As mudanças que queremos ver no mundo
devem começar em nós e isso não se discute. Engana-se quem pensa ser apenas com
atos homéricos que se conquista algo também grandioso; engana-se quem associa a
grandiosidade das obras ao tamanho de seus gabaritos. Existem “grandezas” que
os olhos não veem e outras que podem ser vistas, mas que nem sempre são
percebidas.
Quando existe vontade a mudança
acontece. E substituindo a palavra “vontade” por “interesse”, fica ainda mais
nítida a possibilidade de transformação da realidade. Vontade e interesse até
se assemelham, porém são distintos; primos, quem sabe. Ter o desprendimento
necessário para atingir o nível satisfatório de vontade capaz de promover soluções
sem para isso obter nada em troca (um sorriso?), citando Shakespeare: “eis a
questão”.
As pequenas atitudes que geram grandes
realizações (não visuais), mas interiores, estão intimamente ligadas ao desejo
de fazer e ser o bem que o outro necessita. Nada mais. Não há contrapartida. É
doação. No entanto não é isso que abastece a máquina chamada sociedade. Vontade
é energia limpa, mas que não proporciona bom desempenho ao carro; não permite
que alcance alta velocidade. Dura pouco, logo tem de ser recarregada, e ainda
há o risco de que não se renove. Frágil se comparada ao interesse, esta
gasolina que acelera procedimentos, alcança longas distâncias, impulsiona até
os motores mais lentos. Combustível de alto calão e alto preço, preço que
aumenta a cada dia...
Programada para o assistencialismo, para
a troca de “gentilezas”, assim caminha a humanidade. Batem na porta para
repetirem o pedido; querem o pão assado e não aprender a sovar a massa. O peixe
só serve assado; não há aquele que queira ser pescador. Dá-me o pão, dá-me o
peixe... Dá-me educação? Profissão? Lamentavelmente, não. Talvez, se houvesse
vontade...
O homem peca por esperar quando a ordem
é agir, por não tomar iniciativa quando a decisão urge ser tomada, por não
querer olhar além do faraônico que o impressiona, por não contemplar a grandeza
existente nas pequenas atitudes, por achar que é injusto fazer por todos aquilo
que outros não fazem.
Para eliminar goteiras, nem sempre é
preciso refazer o telhado. Pode ser que falte ajeitar a telha. Contudo é aí que
se instala o conflito. Trocar o telhado, apesar de demorado, parece ser mais
fácil, porque, infelizmente, não há aquele que se disponha a verificar onde
está o erro; talvez tenha medo de ter que resolvê-lo pelo fato de tê-lo
encontrado. Que pingue, que molhe, que seque, que demore, que espere, tanto
faz. Antes trocar inteiro do que descobrir mais rápido a solução...
(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)
Parabéns...Excelente artigo! Adorei a metáfora do final.
ResponderExcluir