"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quarta-feira, 6 de março de 2013

A SAÚDE em crise


Na última semana, hospitais do sul do Estado foram tema de discussão na Câmara Municipal e o assunto ocupou parcela significativa dos jornais, especialmente, após a realização de Audiência Pública convocada pela Assembleia Legislativa, na quinta-feira, 21.  Presenças dos Deputados Estadual e Federal cachoeirenses serviram para dar ênfase à questão, o que é de cunho obrigatório, não apenas para as personagens do legislativo, mas, sem dúvidas, para todo o cidadão. Saúde é problema (infelizmente a denominação é mesmo essa) de todos.

Durante a reunião, foram ouvidos representantes da Santa Casa de Misericórdia, Hospital Evangélico, Hospital Infantil e Clínica de Repouso Santa Isabel, esta última considerada como prioridade, vez que, por insustentabilidade financeira, ameaça fechar as portas e entregar à própria sorte internos e funcionários. Deveras o caso é gravíssimo, e sob vários aspectos, todos, a seu modo, relatados e registrados nos pronunciamentos feitos, inclusive, alguns merecem destaque, seja porque foram criteriosos ao tratar a matéria, seja porque fizeram menção a temas debatidos em “jornadas” eleitorais passadas...

Em seu discurso, o Deputado Glauber Coelho, como de costume, teve a polidez gramatical correta para, de modo geral, emitir sua opinião. Momento marcante de sua fala, a indignação quanto a “ausências chaves”, como a do Secretário e Subsecretário de Saúde do Estado, no que seguiu afirmando que não se pode prosseguir quando medidas esbarram na burocracia departamentária. Assiste razão ao Deputado. Chamou atenção, em um dos pronunciamentos do Deputado Theodorico, a franqueza com a qual insistiu para que o hospital do Bairro Aquidaban se torne o novo hospital infantil de Cachoeiro. O ex-prefeito parece incansável quanto ao mencionado projeto, mesmo sabendo que os planos atuais para o local são outros. “Com a palavra as mães e as crianças cachoeirenses”, é o que, não raro, diz Theodorico quando se refere ao hospital.

Vereadores presentes fizeram uso da tribuna para dar apoio ao que pretende o legislativo estadual e ainda para tecerem suas considerações sobre o tema. Em particular, ressalte-se o importante alerta feito pelo Professor David Alberto Lóss (PDT), quanto às licitações hospitalares para realização de exames e cirurgias, relativamente simples, quase nunca ou nunca procedidos em Cachoeiro, isto porque, no “leilão” de preços, outros hospitais levam vantagem. Disse ainda que não se pode conceber que pessoas em condições já debilitadas pela enfermidade sejam obrigadas a enfrentarem estradas e todo o tipo de adversidade, deslocando-se até outros hospitais, quando na cidade há plenas condições de atendimento. Enquanto o vereador defendia seu posicionamento, a lembrança da tragédia ocorrida com a van que transportava pacientes de Jerônimo Monteiro para Vitória, justamente com vistas a tratamento de saúde, era reincidente. Naquela manhã do dia 06 de outubro de 2010, quatro vidas foram perdidas; buscavam saúde, mas encontraram a morte.

Há muito tempo o Brasil sobrevive a crise na saúde, portanto este privilégio às avessas não é de Cachoeiro. Estão corretos aqueles que desejam fazer algo para trazer melhoras; merecem aplausos (e espera-se que não fiquem no meio do caminho...). A imensa fatia da população brasileira que, obrigatoriamente, vale-se do Sistema Único de Saúde (SUS), não suporta mais guerrear por atendimento, por celeridade. Há milhares de cidadãos aguardando intermináveis filas cirúrgicas, pessoas que falecem esperando respostas que nunca chegam. A saúde pública vive de repasses de verbas, injeções financeiras que deveriam ser suficientes para tornar menos dolorosa a vida de quem precisa, mas o que se testemunha é uma deficiência de recursos (que chegam???).

Vontade política já é um bom início para dar propulsão à máquina; orçamento, o combustível; honestidade, a condutora... Que o interesse pela saúde siga firme, não apenas para majorar valores referentes à diária por internação na Clínica Santa Isabel, por exemplo, mas para dar tratamento digno aos que dependem das políticas de saúde pública.


(Valquiria Rigon Volpato - Advogada e Escritora)

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