"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pequenas atitudes, grandes realizações!


As mudanças que queremos ver no mundo devem começar em nós e isso não se discute. Engana-se quem pensa ser apenas com atos homéricos que se conquista algo também grandioso; engana-se quem associa a grandiosidade das obras ao tamanho de seus gabaritos. Existem “grandezas” que os olhos não veem e outras que podem ser vistas, mas que nem sempre são percebidas.

Quando existe vontade a mudança acontece. E substituindo a palavra “vontade” por “interesse”, fica ainda mais nítida a possibilidade de transformação da realidade. Vontade e interesse até se assemelham, porém são distintos; primos, quem sabe. Ter o desprendimento necessário para atingir o nível satisfatório de vontade capaz de promover soluções sem para isso obter nada em troca (um sorriso?), citando Shakespeare: “eis a questão”.

As pequenas atitudes que geram grandes realizações (não visuais), mas interiores, estão intimamente ligadas ao desejo de fazer e ser o bem que o outro necessita. Nada mais. Não há contrapartida. É doação. No entanto não é isso que abastece a máquina chamada sociedade. Vontade é energia limpa, mas que não proporciona bom desempenho ao carro; não permite que alcance alta velocidade. Dura pouco, logo tem de ser recarregada, e ainda há o risco de que não se renove. Frágil se comparada ao interesse, esta gasolina que acelera procedimentos, alcança longas distâncias, impulsiona até os motores mais lentos. Combustível de alto calão e alto preço, preço que aumenta a cada dia...

Programada para o assistencialismo, para a troca de “gentilezas”, assim caminha a humanidade. Batem na porta para repetirem o pedido; querem o pão assado e não aprender a sovar a massa. O peixe só serve assado; não há aquele que queira ser pescador. Dá-me o pão, dá-me o peixe... Dá-me educação? Profissão? Lamentavelmente, não. Talvez, se houvesse vontade...

O homem peca por esperar quando a ordem é agir, por não tomar iniciativa quando a decisão urge ser tomada, por não querer olhar além do faraônico que o impressiona, por não contemplar a grandeza existente nas pequenas atitudes, por achar que é injusto fazer por todos aquilo que outros não fazem.

Para eliminar goteiras, nem sempre é preciso refazer o telhado. Pode ser que falte ajeitar a telha. Contudo é aí que se instala o conflito. Trocar o telhado, apesar de demorado, parece ser mais fácil, porque, infelizmente, não há aquele que se disponha a verificar onde está o erro; talvez tenha medo de ter que resolvê-lo pelo fato de tê-lo encontrado. Que pingue, que molhe, que seque, que demore, que espere, tanto faz. Antes trocar inteiro do que descobrir mais rápido a solução...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

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