"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

BBB: Basta de Bunda Brasil!


“Você viu ontem?” Pergunta ávida por informações a vizinha da frente. “Claro que vi, menina! Ontem pegou fogo! Você perdeu?” Decepcionada, ela responde cabisbaixa: “Perdi. Foi culpa do meu filho. Resolveu pedir para que eu lhe contasse uma história quando estava começando... Tentei brigar com ele, falei pra ir dormir, mas o menino começou a chorar, então fui. Mas hoje ele não vai me impedir, nem que ele chore a noite toda”. Ouriçada, a outra abre um sorriso e diz: “Não tem problema! Te conto tudo agora mesmo”. Então, a narrativa tem início: “Max, Newton, Emanuel, Leo e Flávio estão na cozinha tomando café da manhã. Newton, por meio de gestos, pergunta ao artista plástico se ele finalmente beijou Francine e, apenas com o sinal de positivo, o brother confirma. Os meninos gritam, mas Max pede que o beijo fique em sigilo; Priscila não está no jogo para brincar. Tentando acabar com uma suposta timidez de Emanuel, a sul-mato-grossense decide lhe presentear com um strip-tease. A morena joga o brother no colchão, tira o roupão e começa a rebolar e dançar sensualmente sobre ele. O rapaz fica imóvel, extasiado, observando o balanço da morena. Milena não se faz de rogada, aproveita a onda e também dança de forma sexy para o novo morador da casa. Os outros confinados aplaudem o show; Priscila e Milena sobem no colchão rosa e começam a dançar. As duas dançam juntas, sensualmente, até o chão. Max brinca com as sisters, como se as idolatrasse. “Loira, te adoro”, diz a sul-mato-grossense para a amazonense. Em seguida, Priscila puxa Milena pelo braço e diz: “vamos dançar para apimentar essa festa”; Em clima romântico, Newton e Josiane se abraçam na pista de dança. E, depois de alguns selinhos e carícias, pela primeira vez se beijam “para valer”. Os dois dançam juntinhos todas as músicas; (fragmentos retirados do site www.globo.com). Na última quinta-feira, recebi texto de Rubem Braga, cópia reprográfica do Jornal “O do Sul”, publicado em 28 de fevereiro de 1934. Trata-se do texto “Vamos Ver”, que fora direcionado ainda para os jornais “Diário de São Paulo” e “Estado de Minas”. Na ocasião, Rubem saudava o ano novo. Transcrevo o trecho final: “Salve, salve 1934! Isto é: vamos ver...”. O cotidiano contado por ele na história que, ao final, confessa ter inventado, toma pela mão o pensamento, mostra-lhe os detalhes da vida; em expressão reduzida: quase um afago. 75 anos mais tarde, o ano novo, isso há 09 anos, vem sendo saudado com uma aberração chamada Big Brother Brasil. Se a discussão fosse filosófica, eu admitiria; se valesse para enriquecer o conhecimento, eu assistiria; se tivesse qualquer vestígio de cunho cultural (aqui não cabe dizer que tudo é cultura), eu aplaudiria. Mas colocar pessoas sob um mesmo teto com intuito único de que, numa “festinha” ou outra, depois de embriagados, exibam seus corpos em cenas deploráveis como um strip-tease? Sinceramente, é inaceitável. Coisas desse tipo são impossíveis de mensurar, até porque estupidez e pornografia não se mensuram... Basta de bunda, Brasil! Precisamos de educação.

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

Obs.: Crônica escrita em 22.01.2009

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