É só a MINHA opinião
"Soa engraçado, parece piada, mas, na Câmara, discute-se religião, oração e faz-se leitura da Bíblia, enquanto, nas igrejas, púlpitos são usados como tribunas".
Não é um sonho de todo mundo, mas algumas pessoas, em algum momento, despertam interesse por debates políticos – ainda que, naquele instante, não saibam definir suas pautas como política – e isso as acompanha até que sejam capturadas por outro alguém, geralmente vinculado, fisiologicamente, a uma sigla partidária. A receita para um candidato a vereador começa aí: uma irresignação individual associada ao coletivo e, subitamente, abocanhada por um partido político.
A ideia de multipartidarismo funciona bem quando se eleva o pensamento a uma sublimação conceitual e altruísta de política – bem diferente da que se pratica na República Federativa do Brasil, que prefere aplicar o fisiologismo político: essa cena dantesca de aproximação por puro interesse individual, com vistas à obtenção de favores e trocas escusas, tudo às custas do eleitor. Um nojo.
Minhas terças-feiras à tarde, enquanto poderia escutar algum clássico da MPB, rock nacional ou internacional, costumo ceder meus ouvidos às sessões ordinárias da Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim. Sempre fui uma daquelas pessoas que debate pautas políticas. Ocorre que, ano após ano, os discursos são exatamente os mesmos, e a sensação de que o “rabo está abanando o cachorro” é uma constatação triste. Isto porque, apesar da palavra “povo” ser usada em larga escala, ele é quem menos participa, costumeiramente alijado do processo e da tomada de decisões. Soa engraçado, parece piada, mas, na Câmara, discute-se religião, oração e faz-se leitura da Bíblia, enquanto, nas igrejas, púlpitos são usados como tribunas.
É cansativo. Já não acredito que seja possível uma forma de higienização eficaz. A história se repete: o sonho, aliciado por um partido político cujo fisiologismo alcança um pequeno grupo, chafurda na imundície da corrupção. Sempre tem alguém que se senta à mesa e, seja com café$ ou vinho$ caros, negocia a política – que deveria ser pública, mas passa a ser corporativa. Às vezes, estatutária...
São meio-dia e vinte e cinco de uma quarta-feira, véspera de feriado. O céu está parcialmente nublado, faz vinte e seis graus. Este é só mais um texto que não vai mudar em nada a prática política no Brasil.
É só a MINHA opinião.
18 de junho de 2025
Valquiria Rigon Volpato
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