"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:"Eu sou lá de Cachoeiro..."

(Rubem Braga)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Chegou o carnaval

Chegou o carnaval! Aquele último feriado prolongado antes do ano efetivamente começar. Até o carnaval todo mundo ainda está meio “molengão”, em ritmo de férias. Calor insuportável em Cachoeiro... Marataízes é logo ali. Cidade quase vazia, porque existem aqueles que, ao contrário do pessoal que arrumou as malas e foi para praia curtir o carnaval na “pipoca do trio elétrico”, ficam por aqui e fazem sua própria festa, com samba enredo e tudo mais. Na última semana, por exemplo, teve gente que saiu na frente, mostrando-se preparado para um carnaval bastante regional. O pessoal do legislativo municipal (talvez melhor dizer vereador em outro exercício (?!)) divulgou um novíssimo (será?) samba enredo: O “Racha de tíquete”, também carinhosamente apelidado de Rachid. A letra é fácil e quem tiver um pouquinho de jogo de cintura vai se divertir muito com essa obra prima carnavalesca. A história desse samba é recente, começou em outubro de 2008 no pavilhão-eleição. Muita gente foi às ruas para dar uma conferida nos ensaios, ver quem compunha a bateria, quem seria o casal mestre-sala e porta-bandeira... E de lá pra cá o que se viu foi uma galera “castigando o tamborim”. Para o carnaval deste ano, os preparativos foram intensos. Foi preciso chamar mais gente para ajudar na composição da escola, afinal, quem queria desfilar sem assessoria? Mais integrantes chegando, é claro que só podia acabar em samba... A propósito, lembrei-me do Auto da Lusitânia, de Gil Vicente, que li dia desses em “A Palavra Mágica”, livro que reúne algumas das composições de Carlos Drummond de Andrade, sob o título de “Todo Mundo e Ninguém”. Diz assim: Ninguém: Me diz teu nome primeiro. Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo e passo o dia e o ano inteiro correndo atrás de dinheiro, seja limpo ou seja imundo. Belzebu: Vale a pena dar ciência e anotar isto bem, por ser fato verdadeiro: Que Ninguém tem consciência, e Todo Mundo, dinheiro [...]. Ninguém: E que mais procuras, hem?Todo Mundo: Procuro poder e glória. Ninguém: Eu cá não vou nessa história. Só quero virtude... Amém. Belzebu: Mas o papai não se ilude e traça: Livro Segundo: Busca o poder Todo Mundo e Ninguém busca virtude [...]. Ninguém: Que mais, bicho? Todo Mundo:Bajular. Ninguém: Eu cá não jogo confete. Belzebu: Três mais quatro igual a sete. O programa sai do ar. Lero lero lero lero, curro paco paco paco. Tudo Mundo é puxa-saco e Ninguém quer ser sincero. Importante é que o carnaval tem dias contados. Na quarta-feira de cinzas tudo volta ao normal. Uns vão pedir perdão (outros não). A letra do samba já começa a ser esquecida: já é hora de começar uma nova composição, ainda que para alguns seja carnaval o ano inteiro... Curioso, mas outra vez Carlos Drummond povoa o pensamento. Depois de Todo Mundo e Ninguém serem avaliados por Belzebu (depois do furdunço, será que ainda vão lembrar do samba do Rachid?). Eu pergunto: E agora, José?

(Valquiria Rigon Volpato - Advogada)

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