Estou cansado. Enquanto jovem não me cansava da loucura, euforia das noites banhadas pelo doce sabor das bebidas. Um uísque a mais, com ou sem gelo, tanto fazia, a mágica estava em ir além antes do amanhecer.
Passou o tempo. Despedi-me da noite, cumprimentei o dia. Sinto-me inútil, estático. A vida escapa entre os dedos qual água ligeira entre margens. E o que faço? Fico aqui, quieto, cheirando a mofo, morrendo aos poucos. Se por alguns instantes permito que o pensamento voe, logo o peso do corpo sofrido o traz ao chão.
Sou resto daquilo que fui, lembrança do que tive, saudade do que era. Tenho uma janela diante da solidão e é só.
Vejo tudo, ouço alguma coisa e não digo nada. Recolhi-me no silêncio dos pensamentos e abracei a dor que está em mim.
No colo da saudade é impossível conter as lágrimas. Sou ancião na pele enrugada, não aprendi a envelhecer. Já fui rosa exuberante no jardim, agora sou galho seco recoberto por espinhos. Sei que a morte é destino certo, não a enfrento, aguardo que venha e me leve.
Rogo para que o tempo seja benevolente fazendo-me esquecer da vida. Que a tarde eu não lembre daquilo que vi pela manhã, para assim dopar a tristeza e enganar-me até o fim.
Valquiria Rigon Volpato
2008
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