"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Carta para um amigo

Cachoeiro de Itapemirim – ES, 25 de junho...







Querido Amigo,

Estou, novamente, de passagem por Cachoeiro; será breve minha estadia, por isso, preferi deixar minhas lembranças a você escritas nesta carta. Não fique zangado! Prometo, noutra hora, voltar com mais tempo e me sentar contigo para escutar cada uma de suas novidades e, já sei, são muitas…

Assim que cheguei, decidi caminhar um pouco pelas ruas para, quem sabe, esbarrar com algum dos nossos amigos enquanto estivesse por aqui e durante meu curto passeio, notei todos inquietos, nas esquinas, nos bares, falantes além do de costume. Foi aí que me dei conta: Cachoeiro está em festa!

É mesmo uma pena que eu não possa ficar para sorrir contigo neste momento tão feliz, sei o quanto ama nossa cidade, como tem se dedicado para preservar a história e manter, em destaque, essa brava gente da qual somos feitos. A cada vinda, meu peito se enche de alegria, e vou embora transbordando saudade dessas terras entre as serras, doce terra onde eu nasci! 

Penso que seja característico de quem nasce por essas bandas ter no peito mais de um coração, talvez, por isso, tantas vezes vi você captando pedaços de todas as dores do mundo com essa sensibilidade, uma antena delicadíssima, e que, espero, não te faça morrer de dores que não são suas.

Sabe, amigo, nossa Cachoeiro está crescendo e carrego um orgulho danado de poder me dizer “cachoeirense”, ainda que distante, ainda que ausente. Não importam os caminhos percorridos, porque a distância será sempre encurtada pelas lembranças, tão íntimas, capazes de transformar saudade em ponte, em porta que, ao se abrir, revela passagem secreta por onde Cachoeiro e os seus, em todo tempo, estiveram mãos dadas. Cachoeirenses ausentes, eternamente, presentes!

É impressionante como nossa cidade me encanta. O Rio Itapemirim é privilégio, uma artéria irrigando nossos sonhos, fazendo brotar as mais lindas inspirações, não é atoa que há tanta gente fazendo arte por aqui. No espelho d’água do Itapemirim, vem refletido o Itabira que, a propósito, fez-me lembrar do que alguém, um dia, certamente, dirá: “Newton pertence à paisagem humana cachoeirense, igualzinho ao Itabira; se você tirar o Itabira, Cachoeiro não existe”. E razão há de o assistir.

Hoje, enquanto escrevo esta carta, é possível que poucos a compreendam, mas quando você a estiver lendo, não haverá dúvidas, porque todos saberão como a história aconteceu. Se Cachoeiro está em festa, se há tantos merecedores de nossas homenagens, o primeiro entre eles, é Newton Braga. Aliás, Newton, porque a amizade assim me permite! E que alegria a minha ter amigos assim.

Fico feliz por ter a chance de lhe enviar esta carta, de poder dizer o quanto nossa cidade ainda amadurecerá com o passar dos anos. Nada aconteceu por acaso, sempre existiu alguém para amar e respeitar Cachoeiro e cachoeirenses como de fato merecem. Aí está o segredo! Newton foi Advogado, Jornalista, Poeta, mas nenhuma de suas titulações o fez tão presente como ser apaixonado por sua cidade!

Meu tempo é curto. Preciso me despedir, porém o faço com o coração próximo à garganta, com zelo para que as lágrimas transbordantes não manchem o papel. Impossível colocar limites à tamanha emoção. Qualquer dia, amigo, eu volto. Até lá, desejo que tenha compreendido meu motivo de hoje estar. Cumprimente a todos por mim; conte a eles o segredo que hoje te revelei: apaixonem-se!


Receba meu abraço. Com carinho.


“A Moça do Tempo”

(Valquiria Rigon Volpato
25 de junho de 2019)