RE-TALHOS

Ter o universo dentro de si nem sempre é fácil — quase nunca é. Organizar as ideias até reduzi-las a algumas linhas remete-me ao parto — embora eu tenha decidido não parir; talvez seja, justamente, pelo nascimento dos textos que coloco no mundo, a opção sincera de maternar palavras e não seres humanos. Ontem, ao sair do escritório e caminhar pelas ruas do Centro, por volta das 18h, percebi os faróis dos carros passando, ansiosos para chegar — onde? — e pessoas, muitas delas em pontos de ônibus ou apenas serpenteando entre obstáculos nas calçadas, todas indo ao encontro de lugares ou de outras pessoas. Mas será que ao encontro de si mesmas? A oportunidade de caminhar provoca em mim efervescência — como a água no copo quando misturada ao Sal de Frutas Eno, o remédio que sempre me era oferecido em casa como tratamento para poliqueixas. Perceber a cidade em tempos de ostentação tóxica e de correria entre os afazeres diários se enquadra na lista de coisas a serem feitas nas horas vagas, inf...