"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

É preciso "corar" de vez em quando...


A grande maioria de meus artigos nasceu de conversas, observações durante o caminhar pelas calçadas cachoeirenses. Aprecio a arte de observar e traçar, imaginariamente, qual seria a situação desenhada naquele cenário mudo captado por meus olhos. Quando devidamente entrelaçadas, as palavras facilmente me emocionam e isso pode até ser que demonstre fragilidade, mas prefiro encarar como sensibilidade, talvez não a mesma captada por aquela “antena delicadíssima” que Newton Braga possuía, no entanto não menos valiosa.

Admiro a sabedoria popular, admiro a sabedoria científica, admiro o saber, especialmente quando quem o transmite tem o dom de fazê-lo. Felizmente nossa capital secreta nos reserva momentos ímpares, oportunidades que São Paulo, por exemplo, não nos daria ou não nos permitiria. Cachoeiro nos faz sermos mais próximos, nos garante o encontro casual, que está marcado naquele mesmo local de sempre, onde não se agendam reservas, mas que, inevitavelmente, se tem cadeira cativa!

Numa dessas “oportunidades casuais” de conversa, aprendi um pouco mais sobre a importância de enrubescer. Falávamos sobre atos da vida pública, tema propício em ano eleitoral, mas que calhou muito bem para outras situações do cotidiano. É que a vida talha os indivíduos, os molda, e nem sempre ela, a vida, da fôrma e formas corretas a todos. Existem momentos em que não se pode deixar transparecer o interior; o que se espera de nós, ao menos enquanto indivíduos “públicos”, de convívio em sociedade, é pulso firme, decisões. O caso é que neste grande baile social em que vivemos, quem não souber dançar ou pelo menos fingir que sabe, ficará à margem. Máscaras e máscaras... Vivemos com elas e não é apenas no Carnaval!

A importância de corar as faces nos remete à imediata reflexão que, de vez em quando, é preciso abandonar os disfarces e sermos apenas nós. A couraça que o dia a dia nos obrigada a possuir tende a nos deformar, mas ainda que deformados não podemos jamais nos esquecer de quem somos e, principalmente, a que viemos.

Somos enxadristas por nascença. Vivemos de traçar percursos e estratégias para, ora nos defendermos, ora atacarmos. Não chega a ser “maldade”. É imposição. Criamo-nos assim, pois acreditamos que somente assim escaparemos com vida de nossas próprias vidas. Não discordo, mas mantenho-me atenta, porque sei que é preciso jogar, mas sei também de quem sou e minha essência não é feita desse “jogador plantão”. Tanto não é que, não tão esporadicamente, ruborizo.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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