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Mostrando postagens de 2020

A Moça do Tempo

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Cachoeiro de Itapemirim – ES, 30 de setembro de 2020. Amigos, O tempo. Ele  me trouxe até aqui, desde a primeira vez, em 25 de março de 2017. Tempo que de lá pra cá passou rápido, tão rápido quanto as águas do Itapemirim naq uele 25 de janeiro... Voltar a Cachoeiro me faz bem; repetir o ritual, quase sagrado, de passear pela Praça Jerônimo Monteiro e me sentar para observar a cidade; a vida acontecendo. E a vida acontece de tantas maneira s: no seu João, regando as plantas, caprichosamente, no canteiro; no artista de rua, que expõe seus trabalhos sobre um pano e faz daquele tecido sua mais valiosa propriedade; no vai e vem apressado dessa gente trabalhadora; acontece nos sorrisos escapulidos numa eventual troca de olhares; no som do vento arrastando as folhas secas caídas ao chão; no canto do sabiá; na leveza da batida das asas da borboleta; na elegância do Flamboyant; a vida segue, acontece e eu a vejo em cada canto dessa cidade. O tempo. Ele nos permite aprender. Muitas batalhas,...

Eu. Mulher.

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Eu. Mulher. Quem eles dizem que sou? Isso importa? Vejam como ela se comporta! - exclamam. Por quê? Isso te interessa? Eu. Mulher. Soul . Desenham meu corpo, ressaltam minhas curvas, curvam-se à minha beleza e querem que eu me curve aos preconceitos: “não com essa roupa!” “você está louca!” “incapaz!” “você não aguenta” “preta” “puta” “vagabunda”… Parem! Minha cabeça não fica na bunda. Ouçam o que digo!… Eu sei, você não me aceita. Eu, mulher, tenho lutado através do tempo, não me importa seu reconhecimento, não é isso que quero; a luta que travo é por mim, por quem sou e por quem EU quiser ser, sem julgamentos, sem condenações por algo que não fiz. Luto pra ser gente. Luto. Pelas vozes caladas, violentamente, por aquele soco atravessado dos olhos à alma; estilhaços de dignidade caídos ao chão, misturados em suor e sangue. Mas, olhe – não para os pedaços de mim – olhe o inteiro que sou; inteiramente, livre! Verto rios em lágrimas adubando solos, plantando sementes; colho ...

Cheirava saudade...

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Posso descrever, exatamente, como estava da última vez que a vi. Havia um sofá caramelo na varanda dos fundos, onde se podia ver a rua pouco movimentada;  duas samambaias penduradas num dos caibros do canto superior direito, próximo ao portão de madeira. Porta e janela abertas. A brisa leve se encarregava de refrescar o dia de outono, espalhando folhas soltas pelo ar, movimentos pouco sincronizados - cada uma a sua maneira buscando encontrar onde pousar. Foi ali, bem ali naquela cena onde a vi pela última vez. A face serena se conectava ao corpo em repouso sentada na mesma posição de dias atrás, uma semana talvez. Em suas mãos mantinha seguro um livro e meu desejo, por várias vezes, era saber seu título, como deveria se chamar a reunião do conteúdo daquelas páginas objeto de tamanho cuidado e dedicada leitura. Por mais de uma vez diminuí o passo, “lerdei” a caminhada para, quem sabe, de alguma forma, apertar os olhos e então reconhecer uma letra, sílaba, algo que me fizesse c...

Esfinge

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A impressão era de que ser humano não seria fácil, mas descobri algo mais complexo do que somente a humanidade; nasci mulher. E a mulher em mim resolveu não seguir regras, decidiu não caber no padrão, ela quis acontecer e se transformou num evento, repleto de sons – e silêncios – de cores pronunciadas, alegria incontida, desafiadora… transgressora. A mulher em mim rompeu o vagido – deu vasão ao grito – e trouxe à tona medos e inseguranças, por vezes descabidas, fruto de sementes lançadas na vã tentativa de fazer do terreno interno – mente e coração – lavoura conhecida, como tantas, sem surpresas. Talvez, o conhecido transmita a sensação de lida fácil. Já se sabe quais são os invasores e, para cada um deles, o defensivo previsto, a fórmula química testada. Segura. O homem não é simples, e à “mulher-humano” pede-se para ser mais. A mim foi pedido. Quando, de cara comigo, no espelho, permiti o reconhecimento facial além pele, pelos e mucosas, a cena deixou de ser reflexo e passou ...