"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Patrimônio Público


Nunca será excessivo falar sobre o Itabira, ainda mais se as questões a serem abordadas forem, como são, pertinentes, atuais e de domínio público (ou ao menos deveriam ser). Na última sexta-feira, 07, o Conselho Municipal do Monumento Natural do Itabira se reuniu para, finalmente, aprovar seu regimento interno e por assim dizer, dar o “pontapé inicial” nas realizações práticas e efetivas do conselho a respeito do Monumento Natural.

A criação de conselhos para gerir áreas importantes no município torna-se, cada vez mais, registro da Administração Casteglione. A delegação de poder aos conselhos permite que haja maior participação na tomada de decisões, fazendo com que, teoricamente, comandos despóticos inexistam. Sobre a questão Itabira, mais especificamente, não tenho medo de tornar-me repetitiva, pois é tema que vale (e muito) a pena.

A cadeia de montanhas que compõe o quadro Itabira é referência para Cachoeiro de Itapemirim e isso significa dizer que, o privilégio de estar sob o “olhar atento das montanhas” não é exclusivo de quem reside na região próxima ao Itabira, mas é, de fato, agraciamento a todos os cachoeirenses, tornando-a assim patrimônio público. E aquilo que é de todos, sabe-se, primariamente, que deve ser zelado por todos.

A realidade da região do Itabira sofreu abruptas mudanças em pouco tempo, especialmente no que se refere à redução da área de “preservação” (digamos assim, grosseiramente). Alguns “investimentos” no local, por exemplo, não condizem com as características e tão pouco se amoldam àquele meio; foram responsáveis por abrir uma ferida na paisagem. Muito se diz sobre investir, ampliar e gerar renda, mas em casos como o do Itabira (que mereceu até conselho próprio) deve-se avaliar, cuidadosamente, que tipo de investimento fazer.

A área, que é tão próxima ao centro da cidade, não pode tornar-se uma extensão deste. O Itabira possui identidade e personalidade que não podem, de maneira alguma, serem usurpadas. Para os que defendem a expansão comercial, vale dizer que, em momento algum há repulsa quanto a novos investimentos na localidade. Existe, tão somente, a preocupação de que tais investimentos sejam absorvidos pelo meio a tal ponto de confundirem-se com ele. As incompatibilidades não podem vingar, porque estariam perseguindo a mesma linha de raciocínio que transformou, desconfigurou e desmatou quilômetros de mata virgem em busca 
do “crescimento”, conforme se banalizou em nossa história.

Há tempos convoco a população para abraçar a causa Itabira, reconhecendo que nela há interesse público. Assim como há (ou deveria) interesse público em outras questões tão pertinentes que acabam sendo deixadas à margem de nosso poder fiscalizador-zelador. Nos atuais dias, não nos basta sermos povo, devemos participar! E só tem direito de exigir, aquele que se sente no dever de fazer parte. Portanto, ainda que repetidamente, abandonemos nossa zona de conforto e passemos a ser escoteiros de uma nova sociedade: SEMPRE ALERTAS!

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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