"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Culpados até que se prove o contrário


E tem como escrever sobre algo que não seja Eleições 2012? Claro que tem! Mas o assunto está em voga e para não dizerem que fiquei démodé, melhor aproveitar o embalo e falar das “primeiras impressões”, afinal, são as que ficam não é mesmo?

Num cenário político de faroeste, Cachoeiro segue rumo ao outubro eletivo para, mais uma vez, exercitar a boa e velha democracia, que é atividade saudável, recomendada pelos mais bem conceituados entendidos no assunto, mas que, infelizmente, desde que na Grécia alguém teve esta brilhante ideia, jamais funcionou cem por cento... Admitamos: o que funciona cem por cento neste Brasil de Cachoeira (eu escrevi CachoeirA e não CachoeirO..!), Demóstenes e companhia Delta Ltda.? O que tem acontecido é que o povo, o santo povo de Deus, perdeu a confiança (algum dia teve?) e não mais dá credibilidade política a quem quer que seja (e que se diga candidato!).

Repudiar esse (desconfiado) posicionamento pouco satisfatório? Sinceramente... Não! Anos e anos de promessas (que não deveriam ter sido feitas) não cumpridas, de corrupção que se assemelha à Maria Fumaça (a todo vapor) e dinheiro público sendo embolsado e gasto com despesas que vão muito além da cesta básica... Como não se mostrar compreensível e admitir que a desconfiança esteja na frente nesse duro páreo de saber quem não tem medo do lobo mau ou quem não está apenas esperando oportunidade para devorar a vovozinha (no melhor, se é que existe, sentido da palavra?!)? Acontece que todos já nascem culpados e a presunção de inocência, o in dubio pro reo, simplesmente se inverte. Não há inocentes! A regra é que todos são culpados até que se prove o contrário!

Não há melhores, nem piores, o que há é “farinha do mesmo saco”, ou seja, iguais perante a lei, iguais perante o povo, que salvo suas exceções, prefere a regra, no melhor estilo manter o pé atrás e conversar intimamente com a pulga atrás da orelha. Mas antes assim, desconfiado, do que o fanatismo, essa virose grave capaz de levar à cegueira. Tem gente que, para não ficar “doente” é precavido, e não raro faz check-ups, e tem gente que prefere adoecer para depois (do sofrimento) encontrar a cura... Masoquistas? Vai saber... Mas gosto é aquilo: cada um tem o seu! Pena mesmo é que política não é uma questão de gosto e sim de avaliação, de estudos e, especialmente, de caráter (apesar de não ser palavra corriqueira em alguns corredores de palácios por aí...). Não basta gostar do fulano ou do sicrano para presenteá-lo com o voto. É preciso conhecê-lo... E tem gente que vive sob o mesmo teto há anos e mesmo assim não se conhecem plenamente, sempre acabam por se surpreenderem...

Mudando o que é preciso ser mudado, conhecer (seu candidato) e votar (consciente) é só começar! Que sejam todos culpados agora, mas que, provado o oposto, dê-se liberdade aos réus e absolvição de seus (mesmo que não cometidos) crimes.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Membro efetivo da Academia Cachoeirense de Letras)

Um comentário:

  1. Valquíria, parabéns pelo belíssimo texto, primeiramente. Muito bem articulado: coerente, claro, conciso e 'gostoso' de ler! Por conseguinte, esbanjou sensatez em seus argumentos e expôs a pura verdade (se é que existe a verdade impura, né, minha amiga?).

    Abração, adorei o escrito!
    Rodrigo Davel

    P.s.: Posso divulgar o texto e utilizá-lo em sala de aula? Os créditos, claro (!), serão dados.

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