade que não há como apontar para “o
criminoso” numa situação como esta. Não se sabe quem foi e porque o fez.
Contudo o crime não poderá, jamais, ficar omisso, oculto. O crime precisa ser
revelado e quanto às providências... Desnecessário dizer que urgem serem
tomadas.
(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)