"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Como evitar o inevitável?

Em ritmo de desastres climáticos. É assim que está o Brasil e outros tantos países pelo mundo. Ela, que chega a escassez para alguns, tem sido a grande vilã na desgraça de outros, justamente por motivo oposto: a abundância. As águas de dezembro e janeiro em nada querem ficar devendo as águas de março, e com toda a força que lhes é permitida pela natureza, despejam sua fúria abundante sobre a terra.

Ela não escolhe aonde, apenas vem e arrasta tudo o que encontra, destruindo violentamente concreto e sonhos. Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro... Um privilégio às avessas da região Sudeste? Por onde passou deixou sua trilha de migalhas, porque são em migalhas que se tornam casas, carros, pontes e vidas... Muitas perdidas antes mesmo de terem a oportunidade de começar.

O pranto de quem perdeu amigos e parentes, confunde-se com o pranto de quem virou “milagre”. Não se têm mais moradia, roupas, sapatos; às vezes se tem vida, outras vezes não. A tragédia força o homem a igualar-se e restaura o princípio basilar onde todos são iguais, independente de cor, raça, credo. Diante do caos, todos são marrons, que é a cor do barro, da lama. Todos professam a mesma fé, que é traduzida na esperança de encontrar vida onde a morte parece reinar.

É tênue o liame entre angustia, incredulidade e o fiapo de sobrevida a que todos tentam se agarrar. Porém é preciso reerguer-se, ignorar o vazio, e como a fênix que ressurge das cinzas, numa nova invenção, ressurgirem das águas barrentas, do meio dos destroços.
E se é certo o provérbio, que de toda a situação vivida se extrai uma lição, que da desgraça de uns, venha lição para outros tantos.

Ricos ou pobres, brancos, negros, católicos, protestantes... É do mesmo sangue que são constituídos e quando a natureza mostra sua fúria, arrancando-lhes os bens mais preciosos, o tudo que levaram anos para construir, não importa o que possuem, onde estão, quem são. Nada importa a não ser se estão vivos ou mortos.

Poderia falar sobre os problemas de infra-estrutura e construção desordenada de casas em encostas e outros erros que influenciaram na dimensão da catástrofe. Poderia. Mas quando se está diante da dor, quando tantas vidas são perdidas, todo o resto é supérfluo e certamente pode esperar. Melhor e necessário é falar sobre a solidariedade, sobre o feixe de luz que ainda permeia os olhos de quem verdadeiramente crê que é possível suportar e superar.

Apenas quem perde sabe o valor daquilo que tinha. Muitos se julgam infelizes, amargam a vida com problemas pequenos, parecem procurar o sofrimento, quando, na verdade, são incapazes de mensurar o quanto são felizes... Mesmo sem saberem. “Se queres conhecer a paz e a serenidade, pensa nos miseráveis que padecem os maiores infortúnios, e acabarás por julgar-te feliz” (S.A.D.).

Valquiria Rigon Volpato - Advogada

Nenhum comentário:

Postar um comentário