"...aqui dentro, dentro de mim, ainda é noite." |
...amanheceu. É possível que haja luz lá fora. É possível que haja flores colorindo os cenários. É possível que meninos estejam jogando futebol na rua, marcando gols entre traves de Havaianas. É possível que os passarinhos estejam construindo seus ninhos com gravetos nos bicos, espertos, arquitetos, engenheiros do ar! É possível que, em algumas cozinhas, mães estejam assando bolos de chocolate e enquanto o sabor em forma de cheiro inebria toda a casa, elas cantem ao som da música de suas épocas, músicas que só se escutam nas AMs matinais... É possível que amigos estejam conversando sobre qualquer banalidade que os faça sorrir, sentados nos bancos da praça, onde os pombos os rodeiam à expectativa de migalhas, farelos do pão que seguram envolto a um papel cinza salpicado de preto, papel esse que ganharam na padaria, momentos antes, das mãos do Silva, o José da Silva, nordestino, sujeito de caráter, de sorriso fácil, de vida difícil, de lutas constantes, de amigos incontáveis... Um típico brasileiro. É possível que casais caminhem de mãos dadas e que, sem palavras, um esteja dizendo ao outro como é bom estarem juntos. É possível que, lá fora, a vida aconteça de tantas e tantas formas, com tantas cores, sabores e sons... É possível... e embora acredite em todas as muitas possibilidades, apesar de ter amanhecido lá fora... aqui dentro, dentro de mim, ainda é noite.
(ainda sem título. Talvez nunca o tenha).
Valquiria Rigon Volpato
14 de junho de 2014
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