A gente
acaba se cansando dos discursos amargurados, desanimados, fatigados
daqueles que, dia a dia, lutam para ser diferentes, mas terminam não
conseguindo. Não se trata de um não conseguir movido pela
inexistência da tentativa; não. Trata-se do não conseguir de
origem externa, da dificuldade desumana de buscar vencer obstáculos
e, pateticamente, ficar estagnado, como se força alguma tivesse sido
feita.
Discursos
cansados, tentativas frustradas, esgotamento. Resta o olhar perdido,
pairando sobre o desalento, sobre a materialização do desrespeito,
da pouca colaboração, da desunião social. Perecebe-se,
nitidamente, a concretização do individualismo frio, insensível às
misérias coletivas.
Textos
abstratos, tais como este, cavucam no fundo do peito uma dor, uma
saudade; saudade de incentivar a guerra contra o descaso, de erguer a
voz ante o silêncio insoso de muitos... saudade de relatar fatos e
não simplesmente angústias e desgostos.
A gente
acaba cansando dos discursos azedos. Canso-me dos meus também. É um
atolar-se na movediça areia das desiluções e não adianta o
movimento, porque quanto mais se debate, mais se afunda. Talvez o
medo do sufocamento explique tanta inércia, contudo é dramático
constatar que a única diferença entre os que se movimentam e os que
permanecem inertes é o tempo que os conduzem ao mesmo fim: a morte.
Estão
morrendo sonhos! Construção frasal utópica; clichê. Não há
interesse gramatical na distribuição de palavras tão bestas.
Sonhos mortos... Ah, que enfadonho! Onde está a novidade?
Prisioneiros da regra de não se render às pormenoridades, uma
espécie de obrigação contraída pelo “renascimento” social
moderno, pelos modismos, pelas taxatividades e imposições alheias,
vivem isolados mesmo em grupo. Comportamento atípico, mas que
alcança patamares de normalidade; inversão.
Excetos
passam à regras e regras à exceção. A ordem parece ser o
desgoverno, a impunibilidade, enquanto perseguir o certo (será mesmo
que ainda é certo?) fica pintado como resistência ao sistema. Ante
à revogação impositiva da norma social vigente, tal como folha
solta ao sabor do vento, vão-se as esperanças de mudança,
expectativas de melhora... É, literalmente, findar um texto com
reticências...
(Valquiria Rigon Volpato
28 de abril de 2015)