"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Exército de um homem só


...e Cachoeiro foi parar na avenida do samba! Cantando e contando a vida de Roberto Carlos, a Beija-Flor, levou para sua quadra mais um título do carnaval carioca. Deveras, não observei tamanha ênfase sobre nossa cidade, a não ser nas muitas vezes que o nome “Cachoeiro” foi cantando por Neguinho e seus companheiros puxadores de samba. Não, não se trata de crítica ao que fora exposto no sambódromo, muito menos à vida de Roberto Carlos, mas trata-se da vontade e expectativa que tínhamos (ao menos eu tive) e o que foi apresentado pelas câmeras da Rede Globo... e falando em Rede Globo, é preciso concordar que o Plim Plim teve uma “suave” contribuição para a vitória. Não, não estou dizendo que não foi merecida, mas quem assistiu viu e se viu não pode vendar os olhos ou dizer diferente. E em que nos desmereceria isso? Sou muito mais Cachoeiro (leia-se também Roberto Carlos, afinal ele foi o homenageado) pelo que representa e não pela representação que fazem...

Louros a quem merece, algumas ponderações ainda carece serem feitas. Em meio à empolgação trazida pelo carnaval, recebi, por e-mail, pedido de socorro para não deixar morrer aquilo que fora defendido na avenida: a cultura Cachoeirense.

O amigo Paulo Henrique Thiengo escreveu narrando situação difícil em que se encontram livros antigos “guardados” no Centro Operário, principalmente depois das últimas enchentes: “Estive lá ontem e retirei os que estavam intactos. Muitos outros ficaram lá nas estantes, a maioria com cupins e traças. [...] Vou ter que ensacolar e lacrar. Faço isto porque a reforma do telhado da parte antiga do Centro Operário começa agora, depois do carnaval. Se estiver destelhado e chover, perdemos os livros. São muito antigos e alguns raros. Enquanto de um lado se festeja a vitória carnavalesca, de outro se vive o abandono. Incoerente. É de nosso patrimônio cultural, de nossa história que estamos tratando. Como é possível que a população se una para assistir sua cidade ser “lembrada” no samba e desapareça quando é necessário cuidar do que nos é mais íntimo? “Já estou cansado disto. São muitos anos de dedicação a uma causa solitária, sem retorno de espécie alguma. [...] A impressora (de 1877) do Correio do Sul está em minha chácara, em São Vicente. Deve pesar uns 1.500 kg e foi desmontada e retirada na mão. Isto foi há uns 15 anos! Não houve qualquer interesse em remontá-la e colocá-la em local público, onde possa ser visitada e colocada novamente a funcionar. E, detalhe: Retirei-a do local apenas 12 horas antes de ir para o ferro-velho!”.

O vocabulário se torna escasso quando é necessário definir a luta solitária em prol da cultura, da história, da vida: “Fico triste em ver o matagal no quintal da Casa dos Braga”. O que nos falta, ainda, para aceitarmos que a cultura precisa de nós e que Cachoeiro é bem mais que um samba enredo? Este exército de um homem só, hoje formado por Paulo Thiengo, precisa ganhar reforços: Pelo Centro Operário, pelos livros, pela impressora do Correio do Sul, pela Casa dos Braga, pelas crônicas, pelos poemas, pelas músicas, pelas danças, pelo Rio Itapemirim, pelo Itabira... por nós.

Assim como foi pedido no e-mail, não pretendo aqui evidenciar os trabalhos realizados pelo soldado, mas sim dizer que ainda nos faltam combatentes. E se temos a intenção de vencer a guerra, preparemos JÁ nossas armas e vamos à luta!

Campanha: quem quiser se unir ao exército dos que estão dispostos a preservar a cultura de nossa cidade, favor enviar e-mail para os endereços: val.volpato@gmail.com ou paulohthiengo@gmail.com.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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