“Conheci” Fabrício Carpinejar na IV
Bienal Rubem Braga. Já havia lido alguma coisa de sua obra antes, mas, devo
admitir que vê-lo e ouvi-lo foi além da leitura silenciosa que costumo
desenvolver; meus olhos e ouvidos o leram! Das falas divertidas, verdadeiras e
nada medidas que usou para expressar seu ponto escritor-pessoa de vista, não
houve descarte, aproveitei-as todas e, sem medo, tornei-me “mosquito
transmissor” de sua ideologia literária.
A abolitio
dos pré-conceitos: eis aí o ensinamento! O hoje escritor, que palestra pelo
Brasil, mostrou-se um menino “nada convencional”, sem o estereotipo social
aceitável. Sem belos olhos azuis ou corpo esculpido, escultural, o “aspirador
de pó”, como revelou ter sido rotulado na infância, transformou-se em
“expirador de letras”, anunciador de sua própria “desincasulação” através das
palavras. Era lagarta; agora, borboleta (e aposto que é borboleta amarela,
aquela, de Rubem, que fugiu). Voa!
Ser atraída por Carpinejar não foi
privilégio meu. Sei bem de outros tantos que, publicamente, manifestaram sua
admiração pelo escritor. Presente para o cachoeirense que frequentou a Bienal!
Que venceu pré-conceitos...
A IV Bienal Rubem Braga teve grande
repercussão (para o bem e para o mal, infelizmente). A articulista Célia
Ferreira produziu artigo excelente sobre os assuntos paralelos que foram
exaustivamente discutidos durante a Bienal e expressou, sem demagogias, sua
explicação simples, sua sugestão óbvia para sanar um dos “problemas” tão
mencionados, o trânsito.
É fato que Cachoeiro de Itapemirim, esta
“Atenas capixaba” é crivada de situações menos agradáveis, digamos assim. O
próprio trânsito, que causou alvoroço durante a Bienal, é dificuldade constante
em nossa cidade. Cadê o PDM? Esquecido, deixado na prateleira, permitindo que
prédios, casas e tantos outros imóveis fossem irregularmente construídos,
estreitando ruas, espremendo vias secundárias, enquanto a frota de veículos por
essas bandas aumenta vigorosamente ano após ano. E o “caos” quem casou foi a
Bienal?
A irredutibilidade de
pensamento é uma forma de preconceito e, neste caso, vai contra a filosofia
“Carpinejiana”, a forma livre de pensamento (que não significa ter razão
sempre); contra o crescimento, e crescer dói, mas não significa que a “dor”
seja ruim. Inegavelmente a Bienal trouxe crescimento literário à cidade, e sim,
causou “dor”. Se pudéssemos nos transportar para um andar superior e observar
do alto a Bienal, certamente veríamos coisas muito boas e coisas nem tão boas
assim. No entanto, partindo do princípio de que nosso “copo deve estar sempre
meio cheio”, os fins literários alcançados pela Bienal foram compensatórios e
seria mesquinho não reconhecê-los. E se for preciso “sangrar” uma semana a cada
dois anos para que Cachoeiro se aproxime cada vez mais da literatura, estou
disposta a “doar meu sangue”.
(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)
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