Era apenas uma quarta-feira de manhã.



Quando frequentamos alguma igreja – em especial as cristãs – num culto ou celebração, certamente ouvimos dizer sobre experimentar o “extraordinário de Deus em nossas vidas”. A expressão é comum, usada para tentar descrever aquilo que está por vir e que nós, frágeis humanos, não conseguimos elaborar em pensamentos, tendo em vista a soberania de Deus sobre o homem, bem como a capacidade divina de solucionar qualquer situação, problema ou demanda humana. Assim, viver o “extraordinário de Deus” seria algo capaz de promover mudanças, estabelecer novos paradigmas, cuja raridade do evento o colocaria em evidência na vida humana.

Sem avançar ao campo da fé e das particularidades religiosas, debruço-me sobre o tema a fim de refletir acerca de quando, como e onde a excepcional ação de Deus aconteceria em nossas vidas. Existe tempo certo para que aconteça? Quanto tempo?

Manhã de quarta-feira, três de dezembro de dois mil e vinte e cinco. O despertador estava programado para as sete e quinze; entretanto, às seis e quarenta e cinco abri os olhos, ainda meio embaçados pelo recente despertar. Como de costume, estiquei o corpo e me sentei na cama; fiz o sinal da cruz e, só então, coloquei os pés no chão. Cabelos desgrenhados, a passos lentos fui até o banheiro. Logo o celular vibrou – há anos não ouço o toque musical, uso sempre no modo silencioso. Era mensagem da minha irmã convidando para uma xícara de café.

Em outros momentos, quando chegava à cozinha, encontrava minha mãe sentada em uma das cadeiras assistindo a vídeos de orações; pegava minha xícara, servia o café, ela dava pausa no vídeo e a gente conversava, fazíamos planos. A vida é ligeira quando o coração está aquecido pelo amor.

No quintal, um pé de manga-espada está carregado. Consigo tocar as frutas; espero que amadureçam rápido. Embora as mangas ainda estejam em seu processo de amadurecimento, vez ou outra alguma chega ao ponto antes. Fico na expectativa de encontrar as “temporonas”. Ao me ver próxima à mangueira, vasculhando os galhos, meu pai perguntou se eu queria que tirasse duas mais altas. Ele pegou uma vara grande com um litro cortado na ponta e tirou, lá de cima, duas mangas perfeitas. Entregou-me e, imediatamente, descasquei-as, cortei um pedaço e saboreei aquele presente da natureza. Sabe o extraordinário de Deus?...

Era apenas uma quarta-feira de manhã. Porém, a certeza do excepcional me tomou quando entendi o privilégio de estar em casa, poder acordar sem a regra imposta pelo despertador, lembrar de uma mãe gentil, cuidadora e amorosa como a minha, tomar uma xícara quentinha de café recém-coado e receber das mãos de meu pai duas mangas lindas, maduras e doces. O extraordinário de Deus em minha vida tem acontecido diariamente, em cada amanhecer!

...essa constância silenciosa que estrutura o viver, vincula ao sagrado e traduz o cuidado de Deus nas formas mais simples; faz lembrar que o milagre não está no raro, mas na graça de existir.




03 de dezembro de 2025
Valquiria Rigon Volpato

Comentários

  1. Simples assim como Deus nos revela ,através das coisas tão simples, parabéns pela sensibilidade das palavras

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  2. Me identifico muito com esse texto, pois gosto de estar na chácara perto das plantas, cuidando das flores. Moro em Cachoeiro e em Matilde, cidade e Campo. E sou muito feliz.

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