"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

terça-feira, 21 de julho de 2020

Eu. Mulher.

Eu. Mulher. Quem eles dizem que sou? Isso importa? Vejam como ela se comporta! - exclamam. Por quê? Isso te interessa? Eu. Mulher. Soul.

Desenham meu corpo, ressaltam minhas curvas, curvam-se à minha beleza e querem que eu me curve aos preconceitos: “não com essa roupa!” “você está louca!” “incapaz!” “você não aguenta” “preta” “puta” “vagabunda”… Parem! Minha cabeça não fica na bunda. Ouçam o que digo!… Eu sei, você não me aceita.

Eu, mulher, tenho lutado através do tempo, não me importa seu reconhecimento, não é isso que quero; a luta que travo é por mim, por quem sou e por quem EU quiser ser, sem julgamentos, sem condenações por algo que não fiz. Luto pra ser gente. Luto. Pelas vozes caladas, violentamente, por aquele soco atravessado dos olhos à alma; estilhaços de dignidade caídos ao chão, misturados em suor e sangue. Mas, olhe – não para os pedaços de mim – olhe o inteiro que sou; inteiramente, livre!

Verto rios em lágrimas adubando solos, plantando sementes; colho a fruta fresca dos ideais, mastigo, calmamente, a suculência de sua carne – sacio, não por inteiro, a fome de justiça  – sinto esborrar a adocicada conquista. O tempo faz florescer a consciência, ainda franzina, mas que vinga!

Amanheço. Raio sol, sou Vênus. Derramo orvalho e me espalho, preencho os campos, acampo corações, misticamente, me entrelaço a outras energias e, assim, aconteço; poesia. Uni-verso – onde não caibo – cabe-me ser astro, atriz, lirismo, feminino, feminista, menina, mulher… Uma espécie de Macabéa por empatia, que brilha:

É a hora… a hora da Estrela!




Janeiro de 2020.
Valquiria Rigon Volpato