"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

“Não gosto de política, Deus me livre!”


Não sou muito favorável àquela antiga fala “não gosto de política, Deus me livre!”, que não raro escutamos por aí. Quem não tem afinidade com política, normalmente, recusa-se até a opinar sobre o assunto, num total “deixa isso pra lá e vamos falar de futebol”. Uma pena, porque talvez muito do que hoje é objeto do desgosto de tantos, poderia (quem sabe) ser, ainda que minimamente, distinto do que é.

Se me perguntarem: Valquiria, você gosta de política? Minha resposta virá nestes termos: Gostar não é o melhor verbo para se empregar à pergunta, muito menos à resposta. O caso não pede um gostar puro e simplesmente, mas sim um dever; o exercício diário do não se furtar ao assunto, não se permitir escapar da reflexão, ainda que custosa, sobre todas as mazelas vividas ao longo da história, do não descartar convites que solicitam a participação, do não desistir das possíveis realizações e das necessárias mudanças; do não conhecer e do não se privar de ser cidadão. Criticar por criticar é vazio demais para ser levado em conta.

Dia após dia, torna-se mais difícil reconhecer aqueles que estão dispostos a fazerem parte do grupo dos que podem até não gostar do assunto, mas que sabem a importância do sadio debate. Isso porque muitos dos que compunham este exército (o dos que buscam melhorias), surpreenderam-se sozinhos nas trincheiras, foram alvejados, e agora têm medo de novas cicatrizes. Exércitos sem tropas; vozes que gritam para ouvidos surdos... O receio não é do combate, mas sim da solidão, da falta de apoio e da não perseverança. Andorinha que voa sozinha não faz verão, já dizia a sabedoria popular, e, infelizmente, não faz. Entretanto, melhor ver um só pássaro no céu, do que ter a certeza de que todos perderam as asas e se esqueceram de como voar...

Na última semana: Reunião, que era Audiência Pública, do Conselho Municipal do PDM de Cachoeiro de Itapemirim (esse nosso ‘pequeno’ e ‘travesso’ Cachoeiro...), contou com a ilustre presença do senhor Oficial de Justiça, que, no toque das 15h do dia 15, trouxe notificação recomendatória do Ministério Público acerca do não cumprimento das formalidades e requisitos necessários para caracterizar aquela reunião como Audiência Pública. Prazo, não publicidade do evento e ausente divulgação do conteúdo a ser apresentado à sociedade, estes foram alguns dos apontamentos feitos pelo Promotor de Justiça, Dr. Flávio Guimarães Tannure. Nota-se que o Ministério Público tem se sobressaído em suas mais recentes e constantes ações. Merece destaque, também, o Dr. Hermes Zaneti Júnior, responsável pela pasta do Meio Ambiente. É ele quem está acompanhando, mais recentemente, o caso Itabira, processo este que não me abstenho de participar.

Oração para o Barbosa: Na manhã de sexta, 17, passei bem cedo no Mourad’s para um cappuccino com pão de queijo. Barbosa sempre pergunta: Quer se sentar lá dentro? Respondo com firmeza: Não. Quero ficar aqui, de pé, próxima ao balcão. Bem sabe ele que prefiro a boa prosa, sem falar nos flagrantes! Na ocasião pude ver o Barbosa receber, com carinho, a reza do Adriano (o moço que recebe um trocadinho para não ‘abraçar demais’, não é mesmo, Dr. Mansur?!). Mãos sobre a careca e pedido de benção especial pela vida do nosso amigo, presença inconfundível e indispensável, patrimônio já sabiamente tombado pelo Café Mourad’s. Amém!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora, membra da Academia Cachoeirense de Letras)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Audiência Pública no Itabira

Audiência Pública realizada no Itabira - 02.04.2013

Aconteceu no dia 02 de abril a tão esperada Audiência Pública para aprovar o Plano de Manejo do Monumento Natural do Itabira, momento que contou, efetivamente, com a participação popular. Presentes, também, o Prefeito, o Secretário de Meio Ambiente, Gustavo Coelho Marins, o representante do Ministério Público, Dr. Hermes Zaneti Júnior, Conselheiros do CMMNI, integrantes da empresa Visão Ambiental, responsável pela coordenação dos estudos, os vereadores Alexandre Maitan e Delandi Macedo, além de outras importantes presenças, que no decorrer dos trabalhos deram sua contribuição.

O evento foi dividido em duas partes, sendo a primeira reservada à exposição dos estudos técnicos realizados na região, e a segunda para perguntas, debates e esclarecimentos de dúvidas. O público presente, formado, como não poderia deixar de ser, essencialmente por proprietários das terras em questão, não economizaram perguntas e, felizmente, saíram se não com a resposta que queriam, mas com alguma resposta.

Das dúvidas apresentadas pelo público, é polêmica a que se refere à linha imaginária delimitadora das zonas de proteção integral e zona de amortecimento em torno do Monumento Natural. As propriedades que foram abarcadas pelas zonas de proteção terão de se adequar; empreendimentos na área terão de ser apresentados à análise do CMMNI, além de, também, estarem submetidos ao poder fiscalizador do Ministério Público, isso para que o meio ambiente não seja agredido e desfigurado (ainda mais) na região.

Moradores da região reunidos no SINDIFISCAL

A ideia de manter a natureza intacta, a salvo, fatalmente, não agradou a todos, isso porque, à primeira vista, a formalização de um Plano de Manejo dá tons de maior seriedade ao que dispõe a Lei, especialmente no que tange às restrições para dispor e edificar na área. Para alguns proprietários, o conceito “preservação” é sinônimo de “proibição” e isso significa não lucrar. Significa perda de dinheiro. E quando o ataque vai ao bolso ou, in casu, parece ir direto ao bolso, a reação é imediata... Meio metro de linha para lá ou para cá dá a impressão de prejuízo e esta é a mais sincera e dramática explicação para esta dúvida tão frequente.

O atual Conselho Municipal do Monumento Natural do Itabira tomou posse no dia 20 de julho de 2011, mas a legislação que deu novos rumos ao Itabira enquanto unidade de conservação tem data retroativa de, pelo menos, cinco anos. Não é (ou não deveria ser) novidade para ninguém o procedimento pelo qual atravessa o cartão postal mais imponente de Cachoeiro, no entanto, para muitos, somente no dia da audiência é que alguns fatos vieram à tona. É dever do poder público informar a população, mas o povo não pode se eximir, de maneira alguma, de buscar estas informações. Paga-se muito mais caro por cruzar os braços e esperar...

Quanto aos resultados práticos da Audiência Pública, espera-se que agora, após a aprovação do Plano de Manejo, as atividades não cessem e que as melhorias em termos de preservação e melhor qualidade de vida de fato venham. Não vim até aqui para desistir agora. Espero que o Prefeito e todos os envolvidos neste projeto também não.

Ministério Público e Executivo Municipal presentes.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Quando há determinação, nada pode impedir!

Li esta semana no Portal G1 matéria que me causou especial comoção. Falava sobre o “menino” Cláudio Luciano Dusik, que nasceu com atrofia muscular espinhal (AME), doença degenerativa que deforma o corpo e limita os movimentos. De acordo com os médicos ele viveria até os 14 anos, se muito. Não havia, exatamente, uma história a ser contada, porque sua história já se iniciara com fim anunciado.


Vivendo em universo de prováveis impossibilidades, Cláudio, gaúcho de Esteio, Região Metropolitana de Porto Alegre, levado pela mãe, passou a frequentar a escola e por várias vezes ficava sozinho na sala de aula na hora do intervalo, pois não tinha acessibilidade para ir ao pátio do colégio que ficava no térreo do prédio. Somente mais tarde, na terceira série, um professor desenvolveu projeto chamado “Ajudante do Dia” e foi a partir daí que começou a interagir com outras crianças. Sentiu-se feliz por poder ser empurrado na cadeira de rodas adaptada e por cair de vez em quando; o menino, finalmente, sentia-se como os outros.

Contrariando o veredicto da ciência, Cláudio avançou em idade e conhecimento. Terminou a fase colegial e ingressou na faculdade de Psicologia! A doença, no entanto, covardemente, também avançou e, pouco a pouco, o menino percebeu que perdia os movimentos das mãos. Porém, contra a doença, e muito a favor de seu prosseguir, de saltar obstáculos, o rapaz buscou algo que pudesse auxiliá-lo na jornada. Não encontrou nada pronto, então, desenvolveu algo para si. Foi dali que surgiu a ideia do Mousekey, uma espécie de teclado, que funciona principalmente pelo movimento do mouse e cliques, detalha o alfabeto, sílabas, pronomes e sílabas acentuadas... 

Todas as barreiras que surgiram na estrada de Cláudio foram sendo superadas com determinação e auxilio de sua família. Após concluir o curso de graduação, o rapaz queria mais e, assim, iniciou mestrado em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No dia 26 de março de 2013, aos 36 anos, Cláudio Luciano Dusik, contra todas as previsões de desengano sobre sua vida, apresentou para uma plateia de aproximadamente 50 pessoas, seu trabalho de conclusão de curso, mostrando como desenvolveu o Mousekey, esta ferramenta que lhe é muito útil e que também será de grande utilidade para tantos outros que ultrapassam limites assim como Cláudio.

Quando terminei de ler a reportagem feita pelo Portal G1, confesso, os olhos estavam marejados e de imediato o pensamento: quantos “perfeitos fisicamente” estão por aí se sentindo inválidos? Quantos já quiseram a morte? Quantos se queixam, diariamente, de suas dificuldades financeiras?... Mas será que sabem o que é dificuldade?

A lição que aprendi com Cláudio, simples e de uma verdade ímpar, é de que, quando há determinação, nada pode impedir a conquista. Estou orgulhosa deste brasileiro que, poderia ter morrido, mas escolheu viver. Com as palavras que encerraram a apresentação da tese de mestrado de Cláudio, também encerro este texto. Abro aspas ao vencedor: “Quero escrever p-o-s-s-í-v-e-l nas histórias de prováveis impossíveis”.



(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

segunda-feira, 18 de março de 2013

E vai ficar por isso mesmo?


No início da semana fiquei sabendo de fato entristecedor, que aconteceu (e acontece) nos arredores da igreja Nosso Senhor dos Passos, a Matriz Velha, como muitos ainda chamam. Disseram-me que, no final da tarde de terça-feira, vários adolescentes, em sua maioria estudantes do colégio Liceu Muniz Freire, aglomeraram-se para assistir uma suposta briga de meninas, num verdadeiro tumulto às portas da igreja. Ainda segundo informações, funcionários da igreja ficaram amedrontados, vez que os jovens se portavam de maneira agressiva e impediam até mesmo a entrada na igreja. Mas este não foi o pior dos acontecimentos.

No intuito de dispersar os espectadores da briga e também aqueles envolvidos diretamente nela, uma senhora que, por questões de segurança não citarei o nome, ligou para a polícia e informou o que estava acontecendo, mas, infelizmente, foi neste momento que o abominável ocorreu. Um dos jovens avançou em direção à senhora e, brutalmente, agrediu-a, derrubou-a e aproveitando-se daquela situação de completa impossibilidade de defesa, desferiu chutes contra ela, permanecendo desta forma até que outros chegassem a seu socorro.

Não há como dar título a atitude bárbara cometida pelo jovem, que chegou a pronunciar a seguinte frase antes de atacar aquela mulher: “aqui dedo duro não tem vez”. Enquanto lhes narro os fatos, a todo instante, tenho a nítida impressão de que o ocorrido não pode ser real; ficção é o que parece. Como aceitar que a juventude haja de maneira tão bestial, com comportamentos tão degradantes como estes? Justificativas não calham, pois se torna inadmissível justificar o injustificável.

O tipo de aglomeração vista na tarde do dia 12 de março é problema antigo nas proximidades da igreja, que, por ser igreja, não permanece fechada, mas acaba por enfrentar os riscos do péssimo comportamento da maioria dos adolescentes frequentadores das imediações. Outros casos como assaltos e vandalismo foram-me narrados, mas, até então, nenhum deles se compara ao horror que aquela mulher viveu.

Em 2013 a Campanha da Fraternidade traz como tema “Fraternidade e Juventude”, num verdadeiro empenho para resgatar os jovens e apontar-lhes direções para uma vida de santidade, que não significa ser santo ao pé da letra, mas sim buscar a retidão na construção de seus lares. Vislumbrar a mensagem emitida pela igreja e compará-la aos atos maldosos descritos nesta narrativa mostra que é preciso, in verdade, não esmorecer, porque muito há de ser feito.

A Paróquia Nosso Senhor dos Passos, referência da triste cena, recebeu na última sexta, 15, seu novo Pároco, o Pe. Evaldo Praça Ferreira; o mundo, no dia 13 de março, recebeu a notícia de um novo Papa, Francisco, e Cachoeiro? Quando receberá a notícia de que casos tão lastimáveis deixaram de existir? Dias após o ocorrido, espera-se que não fique impune. Autoridades reúnam-se! Não se pode, sob hipótese alguma, permitir que este tipo de relato tome conta dos jornais da cidade. É vergonhoso, é reprovável. É passível de correção. Pra já.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pequenas atitudes, grandes realizações!


As mudanças que queremos ver no mundo devem começar em nós e isso não se discute. Engana-se quem pensa ser apenas com atos homéricos que se conquista algo também grandioso; engana-se quem associa a grandiosidade das obras ao tamanho de seus gabaritos. Existem “grandezas” que os olhos não veem e outras que podem ser vistas, mas que nem sempre são percebidas.

Quando existe vontade a mudança acontece. E substituindo a palavra “vontade” por “interesse”, fica ainda mais nítida a possibilidade de transformação da realidade. Vontade e interesse até se assemelham, porém são distintos; primos, quem sabe. Ter o desprendimento necessário para atingir o nível satisfatório de vontade capaz de promover soluções sem para isso obter nada em troca (um sorriso?), citando Shakespeare: “eis a questão”.

As pequenas atitudes que geram grandes realizações (não visuais), mas interiores, estão intimamente ligadas ao desejo de fazer e ser o bem que o outro necessita. Nada mais. Não há contrapartida. É doação. No entanto não é isso que abastece a máquina chamada sociedade. Vontade é energia limpa, mas que não proporciona bom desempenho ao carro; não permite que alcance alta velocidade. Dura pouco, logo tem de ser recarregada, e ainda há o risco de que não se renove. Frágil se comparada ao interesse, esta gasolina que acelera procedimentos, alcança longas distâncias, impulsiona até os motores mais lentos. Combustível de alto calão e alto preço, preço que aumenta a cada dia...

Programada para o assistencialismo, para a troca de “gentilezas”, assim caminha a humanidade. Batem na porta para repetirem o pedido; querem o pão assado e não aprender a sovar a massa. O peixe só serve assado; não há aquele que queira ser pescador. Dá-me o pão, dá-me o peixe... Dá-me educação? Profissão? Lamentavelmente, não. Talvez, se houvesse vontade...

O homem peca por esperar quando a ordem é agir, por não tomar iniciativa quando a decisão urge ser tomada, por não querer olhar além do faraônico que o impressiona, por não contemplar a grandeza existente nas pequenas atitudes, por achar que é injusto fazer por todos aquilo que outros não fazem.

Para eliminar goteiras, nem sempre é preciso refazer o telhado. Pode ser que falte ajeitar a telha. Contudo é aí que se instala o conflito. Trocar o telhado, apesar de demorado, parece ser mais fácil, porque, infelizmente, não há aquele que se disponha a verificar onde está o erro; talvez tenha medo de ter que resolvê-lo pelo fato de tê-lo encontrado. Que pingue, que molhe, que seque, que demore, que espere, tanto faz. Antes trocar inteiro do que descobrir mais rápido a solução...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

quarta-feira, 6 de março de 2013

A SAÚDE em crise


Na última semana, hospitais do sul do Estado foram tema de discussão na Câmara Municipal e o assunto ocupou parcela significativa dos jornais, especialmente, após a realização de Audiência Pública convocada pela Assembleia Legislativa, na quinta-feira, 21.  Presenças dos Deputados Estadual e Federal cachoeirenses serviram para dar ênfase à questão, o que é de cunho obrigatório, não apenas para as personagens do legislativo, mas, sem dúvidas, para todo o cidadão. Saúde é problema (infelizmente a denominação é mesmo essa) de todos.

Durante a reunião, foram ouvidos representantes da Santa Casa de Misericórdia, Hospital Evangélico, Hospital Infantil e Clínica de Repouso Santa Isabel, esta última considerada como prioridade, vez que, por insustentabilidade financeira, ameaça fechar as portas e entregar à própria sorte internos e funcionários. Deveras o caso é gravíssimo, e sob vários aspectos, todos, a seu modo, relatados e registrados nos pronunciamentos feitos, inclusive, alguns merecem destaque, seja porque foram criteriosos ao tratar a matéria, seja porque fizeram menção a temas debatidos em “jornadas” eleitorais passadas...

Em seu discurso, o Deputado Glauber Coelho, como de costume, teve a polidez gramatical correta para, de modo geral, emitir sua opinião. Momento marcante de sua fala, a indignação quanto a “ausências chaves”, como a do Secretário e Subsecretário de Saúde do Estado, no que seguiu afirmando que não se pode prosseguir quando medidas esbarram na burocracia departamentária. Assiste razão ao Deputado. Chamou atenção, em um dos pronunciamentos do Deputado Theodorico, a franqueza com a qual insistiu para que o hospital do Bairro Aquidaban se torne o novo hospital infantil de Cachoeiro. O ex-prefeito parece incansável quanto ao mencionado projeto, mesmo sabendo que os planos atuais para o local são outros. “Com a palavra as mães e as crianças cachoeirenses”, é o que, não raro, diz Theodorico quando se refere ao hospital.

Vereadores presentes fizeram uso da tribuna para dar apoio ao que pretende o legislativo estadual e ainda para tecerem suas considerações sobre o tema. Em particular, ressalte-se o importante alerta feito pelo Professor David Alberto Lóss (PDT), quanto às licitações hospitalares para realização de exames e cirurgias, relativamente simples, quase nunca ou nunca procedidos em Cachoeiro, isto porque, no “leilão” de preços, outros hospitais levam vantagem. Disse ainda que não se pode conceber que pessoas em condições já debilitadas pela enfermidade sejam obrigadas a enfrentarem estradas e todo o tipo de adversidade, deslocando-se até outros hospitais, quando na cidade há plenas condições de atendimento. Enquanto o vereador defendia seu posicionamento, a lembrança da tragédia ocorrida com a van que transportava pacientes de Jerônimo Monteiro para Vitória, justamente com vistas a tratamento de saúde, era reincidente. Naquela manhã do dia 06 de outubro de 2010, quatro vidas foram perdidas; buscavam saúde, mas encontraram a morte.

Há muito tempo o Brasil sobrevive a crise na saúde, portanto este privilégio às avessas não é de Cachoeiro. Estão corretos aqueles que desejam fazer algo para trazer melhoras; merecem aplausos (e espera-se que não fiquem no meio do caminho...). A imensa fatia da população brasileira que, obrigatoriamente, vale-se do Sistema Único de Saúde (SUS), não suporta mais guerrear por atendimento, por celeridade. Há milhares de cidadãos aguardando intermináveis filas cirúrgicas, pessoas que falecem esperando respostas que nunca chegam. A saúde pública vive de repasses de verbas, injeções financeiras que deveriam ser suficientes para tornar menos dolorosa a vida de quem precisa, mas o que se testemunha é uma deficiência de recursos (que chegam???).

Vontade política já é um bom início para dar propulsão à máquina; orçamento, o combustível; honestidade, a condutora... Que o interesse pela saúde siga firme, não apenas para majorar valores referentes à diária por internação na Clínica Santa Isabel, por exemplo, mas para dar tratamento digno aos que dependem das políticas de saúde pública.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

“Dormindo” eternamente em berço esplêndido


Finalmente, rompido o período carnavalesco, iniciamos 2013 a todo vapor (ou quase).  Brasil, este país “manso” por natureza, “deitado eternamente em berço esplêndido” (e uma professora de História, de quando eu estava no Ensino Fundamental, fez o trocadilho que não esqueço, substituindo “deitado” por “dormindo”), não tem o costume de levar a sério os meses de janeiro e fevereiro (ao menos não antes do carnaval). Maturidade que ainda não veio; como se este imenso Brasil fosse uma criança maior em corpo do que em idade. Mas, já que agora rompemos, de vez, a barreira imposta pelo feriado festivo obrigatório, vamos ao trabalho!

Feijoada política: No cenário político cachoeirense, de fato, a feijoada não foi servida, mas a panela de pressão já ferve e se agita em fogo alto há tempos, há pelo menos três meses... Bom cozinheiro sabe que se ficar tempo demais no fogo, o feijão pode secar por falta d’água, ou amolecer, se a água for demais... Pelo que se conhece, para estar no ponto, mais uns dois meses de cozimento, e aí sim, prato feito, todos à mesa. Vale lembrar que discussões passadas e fogo apagado não agitam panela. Já era.

Uma novela chamada Itabira: Está marcada, ainda que extra-oficialmente, a audiência pública que aprovará o Plano de Manejo do Monumento Natural Itabira. Dia 12 de março de 2013, às 19h, no clube do SindFiscal, que é local de fácil acesso para a comunidade. A fase vivida pode ser chamada de inédita. Depois de muitas falas e também de muito silêncio, as denominações Parque Municipal e Área de Desenvolvimento Sustentável, uma espécie de vício em pronunciamentos empolgados, porém pouco embasados, promete, de uma vez, desaparecer. Unidade de Conservação – Monumento Natural, que o é desta forma há pelo menos oito anos, receberá seu “manual de conduta”, não para estabelecer imposições, mas orientações de como os “donos” da área deverão se portar em relação à exploração do terreno (não desapropriável) que possuem. Torço pelo melhor e mais benéfico à comunidade, sempre, e nisto está inclusa a preservação do meio ambiente. Sem mais palavras, como diria o amigo jornalista Roney Moraes.

É zero mesmo: Comentário sucinto ao artigo 165 da Lei n. 9.503/1997 – que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – apenas para dizer que, da leitura mais singela do dispositivo legal, é fácil extrair a informação de que dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, é caso de infração gravíssima, com penalidade de multa na casa dos R$ 1.915,38 e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Detalhe: se houver reincidência no período de até 12 meses, o rombo no bolso será de, aproximadamente, R$ 3.900,00. O carnaval terminou, mas a lei continua. Olho vivo.

Preâmbulo constitucional: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”... E se Deus não tiver nada a ver com isso, que Ele possa, no mínimo, nos perdoar por usar seu santo nome em vão...


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e escritora, membro da Academia Cachoeirense de Letras)

Perfil

Saiu na REVISTA LEIA do sábado, 16 de fevereiro de 2013, o meu perfil.


(Créditos para a Jornalista Pammela Volpato)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Notícia crime


No dia 21 de dezembro de 2012, sexta-feira, saí de minha casa (na região do Itabira) e ao me dirigir no sentido bairro São Luiz Gonzaga, infelizmente, testemunhei cena que, de imediato, deu-me a impressão apocalíptica, o que, como num flash, confirmou-se a teoria Maia do fim do mundo: na Rodovia do Contorno, numa extensão de aproximadamente um quilômetro, sacolas vazias, diversas delas, espalhadas, criminosamente...

Muitas das aberrações humanas já vistas durante os muitos anos de sua existência, absurdamente, deixaram de ser consideradas estranhas, ou seja, como se fatos, tais como violência e morte, estivessem tão amplamente inseridos no cotidiano dos homens que não mais fizessem diferença ou causassem impacto; acostumou-se com o trágico e o trágico normalizou-se. É o que ocorre com o descaso para com o meio ambiente.

O ato de arremessar “coisas” pela janela do carro, por exemplo, ou não coletar o lixo seletivamente, ou ainda não preocupar-se em depositar lixo em local adequado, fazem parte da rotina humana. Deveria ser o contrário. Mas não é. Há tanta naturalidade em atos como estes, há tamanha despreocupação em saber sobre o que seria “certo” ou “errado”, que nada mais parece abalar o interior humano. O que deveria chocar não choca. Simples assim. Em Sociologia este fato poderia ser relatado como uma mudança de costumes; não evolução, mas sim uma transformação de hábitos, uma “adequação” (inadequada) da humanidade. Particularmente, abandonando os critérios sociológicos, aplico, de modo destemido, o termo involução ao caso. Não parece o mais correto, mas é inadmissível que a humanidade possa, apenas, ser tratada como algo que se transforma, quando é possível constatar que, in verdade, não há efetivamente transformação e sim destruição.

As sacolas vazias que foram abandonadas na Rodovia do Contorno (nas proximidades do Itabira, que é área de preservação ambiental, Monumento Natural, que vive atualmente processo para formatação de Plano de Manejo voltado para o cuidado com a região), são de embalagens dos produtos conhecidos como “SALGADINHOS FOFURA” e “SALGADINHOS TORCIDA”, fabricados e distribuídos pela empresa “PEPSICO DO BRASIL”, em todo o território nacional, inclusive em em Cachoeiro de Itapemirim – ES.

Responsabilidades social e ambiental não podem ser e não são mais tratadas como teorias. A prática se impõe e não poderia ser diferente. O que vislumbrei no último dia 21 me pareceu ser sim o “fim do mundo”: o fim da consciência humana, o fim do respeito para com o meio ambiente, o fim de si mesmo. É bem verdade que não há como apontar para “o criminoso” numa situação como esta. Não se sabe quem foi e porque o fez. Contudo o crime não poderá, jamais, ficar omisso, oculto. O crime precisa ser revelado e quanto às providências... Desnecessário dizer que urgem serem tomadas.

Ainda que não seja a fabricante do “Fofura” ou “Torcida”, por acaso, responsável pela tragédia aqui relatada, espero, sinceramente, que, contrário senso, haja impacto, haja revolta, haja estarrecimento, haja, especialmente, atitude de reparação. Não é preciso mais do que vontade para fazer a diferença; difícil é encontrar quem queira fazer a diferença...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)