Cada um por si e Deus por todos


O individualismo social é cada vez mais aparente. Consequência lógica de um sistema Capitalista que obriga seus “participantes” a fazerem girar a roda da fortuna. Comprar, gastar, ganhar mais, possuir mais bens. O vício pelo “vil” metal não é recente, porém atualiza-se minuto a minuto, tal como as altas e baixas do mercado financeiro nas bolsas de valores.

Numa sociedade governada pelo capital, até onde aparentemente existe união (sociedades empresariais em diversos setores) se nota a apartheid, desta vez um pouco menos racial e mais economicamente classista. O interesse no mercado descaracteriza o subjetivo do ser e passa a contabilizá-lo em listagens sem fim; produção versus gastos. Vige a Lei das Compensações, quiçá a Lei da Produtividade. Resultados são responsáveis por criar definições do indivíduo, que será “bem quisto” e avaliado segundo seu desempenho. Esta é mais uma regra deste sistema que pretere o homem e prefere os lucros.

A juventude, cada dia mais distante das histórias de antigamente, projeta-se em um novo mundo impregnado por tecnologia. Cresce, assim, o coletivo virtual, a exposição da vida íntima através de redes sociais, isso na mesma proporção do individualismo, gerando seres acostumados a disfarçarem-se por trás de telas; farsantes de si mesmos, mas que, ao final, não podem fugir. A propósito, transcrição da fala de Samuel Warren e Louis D. Brandeis em 1890, retirada do livro “Privacidade na Internet” de Amaro Moraes e Silva Neto: “A intensidade e a complexidade da vida, continuadas com o avanço da civilização, tornaram necessária a possibilidade de uma retirada do mundo – e o homem, sob a refinada influência da cultura, tornou-se mais sensível à publicidade, tanto que a solidão e a privacidade vêm se tornando essenciais ao indivíduo. Contudo, as empresas e as invenções modernas, invadindo sua privacidade, submetem-no ao sofrimento mental e ao stress (sofrimento esse maior do que poderia ser imposto por uma mera agressão física)”.

O relacionamento humano escasseia-se de sentimentos “reais” e deixa a mostra o interesse. A mesa está posta e poucos serão aqueles que ajudarão os que estão mais afastados a alcançarem o alimento. A sociedade atual vive o provérbio “cada um por si e Deus por todos”, onde até mesmo Deus passa a ser disputado...

Saber por quanto tempo se estenderá a caça ao tesouro margeia o impossível, pois não se sabe quanto tempo o homem resistirá às armadilhas que ele mesmo preparou; não se sabe, ainda, quanto tempo o homem-máquina levará para descobrir que, antes de ser ferramenta, era somente “criação”.


(Valquiria Rigon Volpato)

Comentários

  1. Excelente texto. Não a o que acrescentar.
    Infelizmente, essa é a minha geração.

    abração; adorei o blogue.

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  2. Ei Bixudipé, muito obrigada por sua postagem. Sinta-se à vontade para estar sempre por aqui, ler e opinar.

    Grande abraço.

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  3. Bom texto Valquiria! O fato é que a sociedade e os individuos foram, são, e serão movidos a interesses, sejam eles coletivos ou individuais e não creio ser algo ruim, faz parte da condição humana, o ideal seria que os interesses coletivos gerassem uma produção de renda mais justa, mas... Abraços! BETO

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