Excelentíssimo Senhor Presidente
desta Academia de Letras, Doutor Solimar Soares da Silva,
Pai, Mãe,
demais parentes e amigos presentes.
No ano em que a Academia
Cachoeirense de Letras comemora seu Jubileu de Ouro, sinto-me presenteada por
passar a fazer parte destes 50 anos de História, de homenagens prestadas a
tantos homens e mulheres que mantêm viva sua obra no intuito de dar seguimento
à preservação cultural e literária de nossa cidade, para que jamais se perca a
essência intelectual, a sabedoria de nossa gente.
Hoje, 17 de agosto de 2012, minha história
se cruza com a história desta academia de letras; hoje, minha contribuição para
a preservação e continuidade da cultura literária da cidade de Cachoeiro de
Itapemirim ganha novas vestes e passa, oficialmente, a ter registro histórico.
Não costumo dizer que a conquista é minha, que os méritos são meus; atribuo a
conquista a elas, às palavras que me acompanham desde muito tempo. Sinto-me honrada,
pois a partir de hoje passo a ocupar a cadeira de n.º 37, cujo patrono e
antecessor se destacaram por terem abrilhantado a História desta cidade, e a História
do estado do Espírito Santo.
Augusto
Emílio Estellita Lins, patrono da cadeira que passo a ocupar, nasceu em Recife/PE,
aos 13 de maio de 1892. Capixaba e cachoeirense, não de “nascença”, mas por
merecimento, adotou o Espírito Santo como sua “residência” em 1916, um ano após
se formar em Direito pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. Que
feliz coincidência a minha, por ter escolhido esta mesma profissão! Assim que
veio para Cachoeiro de Itapemirim, Augusto Emílio, aos 30 anos, destacou-se na
política, tornando-se, em 1922, prefeito da cidade, mandato que cumpriu até
1924. Seguindo a carreira, elegeu-se Deputado Estadual por duas legislaturas (1929 a 1930 e 1935 a 1937).
Dentre
as contribuições dadas por este homem aos registros históricos do estado, está
a Academia Espírito-Santense de Letras, da qual foi presidente. Advogado,
político, escritor; homem de sensibilidade, autor de várias obras; poeta. A
trajetória de Augusto Emílio Estellita Lins foi marcada pelo empenho em
destacar a pujança intelectual do Espírito Santo, evidenciando seus autores.
Residindo em Vitória, idealizou e dirigiu o concurso Científico e Literário de
Autores Espírito-Santenses e a Primeira Quinzena de Arte Capixaba, em 1938 e
1947, respectivamente. Mais tarde, em 1957, a Santa Sé o agraciou com a venera da
Ordem Equestre de São Gregório Magno, no grau de Comendador.
Augusto
Emílio Estellita Lins, nascido em Recife, capixaba por merecimento, teve seu
trabalho reconhecido em outros estados brasileiros, escrevendo como colaborador
para jornais e revistas do Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais.
Enviava seus escritos, também, para O Cachoeirano, aqui em Cachoeiro de Itapemirim.
Toda sua produção literária, retratada em mais de dez títulos, entre eles A
Paixão Coletiva (1923), Zorobabel (1921, primeira edição e 1957, segunda
edição), Variações Estéticas do Canaã e Graça Aranha e o Canaã do Espírito
Santo (ambos em 1968), demonstram, lucidamente, a grandeza literária armazenada
neste homem, que, privilegiava o intelecto, que não media esforços para que não
morressem as palavras.
Embora
o ser humano nem sempre reflita em seu semblante aquilo que traz em seu
interior, os sofrimentos que nele, porventura, estejam armazenados, Augusto
Emílio preferia parecer “vibrando de prazer”, como outrora escreveu: “Saber sofrer. Saber calar. / Saber
disfarçar de tal forma o sofrimento / Que nosso aspecto sirva de argumento / De
que estamos vibrando de prazer”. (Saber Sofrer).
Em
30 de dezembro de 1982, dois anos antes de meu nascimento, na cidade de Vitória,
encerrou a última de suas obras: sua vida. Faleceu deixando legado e
ensinamentos a serem seguidos, merecedores de nossas homenagens, insuficientes
perante seus atributos.
Já
Nelson Sylvan, “Seu” Nelson, último ocupante da cadeira n.º 37, nasceu nesta
cidade em 10 de novembro de 1910. Homem íntegro, coerente, político militante,
observador mordaz e inteligente. Filiou-se ao integralismo em 1932 e manteve,
sempre, a crença em suas propostas, não permitindo, assim, ser contaminado pelo
extremismo. Não raro discutia e oferecia propostas para o futuro de Cachoeiro;
jamais perdera a esperança. Defensor implacável do bem, exemplo de homem digno,
honrou sua existência terrena preservando e disseminando valores... Verdadeiro
apaixonado, principalmente por sua esposa, Dona Lucila.
Um
dos primeiros alunos do Liceu (1922) mesmo antes de assim ser nomeado (1936),
trabalhou na Cia. Central de Força Elétrica (Escelsa). Foi bom funcionário,
porém o ofício que mais apreciava era o de compor trovas. Membro do Instituto
Histórico e Geográfico, Presidente do Centro Operário e de Proteção Mútua desde
1969, viveu pelos arredores da Rua 25 de Março, sendo, portanto, testemunha de
boa parte da História de Cachoeiro: teve como vizinhos Rubem e Newton Braga.
Nelson
Sylvan, de olhar firme e também adocicado, faleceu em 24 de janeiro de 2009.
Infelizmente, apesar de ter sido sua contemporânea, não cheguei a conhecê-lo. Um ano mais tarde, algumas de suas trovas
foram reunidas em cordel, homenagem a seu centenário (2010). Tributo mais que
merecido, de iniciativa do Instituto Newton Braga, Centro Operário e de
Proteção Mútua, Cineclube Jece Valadão e Editora Cachoeiro Cult.
Como
um mestre repassando conhecimento a seus discípulos, numa de suas composições,
assim ensinou: “Você então quer saber
como se faz uma trova. / Eu vou lhe satisfazer, mas põe sua cuca à prova. /
Primeiro a rima acertada nos quatro versos, por fim, a métrica bem contada,
sete sílabas, enfim. / Mas, um detalhe importante temos aí a observar: uma história
fascinante os quatro versos vão contar. / Eis aí os elementos vitais à trova
perfeita / rima, métrica, os momentos para que ela seja escorreita. / Mas tudo
isso, preclaro, esbarra numa condição: você não fará trova, meu caro, se faltar
inspiração!” (Trovador). Mesma inspiração que desejo, ardentemente, que não
nos falte, nem sobre, mas que seja na medida certa, assim como o sal bem dosado,
que revela o verdadeiro sabor dos alimentos.
Quanto
a mim, que recebo a responsabilidade de zelar por este lugar, por esta distinta
cadeira de n.º 37, posso dizer a meu respeito, que me esforçarei para manter
digno este espaço, honrando-lhe, como fizeram os que vieram antes de mim.
Nasci
em 29 de dezembro de 1984 e completei meus primeiros anos em Taquarinha, zona
rural deste município. Lá a casa era antiga, assoalho de madeira, telhas
francesas, fogão à lenha na cozinha. Daquela época, muita coisa gostaria de
contar, entretanto seriam necessárias mais algumas linhas, por isso, elegi
apenas dois momentos, passagens que ficarão, para sempre, marcadas em minha
lembrança. Aos quatro ou cinco anos, despertava no meio da noite e ao invés de
manter o silêncio e tentar dormir novamente, corria para acordar meu pai e,
convocava-o para uma expedição noturna. Normalmente, por volta das 2h ou 3h da madrugada,
enquanto a vizinhança dormia, saíamos para caminhar. Em noites de Lua cheia,
céu estrelado e bacuraus que jamais cansavam de repetir “amanhã eu vou, amanhã
eu vou”, papai e eu conversávamos até que meu sono voltasse. Não sei de outra
história como essa e nem sei de outro pai como esse, que mesmo cansado, sabedor
do dia de trabalho vindouro, renunciava ao descanso para atender a este pedido
de criança... Noutro momento, lembro-me de passar as tardes “compondo” versos
solitários, versos que nem sabia serem versos, dado a tenra idade. Costumava
enaltecer a natureza, a vida na roça, aquele cenário que desde sempre me
acompanhou e encantou... Coisa típica de Cachoeiro, esta cidade entre as
serras, uma doce terra, como diria Raul Sampaio.
Aos
sete anos deixei para trás a Taquarinha e fui viver próxima à outra montanha,
ali no Itabira. Estudei na “Escola Municipal Unidocente Itabira”, onde cursei
até a 4.ª série. Depois segui para o extinto “Colégio Ateneu Cachoeirense” e lá
permaneci estudando até a conclusão do Ensino Médio. Posteriormente iniciei o
curso de Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI),
isso em 2004.
Em
17 de abril de 2008, há exatos quatro anos e quatro meses, escrevi artigo
intitulado “As Aparências Enganam”. Naquele dia, timidamente, decidi mostrá-lo
ao Doutor Higner Mansur. Ele leu e perguntou se eu não gostaria de publicar
aquele escrito. Meu artigo, então, fora publicado no Jornal Fato e também no online Atenas Notícias. Continuei
escrevendo, continuei recebendo o incentivo do Doutor Higner, continuei
publicando... E para minha felicidade, não tardou até que o Jornal Fato
enviasse convite para que minhas opiniões fossem publicadas semanalmente. Os
textos, desde então, são levados ao público aos domingos, dia em que tenho a
feliz companhia do Doutor Sérgio Damião, médico, que por tantos anos cuidou de
minha avó Zelinda, articulista, meu confrade, com quem divido e espero
continuar dividindo a mesma página do jornal por longos anos!
Quando
se vive momentos como o de hoje, não há como descrever a emoção, a sensação de
bem estar que somente o brilho nos olhos e o sorriso podem demonstrar. É por tal
sensação, tal grandeza de espírito, que jamais me furtaria em agradecer todos
os que fizeram e continuam fazendo parte desta minha trajetória, que não se
cansam de repetir incentivos, que tantas vezes me ofertaram tão generosamente
seus abraços; agradecer aos que me antecederam, por terem tornado digna a
memória a que teci tão singela homenagem; Agradecer aos confrades e confreiras
pela calorosa e fraternal recepção; agradecer de modo especial à minha família,
meus pais, Waldir e Rosa, minha irmã, Angélica, por serem, para mim, a melhor
família que já existiu; agradecer, ainda, aos presentes, a todos que externaram
de algum modo seu carinho; agradecer a Deus, em quem tanto confio e sei que
zela por mim...
Os
caminhos daqueles que escrevem são floridos. Quem escreve o faz primeiro para
satisfazer suas próprias necessidades, para alimentar a si mesmo. Escrever é
metamorfose e, também, metamorfosear. Transformação de si mesmo e do outro,
algo como Raul (o Seixas) disse naquela canção: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo (do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo)”.
No
decorrer destes vinte e sete anos de existência, não houve um dia sequer em que
fui igual, porque a cada novo dia algo em mim mudou. Diariamente sou modificada
por algo que acrescento ou podo de mim. Vivo para aparar arestas e regar
plantas. Persigo o BEM assim como Seu Nelson, talvez não com a mesma
excelência, mas creio que chegarei lá, a uma porque não penso em desistir, a
duas, porque, permita-me Rubem Braga, também sou de Cachoeiro!
Muito
Obrigada!
Valquiria Rigon Volpato
17 de agosto de 2012
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