"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cansei...


Cansei. Cansei mesmo de tanta gente que me diz mentiras, que parece ter prazer em me enganar. Passei uma boa parte de minha vida crendo que sabia qual era meu objetivo e como num sopro, tudo aquilo em que eu pensava crer se desfez.

Cansei, cansei de levar a vida tão a sério, de achar que tenho muitos anos pela frente, quando amanhã mesmo posso não acordar. Aquela história de viver cada dia intensamente como se fosse o último não "colava" comigo: Loucura! É, eu pensava assim. Eu tinha uma montanha alta chamada Realidade, da qual eu não pensava sair; queria a segurança daquela montanha e me afastar dela causava-me calafrios. É, eu vivia assim. Mas estou aprendendo que viver intensamente não é sinônimo de insanidade; talvez em alguns casos esses dois sejam vizinhos, irmãos ou colegas bem próximos... mas e se forem? Aprendo, a cada dia, que viver intensamente é não me preocupar tanto com o amanhã, é sorrir o máximo que eu puder; cumprimentar a todos que me olharem nos olhos e distribuir atenção, apenas pelo prazer de ver um outro sorriso se formar naquele outro rosto.

Cansei, cansei de ficar tentando adivinhar o que vão pensar se, numa sexta-feira, depois do expediente, eu quiser sair com uns amigos, sentar em algum barzinho e brindar à vida ou somente rir um pouco das tristezas e dificuldades do cotidiano. Eu queria ter mais coragem para ser eu, para ignorar aquilo que me faz mal; ter forças para rir quando querem me fazer chorar e pensar numa boa piada depois de ouvir coisas que não gostei de ouvir. Mas eu chego lá. Porque eu cansei de ver a raiva nos olhos dos outros e o medo nos meus; cansei de sentir o amargo da impiedade nas palavras alheias, enquanto as minhas palavras só queriam pedir perdão, perdão por aquilo que não fiz, perdão sem motivo, perdão porque estavam tão acostumadas a serem assim.

Cansei de confiar e achar que todos eram tão confiáveis quanto eu pensava que fossem. E logo eu que gostava tanto de confiar... A gente muda, mas algumas coisas eu gostaria que ficassem iguais para sempre. Queria meus avôs vivos para que eu pudesse conversar com eles tudo aquilo que não conversei; queria minhas bonecas e minha infância para não sentir o peso da responsabilidade sobre os ombros; queria ter continuado a gostar de café com leite, ovo molinho com arroz e caldo de galinha com angu... queria muito ter aprendido a comer jiló sem torcer o nariz...

Cansei da maldade impregnada nas pessoas, das discussões bestas pelo poder, das mortes ainda mais bestas por motivos igualmente bestas. Cansei de pensar que devo seguir um único caminho, enquanto vejo tantos à minha frente. Cansei de ter medo de tudo e ignorar aquilo que realmente poderia me fazer feliz.

Cansei de me enganar com mentiras tão ruins que nem mesmo eu sei como as inventei. Não quero viver imaginando um futuro distante ou me arrependendo de um passado monótono. Nada vai mudar. Só o que tenho é o presente, e é dele que vou cuidar; cuidar para que seja bom, tão e tão bom, que eu não terei vontade de pensar no futuro e muito menos terei motivos para querer mudar o passado. Eu vou viver. Eu decidi isso. Vou cuidar mais de mim e aproveitar todos os meus momentos de felicidade. Não quero ver minha vida escorrendo entre meus dedos. Quando olhar minhas mãos, quero vê-las cheias, transbordando as alegrias que tive. 

Valquiria Rigon Volpato
07 de outubro de 2009.

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