Falar às
claras, sem medo de retaliações, sem pensar em poréns e
entretantos, sem ser julgado; apenas falar e esquecer que existe
ouvinte. Falar. Ah se fosse fácil assim... São tantas voltas, acaba-se
até mesmo perdendo o objetivo, não se diz a verdade por completo
e, assim, vamos vivendo de meias verdades (ou quase mentiras?). E por
quê? Medo de causar ao outro sentimentos menos nobres ou medo de
causar em nós os mesmos pobres sentimentos? Por mais que doa a
conclusão, por mais egoísta que possa parecer, não há preocupação
com o outro. É balela. Cada um tem se preocupado consigo mesmo,
levando a vida num mar de individualismos... nem mesmo quando se está
“junto” realmente se está “junto”.
O “homem
do futuro”, agora, segue o caminho que julga ser melhor e, apesar
de estar tão acostumado a compartilhar em suas inúmeras redes
sociais, não sabe o verdeiro sentido de compartilhar em sua vida
real. E continua assim, dia após dia, crendo que é companheiro,
cooperativo. Palavras. Apenas palavras bonitas para serem ditas em
momentos oportunos, de modo que, naquela ocasião os ouvintes fiquem
cativados por aquela sensação ilusória; mal sabem que a proposta
coletiva do momento serve tão somente para que todos ali reunidos
encontrem, cada um, seu propósito indivualista e fijam acreditar que
estão juntos pelo mesmo objetivo.
No
deserto de vontades não convergentes, fica à deriva o ser humano,
navegando errante por mares desconhecidos ainda sem saber que está
perdido. Quando tomará consciência que se perdeu? Talvez nunca ou,
então, quando descobrir que chegou onde queria e, embora tendo
chegado, estará a sós com sua vitória. Todos aqueles, os mesmos
que foram motivados à coletividade, ficaram para trás, cada qual
seguindo rumo a seu particular destino.
Aparentemente
tão conectados, tão unidos, mas no fundo sozinhos, bancando os
independentes, com risos rasos e dores profundas. Fala-se pouco,
verdades aos pedaços, que de tão estilhaçadas nem se sabe onde se
encaixam... Produto de multiplicações incertas, divisões forçadas,
somas inapropriadas e diminuições traumáticas; entre tantas
operações, impossível não notar algumas mutilações. Fragmentos
de gente.
Embarcados
no que pensam ser a vida, velejam levando consigo a bússula
indicadora de nortes específicos; cada um tem o seu. Não são mais
direcionados por coordenadas geográficas, são movidos por suas
próprias orientações; crêem em suas convicções pré-moldadas.
Pouco a pouco vão se distanciando, provocando desencontros, fazendo
dos intervalos duras rupturas. Não se importam mais se vão sangrar
ou se já estão sangrando. Dói? Quem sabe...? Isolados, ainda que
gritem, não serão ouvidos e então todos pensarão que não há
feridas... nem dor.
“E
então cada qual continuará o seu caminho, pisando firme, com
decisão, obstinadamente; nenhum dos dois olhará para trás.”
(Newton Braga).
Valquiria Rigon Volpato
18 de maio de 2016