"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

(ainda sem título. Talvez nunca o tenha)

"...aqui dentro, dentro de mim, ainda é noite."

...amanheceu. É possível que haja luz lá fora. É possível que haja flores colorindo os cenários. É possível que meninos estejam jogando futebol na rua, marcando gols entre traves de Havaianas. É possível que os passarinhos estejam construindo seus ninhos com gravetos nos bicos, espertos, arquitetos, engenheiros do ar! É possível que, em algumas cozinhas, mães estejam assando bolos de chocolate e enquanto o sabor em forma de cheiro inebria toda a casa, elas cantem ao som da música de suas épocas, músicas que só se escutam nas AMs matinais... É possível que amigos estejam conversando sobre qualquer banalidade que os faça sorrir, sentados nos bancos da praça, onde os pombos os rodeiam à expectativa de migalhas, farelos do pão que seguram envolto a um papel cinza salpicado de preto, papel esse que ganharam na padaria, momentos antes, das mãos do Silva, o José da Silva, nordestino, sujeito de caráter, de sorriso fácil, de vida difícil, de lutas constantes, de amigos incontáveis... Um típico brasileiro. É possível que casais caminhem de mãos dadas e que, sem palavras, um esteja dizendo ao outro como é bom estarem juntos. É possível que, lá fora, a vida aconteça de tantas e tantas formas, com tantas cores, sabores e sons... É possível... e embora acredite em todas as muitas possibilidades, apesar de ter amanhecido lá fora... aqui dentro, dentro de mim, ainda é noite.

(ainda sem título. Talvez nunca o tenha).

Valquiria Rigon Volpato
14 de junho de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário