"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

De repente...


Acontece assim mesmo: Ideia pronta, tema definido, tudo certo... Será?! Feliz aquele que está apto a receber o “de repente”, esse acaso que muda (e nos muda) por inteiro.

Escrever é metamorfose e, também, metamorfosear. Transformação de si mesmo, algo como Raul (o Seixas) disse naquela canção: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. E como tinha razão aquele moço! Viver daquela enferrujada visão, dificultando o mover das engrenagens, estreitando horizontes, morrendo em um universo miúdo e pobre. Não!

Nada de contentar-se com o que está pronto, porque nossas verdades são como placas tectônicas, sempre em movimento, em processo de formação. Vez ou outra se chocam, esbarram-se comprimindo umas às outras, causam grandes abalos, desmoronam casas aparentemente sólidas, mudam coisas de lugar... Destroem, provocam dor, sofrimento, mas o ponto crucial desse encontro de placas é que, após toda a desordem e destruição causadas por este terremoto de “encontro de verdades”, os envolvidos arranjam um jeito de recomeçar e jamais será igual; estarão mais fortes, preparados, “crescidos” e então diferentes. Metamorfoseados...

Talvez seja esta inquietação que fez de Raul o “cara” do “de repente”, sempre esperando o novo, o diferente e sem medo de se encontrar com ele, porque vida tem dessas coisas e não adianta a gente querer fugir ou fingir que está tudo certo, na esperança de que nunca iremos sair dessa zona de conforto, redoma de proteção, ou que nada irá mudar, porque muda! E não é nosso medo de agir que vai segurar o mundo, impedi-lo de girar.

Ideias pré-formadas, conservadas em formol, mais cedo ou mais tarde darão lugar a outras que não se negaram a seguir o fluxo das transformações que não é retilíneo, nem uniforme, não é movimento uniformemente variado, não é Física, é História... A mesma História que, até que se transforme em passado, não será a mesma.

O inesperado é bem vindo e não é culpado por causar seu devido “transtorno”. Onde está nossa capacidade de agir frente ao desconhecido? Vamos improvisar e fazer “fogo” à moda antiga, se caso precisar. Não deixa de ser fogo se não for riscado no fósforo, aceso no isqueiro ou no fogão elétrico... Pensei em escrever sobre Direito, mas cheguei aqui com o pensamento diferente. Eu poderia resistir e formatar o texto anterior (que ficou em minha mente), mas não, não seria a mesma coisa. Propus-me o desafio e cá estou enfrentando esse “desconhecido” que há em mim, apenas para que dele nascesse o texto. Concebi, gerei... Nasceu! De surpresa esse “de repente” que me tirou o foco e deu-me um novo... O foco no inesperado!

Coisa de cidade pequena?: Para quem acompanhou as atividades da “Rio + 20” pelos telejornais viu também que o trânsito não ficou nada bom. Ouvi gente dizer que preferiu caminhar e evitar o tumulto. Em Cachoeiro teve Bienal Rubem Braga, no Rio de Janeiro a “Rio + 20”. Aqui é cidade pequena... e lá? O que é?

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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