"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Homem: Prisioneiro de si


Organizando algumas pastas, reencontrei este “velho amigo”. Senti saudades, convidei-o para entrar e tomar um café, enquanto juntos relembrávamos antigas histórias. Disse-me ele assim, em um de seus curtos monólogos entre nosso diálogo:

Estar encarcerado não significa que haja paredes ou grades ao redor. O cárcere é proveniente, também, das prisões que o próprio homem cria para si, seja em jaulas ou mesmo em sentimentos. Nem todo cárcere é forçoso; há aqueles que preferem as trancas de um “seguro” cárcere, às asas de uma “temida” liberdade.
Ser livre também não significa estar fora das grades, longe de paredes, imune às prisões. Ser livre, e mais, ter liberdade, é sentir a alma fresca, como sentir entre os cabelos o passar dos dedos da brisa suave. Liberdade, assim como o cárcere, é um estado de espírito, onde a autoridade de tirá-la ou concede-la cabe a si.

Cárcere e liberdade são paradoxos, como o são amor e ódio. Há quem diga que os sentimentos paradoxais se atraem, se complementam numa órbita de possibilidades. Um prisioneiro só almeja liberdade quando julga não tê-la, quando ao longe vê o sol pequeno esconder-se no horizonte, através de uma estreita janela, de sua cela ou de sua alma.

Na agitação da contemporaneidade, os homens vivem numa grande prisão, e não importa para onde vão, sempre estão presos à materialidade que julgam ser indispensável à sobrevivência. Desaprenderam a conviver com a natureza, fazendo dela sua mais ilustre prisioneira, entretanto, se esqueceram que não podem caminhar além de suas pernas, e aos poucos ela recupera sua liberdade.

Se toda canção de liberdade vem do cárcere, é certo que, neste momento, muitos estão cantando, enquanto outros jamais aprenderam a cantar. Engraçado é que nessa vã filosofia humana, há tentativas frustradas de se determinar o indeterminável, decifrar o indecifrável e tudo isso porque o homem busca liberdade, pois sabe que aí está o seu pior cárcere: o medo. Medo do desconhecido, por só saber lidar com aquilo que conhece.

Não haveria liberdade se não fosse o cárcere e vice-versa. A dependência é do ser humano, assim como as amarras também é ele quem cria. O homem, nada mais é, do que prisioneiro de si”.

Homenagem: Pai! Você foi (é) meu herói, meu bandido (porque todo o dia me rouba sorrisos). Hoje é mais, muito mais que um amigo (e por isso) nem você (nem eu) nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse (meu) caminho, que hoje eu sigo em paz... Pai!
Feliz dia, Papai!

(Valquiria Rigon Volpato)

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