"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os pontos comuns nos fazem sorrir


O mundo está repleto de diferenças. A diferença é tão presente que faz parte da vida, é um pedacinho de todo mundo que se mistura e basta olhar para saber que, apesar de tantas combinações, é possível distinguir cada traço do diferente que compõe a tela.

Tem diferença que é muito boa e tem diferença que é muito ruim. A coisa boa da diferença é que, se todos fossem iguais, a vida não teria muita graça. É bom discordar um pouco de vez em quando, afinal, as discussões são necessárias ao crescimento. A coisa ruim da diferença é que, alguns se prendem tanto a ela, que passam somente a enxergá-la; esquecem a imagem conjunta que formam, como se o entardecer, num dia claro de primavera, pudesse ser ofuscado por uma pequena nuvem escura no horizonte.

Em nome da “diferença cega”, alguns pensam que não há limites: matam como se natural fosse o não fazê-lo. Mas não foi sobre a diferença que pensei escrever, quero mesmo falar sobre os pontos comuns. Esta semana, cheguei um pouco mais cedo ao trabalho, ainda não havia tomado café, então resolvi ir até a padaria, que não fica longe, apenas poucos metros após a esquina. Comprei o pão que tanto queria, e na volta, ouvi um ruído. Um som de motor, mas não os carros da avenida, não era isso. Então parei alguns minutos e comecei a procurar, até que, olhando para o céu, percebi se tratar de um avião (acho até que era um dos aviões da Esquadrilha da Fumaça, que em breve se apresentará em Cachoeiro e que há tanto tempo não vejo). Mas essa não foi a surpresa. Antes que eu continuasse caminhando em direção ao escritório, meus olhos se encontraram com os olhos de um senhor que, como eu, ficou por uns minutos observando o céu. O encontro de nossos olhares promoveu o entendimento, também, entre nossos sorrisos. Imediatamente, sem palavras, compreendemos que algo em comum nos unia. E foi naquele momento que decidi sobre o que iria escrever neste domingo: sobre a diferença de idade, de sexo, de vida, de crenças (talvez), mas principalmente, sobre o comum que nos tornou tão iguais naquele breve instante...

Na sexta-feira, assim que cheguei do trabalho, encontrei minha mãe assistindo o último capítulo da novela das seis. No finalzinho, prestei um pouco mais de atenção, porque ouvi assim: “Eu imagino Deus como a fonte de toda a energia que criou e mantém o equilíbrio do universo. Vejo Deus na flor e na abelha que lhe suga o néctar para produzir o mel; e no pássaro que devora a abelha; e no homem que devora o pássaro...e no verme que devora o homem. Eu vejo Deus em cada estrela no céu, nas minhas noites nas pousadas, e nos olhos tristes de cada boi, ruminando na envernada... Só não consigo ver Deus no homem que devora o homem, e por isso acho que ainda tenho muito o que aprender nesses caminhos da vida...” (Benedito Ruy Barbosa).

Entendi que, infelizmente, a diferença pode nos matar. Mas que acima de tudo estão os pontos comuns, que nos fazem sorrir...

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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