"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A busca de sentido nas coisas que se faz


Ao folhear um livro técnico jurídico, me surpreendo, em suas primeiras páginas, com uma inusitada particularidade: um trecho no qual o autor descreve sua busca de sentido em suas ações, relembrando, deste modo, alguns de seus momentos vividos. A noite veio, o frio nada convencional nesta cidade, em um inverno que já enrijece o corpo, demandando que fechemos janelas, para que assim consigamos dele escapar. Esse simples ato de “fechar janelas” na tentativa de manter afastado de nós esse já rigoroso frio noturno, revolve, em minha mente, a imagem e ideia de pessoas – que assim como nós, também seres humanos - que não possuem janelas e portas a serem fechadas, ou quiçá paredes e teto. Tudo isso me fez pensar em qual seria o sentido de ser “mais um” dos eleitores a votar nas próximas eleições, em face à atual distorção da ideia de política, que se altera no limiar dos anos pelas campanhas eleitorais - que mais se parecem com tramas de novelas.

A política, em suas diversas manifestações, que deveria então organizar a vida e o convívio social, atendendo a princípios da legalidade, moralidade, ou eticidade, promovendo, deste modo, a igualdade fática, conseguida, como o dito por Rui Barbosa, pela análise e balanceamento das igualdades e desigualdades, possui atualmente função apenas mantenedora do status quo de determinadas “castas”, ou, mais adequadamente, famílias. Parece que se esquecem, nossos governantes, durante o exercício – para mim considerado um tanto quanto arbitrário – de seus mandatos, o compromisso, não somente eleitoral, assumido perante o depósito do voto na urna, mas também moral, assumido pela simples condição de serem eles também humanos, de que, em situação semelhante, desprovidos das paredes e portas de seus luxuosos palacetes, comprados pelo duro suor de nosso trabalho, sentiriam, assim como os menos favorecidos, esse frio cortante.

Não! Nós, povo, não temos o governo que merecemos! “É chegado o momento de dar um basta na corrupção que se alastra”, diz a frase que ouvimos, bombardeados pela mídia televisiva, e assim, iludidos pelas promessas, aceitas não mais pela ingenuidade ou esperança de modificação, mas já pela completa falha de um sistema político administrativo, em si já corrompido por extensos jogos de interesses ou outras práticas um tanto quanto duvidosas. Praticas essas, apodrecidas já em sua essência, que vêm prejudicar, ainda mais, o nosso já falido sistema.

Às vezes me pergunto se seria isso uma deturpação da condição humana, ou uma questão já absorvida pelo meio social, como o fez Elisa Lucinda em seu poema “Só de sacanagem”, mas, ao me deparar com relatos comovidos, como o feito por Ariete Moulin em seu “A colcha de Piquet”, percebo que não seria essa a questão. Falta sim a humanização da política, que as ações de nossos governantes, sejam por eles vistas não como a mera manutenção ou favorecimento de seus próprios interesses, mas como uma ação que vincula e influi na vida de milhares, milhões e até bilhões de pessoas, e, portanto, responsável pelo destino de grandes cifras de seres humanos.

Que bom seria, - quase que uma bela utopia - se administradores públicos tomassem consciência desse frio, e em uma alusão ao grande filósofo alemão Immanuel Kant, vissem suas ações como um imperativo categórico, onde somente se deve agir de tal maneira, se se pode aceitar que tal modo de agir se torne universal, sem prejuízo à ninguém. Que eles não precisem sentir este frio para sabê-lo.

(Vinícius Stanzani Longo)

Um comentário:

  1. Esse é mais um texto típico daqueles que se vêem em jornais e revistas, "a culpa é sempre do político!"

    Será que é tão difícil ver que a base da pirâmide (o povo) é o sustento de toda econômia, e o maior poder da nação. Podendo derrubar líderes e mudar a história - bem, isso já não se faz mais!- como se fazia a vinte ou trinta anos atrás.

    Isso revolta! Quanto mais ignorante é o povo, mais manipulável ele é! E, se você não pensa, alguém pensa por você! Podemos notar que essa decisão - de beneficiar a sí, e que se fodam os outros - é no mínimo burra, pois eles criam um chiqueiro (desigualdeda, assaltos, sequestros...) onde são obrigados a viver.

    Então, se o político não ficar com o botão "foda-se" ligado o tempo todo, ele precisará de um estômago muito forte (pior que eles têm!).

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