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Mostrando postagens de 2025

Os porquês

"...a fome é interior; o que buscamos alimentar é o que somos." Anos atrás, deitada em minha cama, num desses domingos sem nada para fazer, rolando o feed das redes sociais, me deparei com um episódio qualquer do reality show norte-americano My 600-lb Life — no Brasil, conhecido como Quilos Mortais. Evidente que, num primeiro momento, entrei em choque ao ver a imagem de um homem extremamente gordo, imóvel sobre a cama, totalmente dependente de sua esposa, que o limpava com panos úmidos pela manhã e, em seguida, o alimentava com quantidades enormes de fritas, frango empanado e refrigerante. Infelizmente, o que me capturou foi aquela imagem. Todavia, para minha sorte, segui assistindo ao episódio — e foi assim que passei a me interessar por outros aspectos: os porquês. O programa mostrava a rotina do homem e sua jornada rumo ao bypass gástrico — uma espécie de cirurgia bariátrica que cria uma pequena bolsa no estômago e a conecta diretamente ao intestino delgado, desviando o...

RE-TALHOS

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Ter o universo dentro de si nem sempre é fácil — quase nunca é. Organizar as ideias até reduzi-las a algumas linhas remete-me ao parto — embora eu tenha decidido não parir; talvez seja, justamente, pelo nascimento dos textos que coloco no mundo, a opção sincera de maternar palavras e não seres humanos. Ontem, ao sair do escritório e caminhar pelas ruas do Centro, por volta das 18h, percebi os faróis dos carros passando, ansiosos para chegar — onde? — e pessoas, muitas delas em pontos de ônibus ou apenas serpenteando entre obstáculos nas calçadas, todas indo ao encontro de lugares ou de outras pessoas. Mas será que ao encontro de si mesmas? A oportunidade de caminhar provoca em mim efervescência — como a água no copo quando misturada ao Sal de Frutas Eno, o remédio que sempre me era oferecido em casa como tratamento para poliqueixas. Perceber a cidade em tempos de ostentação tóxica e de correria entre os afazeres diários se enquadra na lista de coisas a serem feitas nas horas vagas, inf...

É só a MINHA opinião

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"Soa engraçado, parece piada, mas, na Câmara, discute-se religião, oração e faz-se leitura da Bíblia, enquanto, nas igrejas, púlpitos são usados como tribunas". Não é um sonho de todo mundo, mas algumas pessoas, em algum momento, despertam interesse por debates políticos – ainda que, naquele instante, não saibam definir suas pautas como política – e isso as acompanha até que sejam capturadas por outro alguém, geralmente vinculado, fisiologicamente, a uma sigla partidária. A receita para um candidato a vereador começa aí: uma irresignação individual associada ao coletivo e, subitamente, abocanhada por um partido político. A ideia de multipartidarismo funciona bem quando se eleva o pensamento a uma sublimação conceitual e altruísta de política – bem diferente da que se pratica na República Federativa do Brasil, que prefere aplicar o fisiologismo político: essa cena dantesca de aproximação por puro interesse individual, com vistas à obtenção de favores e trocas escusas, tudo às ...

Nos telhados de Ilze Scamparini

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"Crônica sobre infância, imaginação e viagens que começam antes do passaporte"... Entre as memórias de infância estão aquelas em que, segurando o microfone – uma pequena vareta de antena de televisão com uma bolinha de espuma velha de algum colchão na ponta –, a repórter internacional, espécie de Ilze Scamparini mirim, noticiava fatos, viajando em mirabolantes pensamentos por lugares do mundo inteiro. Às vezes de pé nalguma pedra ou às margens da lagoa onde se criavam os peixes, as aparições da repórter se davam nesses ambientes que em nada ficavam devendo aos charmosos telhados italianos de Ilze. A correspondente, à época com seis anos, passeava por aeroportos observando as multidões, a reboque era conduzida pela imaginação e a pergunta constante: “para onde estão indo?”. Verdade mesmo é que, apesar de viajar tanto, nossa pequena cover de Ilze Scamparini jamais deixou as fronteiras de sua terra natal, Taquarinha; suas jornadas pelo mundo aconteciam dentro dela, reproduzindo ...

Hoje faço a mala. Amanhã viajo para a Bahia.

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...amanhã viajo para a Bahia numa daquelas viagens que costumo fazer ao menos uma vez por ano; a preferência é por praia – tenho cometido o pecado de não ver o mar aqui no Espírito Santo. Lamentável. Eu sei. Ontem à noite, na tentativa de adiantar as coisas, lavei a roupa e fiz as unhas, usei esmalte vermelho e até que ficou bom, mas a busca por uma inexistente perfeição me fez enxergar tantos defeitos que esse “até que ficou bom” está ecoando na cabeça como um “vamos tirar isso e fazer de novo”. Saí pela manhã e deixei a roupa limpa no varal, não secou durante a noite – essa é uma saudade que prevejo ter quando os dias de inverno chegarem. É tão comum dizer sobre o tempo e a forma como passa rápido – a viagem para a Bahia está prevista há quase um ano e já é amanhã – a gente fala, entretanto, percebe mesmo que o tempo passa quando a vida não existe mais. Hoje acordei num misto de sentimentos, certamente, acentuados pelos hormônios em ebulição do período menstrual, contudo independente...