"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quais são os motivos para festejar?


Para os cachoeirenses vento frio é achaque para tirar do armário aquelas grossas blusas de inverno que só se usam em viagens para o Sul do país. Cachoeirense está acostumado ao calor intenso, ar condicionado, Marataízes no verão e ruas desertas nos finais de semana de janeiro. Vez ou outra um amigo que hoje mora em São Paulo liga e não abre mão da pergunta: Como é que está o clima aí? A resposta, por estes dias, tem sido assim: Está ótimo! Fazendo frio. Estamos até usando botas e blusas mais grossas... Imediatamente ele quer saber: Quantos graus? Inocente e até com certa excitação respondo: Depende do horário, mas já chegamos aos 15° ou 17°. Do outro lado da linha só ouço sua risada, debochando de nossos momentos mais “gelados”. Que inconveniente!

Mas o frio em Cachoeiro também anuncia festejos. Dia 29 de junho, festa da cidade, cachoeirense ausente, desfiles, baile de gala, alvorada (alguém se lembra?), shows na Exposição (agora sim, né?!). O clima muda e agora não apenas pelo frio. É festa! E, portanto, seria injusto tornar a interrogativa que encabeça este artigo em frase afirmativa-negativa, até porque ainda acredito que temos motivos sim para fazer festa. Talvez não sejam os mesmos motivos pelos quais todos festejariam, mas eles existem. Recordo-me que em 2008 escrevi: “Dia 29 de junho de 2008, Avenida Beira Rio, 05h50min: Banda 26 de Julho escoltada por um carro. Rua deserta. Nada de desfile, apenas a Banda seguindo a tradição. Os mais jovens chegam a se assustar quando ouvem a música, não sabem de que se trata, e assim, devagar, a cultura vai perdendo o fôlego. Quando se fala em festa de Cachoeiro, logo vem a mente os shows na Exposição (Exposição... do que mesmo?). No último dia da festa, os jornais noticiaram acidente grave envolvendo jovem de 14 anos, atingida por bala perdida, quando saía da Exposição. É triste ver como as pessoas preferem cultivar os modismos e atirar pela janela valores insubstituíveis”.

Fato é que o tradicionalismo adornado pelas homenagens imaginado pelo criador da festa, pouco a pouco, se esfarela. Existem alguns que ainda buscam manter viva a chama original, contudo, a deturpação do tempo associada a novos costumes sociais desfoca o objetivo e, assim, entre borrões, o que se pode aproveitar são acontecimentos isolados.

O que parece é que, ano após ano, deixamo-nos ser levados pela correnteza; não nadamos, preferimos boiar crendo que estamos sendo levados para o caminho certo ou que pelo menos estamos indo na mesma direção, contudo, como disse o comediante norte-americano Will Rogers: “Mesmo estando na estrada certa, você será atropelado se ficar apenas sentado nela”.

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